A eléctrica propõe comprar os 22,5% que ainda não detém na EDP Renováveis. Oferece 6,80 euros por cada acção, o que implica um investimento máximo de 1,33 mil milhões de euros, caso a aceitação da oferta seja de 100% ou caso haja posterior oferta potestativa, se a EDP ficar com mais de 90% da Renováveis.
A contrapartida de 6,80 euros corresponde a um prémio de 8,5% face à cotação de fecho das acções na segunda-feira, 27 de Março, (6,267 euros),
último valor de referência antes do anúncio preliminar do lançamento da oferta. Face à média da cotação dos seis meses anteriores, o prémio é de 10,5%. Fica, ainda assim, longe dos oito euros a que os títulos foram vendidos na OPV de 2008.
A contrapartida pode ser revista?
Sim. A lei permite que a contrapartida possa ser revista, em favor dos investidores que são o alvo da oferta. Mas os analistas que se pronunciaram ontem, já após o anúncio preliminar, acreditam que não haverá uma revisão em alta. No entanto, a EDP já fez saber que reduzirá o valor de 6,8 euros se o pagamento de dividendo da Renováveis, que está previsto para cinco cêntimos, for entretanto pago. A Bloomberg aponta para Maio como o mês de pagamento do dividendo. O que significa que a contrapartida ficaria nos 6,75 euros. Segundo o anúncio da EDP, a dedução do dividendo ao preço far-se-á "a partir do momento em que o direito ao montante em questão tenha sido destacado das acções e se esse momento ocorrer antes da liquidação financeira da oferta". Ou seja, dentro do que é previsível, o valor final será mesmo os 6,75 euros por título. As acções fecharam ontem em forte alta de 10,1%, fechando acima do valor da oferta, nos 6,9 euros, e chegando mesmo a transaccionar nos 6,973 euros, indiciando que há investidores a acreditar na subida do preço.
Qual o objectivo da operação?
Ao comprar a Renováveis, a EDP quer "reforçar a aposta como líder na actividade de produção de energia através de fontes renováveis e continuar a apostar no crescimento do negócio e actividade da EDP Renováveis". Esta operação deverá também permitir aumentar a sua exposição à "actividade desenvolvida pela EDP Renováveis, com o intuito de beneficiar em maior escala do crescimento atractivo das energias renováveis". O grupo liderado por António Mexia diz ainda que quer "simplificar o 'equity story' da oferente [EDP], integrando um dos seus principais veículos de crescimento". Ou seja, a EDP quer captar directamente o investimento que, actualmente, se reparte entre si e a EDP Renováveis, apresentando-se aos mercados como um colosso integrado com 100% de uma grande operação de renováveis.
A EDP Renováveis vai sair de bolsa?
A EDP assume que quer retirar a EDP Renováveis de bolsa, mas salienta que a OPA não está condicionada a qualquer resultado. Basta que a EDP compre uma única acção para formalmente a OPA ser um sucesso, embora o objectivo seja de consolidar integralmente a Renováveis. O banco de investimento Haitong alerta para que a EDP, caso não avance com a retirada de bolsa, adopte "uma postura de esperar para ver, secando a liquidez da acção". Isto tenderia a penalizar os investidores resistentes à oferta e a depreciar os títulos, que a EDP poderia vir a comprar, passados os prazos legais de impedimento, por menos dinheiro.
Como se poderá fazer essa saída?
A EDP precisa de comprar no mercado pouco mais de 108 milhões de acções para atingir os 90% do capital da Renováveis. Se o conseguir, lançará uma oferta potestativa sobre os 10% restantes - ao mesmo preço da OPA voluntária agora anunciada e que não poderá ser recusada pelos detentores das acções - e retira a EDP Renováveis da bolsa de Lisboa.
Como será financiada a OPA voluntária?
A compra da Renováveis será financiada com o dinheiro proveniente da venda da espanhola Naturgas, um negócio avaliado em 2,6 mil milhões de euros.
Quando deverá terminar a oferta?
A EDP prevê que a operação esteja concluída entre fim do segundo trimestre e o início do terceiro trimestre de 2017.
Até agora, o que existe é o anúncio preliminar de OPA. A eléctrica liderada por António Mexia tem agora 20 dias para fazer o pedido de registo da oferta junto da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. Ao mesmo tempo segue também o projecto de prospecto e o projecto do anúncio de lançamento para a administração da Renováveis. Esta terá oito dias, a partir do momento em que recebe a documentação, para se pronunciar sobre a oportunidade e condições da oferta (nomeadamente se o preço avalia correctamente a empresa). O registo pela CMVM determina o período em que a oferta estará efectivamente no mercado.
O que dizem os analistas?
Os analistas fazem uma avaliação superior da empresa de energias renováveis. Os 17 analistas que avaliaram a EDP Renováveis nos últimos três meses atribuem-lhe um preço-alvo médio de 7,10 euros, o que se situa 4% acima do preço da OPA da EDP. De referir que, habitualmente, os preços-alvo não significam necessariamente que o analista considera que a acção vale aquilo neste momento, mas que valerá no futuro (normalmente até um ano após a difusão do 'price-target'). Apesar desta diferença de avaliações, o Haitong considera difícil que a contrapartida seja revista. "Em ocasiões anteriores [como no caso da ENEL] não houve revisões de preços, mesmo pagando desde o início um prémio muito pequeno". Por isso, alertam os analistas, "a probabilidade de a EDP ser forçada a rever em alta a oferta não é significativa, já que pode optar por uma postura de esperar para ver". Já o BPI considera que "a EDP está a tirar partido do falhanço do mercado em reconhecer o potencial de subida da Renováveis e do recente desempenho [das acções] devido aos receios de alterações significativas na política de energias limpas dos EUA", afirmam os analistas Gonzalo Sánchez-Bordona e Flora Trindade.