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Bruno de Carvalho: "O Sporting pagava comissões de tudo!"

Clube gastou 45 milhões em compras em dois anos, com comissões de 15 milhões. O normal teria sido um terço, diz em entrevista ao Negócios o presidente do SCP.

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Quanto gastou o Sporting em aquisições e comissões nos últimos anos?

Eu tentei alertar durante muito tempo: logo no primeiro ano da antiga direcção, em que o Sporting faz um investimento de cerca de 24 milhões, como é que havia 11 milhões em comissões?! Perguntei isto várias vezes e nunca foi interessante para ninguém esta temática. Era um assunto que não motivava as pessoas a pensar...

Está a ironizar.

Chegámos à conclusão que temos cerca de 40 a 45 milhões em compras nos últimos dois anos, com comissões que rondarão os 15 milhões, não incluídas no custo do jogador. Provavelmente isto acontece em todos os clubes e se calhar noutras dimensões. Era uma coisa que gostava de ver no futebol português, essa transparência e rigor a ser exigida aos restantes clubes. Era interessante os associados e accionistas perceberem o que se vai passando no seu próprio clube.

Mas consegue perceber o que se passa nos outros clubes?

Não sei o que é a realidade dos outros clubes, mas provavelmente era tudo igual. O Sporting pagava comissões de tudo! Se fazia compras ainda pagava adicionalmente uma comissão, se fazia vendas – e aí faz todo o sentido – pagava uma comissão, muitas vezes também poderia pagar uma comissão sobre os próprios ordenados. E é fácil perceber que essa é uma das causas que faz com que vários clubes estejam na situação financeira em que estão. Nós todos, para podermos fazer uma boa figura a nível europeu, tivemos necessidade de chegar a salários elevados para atrair bons jogadores. Se somando a isso, ainda tivermos de pagar todas estas comissões... os clubes estão todos num estado lastimável. Isto é evidente para todos e essa é uma das causas. Vê-se nestes valores de comissões como, apesar de o Sporting ter a nível financeiro definhado, a uma série de entidades aconteceu exactamente o oposto.

Os clubes rivais do Sporting continuam a ter sucesso desportivo e receitas compatíveis com o investimento que fazem no futebol.

Para lhe responder a isso, tínhamos de estar de acordo sobre o que quer dizer "receitas compatíveis com a sua performance desportiva". Eu pergunto o seguinte: li que um clube em 10 anos fez 500 milhões em vendas...

O Futebol Clube do Porto.

... então esse clube não devia ter passivo nenhum. Devia estar numa situação financeira muitíssimo confortável… e não é a realidade de nenhum dos três grandes. Há realmente clubes que conseguem uma receita muito grande. Se são clubes que historicamente até avançam na Liga dos Campeões; se são clubes que, por época, podem fazer 60, 70, 100 milhões de vendas; e esse clubes estão em situações de passivo similares à que nós estávamos, então se calhar se nós pegarmos nessas vendas e virmos o que fica nos clubes, veremos que este ano o Sporting fez a nível de receita real para o clube um valor superior...

Para onde vai o dinheiro?

É essa a situação. Qual é a percentagem dos jogadores, qual é o nível de comissões pagas, de quem é, de facto, o benefício do jogador? Se calhar posso fazer uma venda de 500 milhões e ficar com uma receita para o clube de 10 milhões. Ou fazer uma venda de 20 milhões e ficar para o clube 15 milhões. Parece-me que há clubes que têm passivos grandes para aquilo que são as suas receitas. Se calhar é preciso regulamentar tudo isto, dar transparência, para as pessoas tentarem perceber quem é quem, qual é o jogador, que acordos há com os fundos, com os agentes, e quem é que usufrui dos milhões todos de vendas e compras que se vão fazendo.

Se o Sporting gastou 45 milhões em jogadores e pagou 15 milhões em comissões, isso é mais de 30%.

Quando o normal de uma comissão seria 10%.

Isso quer dizer que o Sporting estava refém dos agentes e dos fundos?

Quando nós não estamos fortes, não somos respeitados, quando nós próprios somos um conjunto de debilidades e fragilidades, é muito mais fácil sermos reféns de pessoas que podem trazer soluções "milagrosas" para o clube. E o que veio a verificar-se é que o Sporting continuou debilitado, frágil e as situações "milagrosas" foram acontecendo, não para o clube mas se calhar para algumas dessas pessoas. Em sentido figurado, podemos dizer que o Sporting estaria refém da sua própria debilidade, fragilidade e falta de visão de futuro.

 
"O perfil de gestor do Sporting estava errado"

Para Bruno de Carvalho, a gestão do Sporting no passado teve um problema de perfil: "já está mais do que evidente que o perfil do gestor apontado para o Sporting estava perfeitamente errado, porque o perfil do gestor que tem de estar apontado para o Sporting é o de alguém que conheça o Sporting como clube, como entidade, como adepto, como sócio, como accionista, que viva o Sporting, que saiba identificar qual a realidade dos seus adeptos".

 

Sobre o que mudou consigo à frente do clube, foi claro: "não vou ser hipócrita, além de termos deixado claro o que é queríamos para o futebol, é lógico que a capacidade de liderança é evidente e óbvia e tem ajudado".

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