Notícia
Otmar Issing: "Estamos a dar passos que farão colapsar o euro" (act.)
Antigo "falcão" do BCE e "mentor" de Vítor Gaspar lembra que sempre defendeu uma união política para acompanhar o euro. Mas o que está a ser construído é uma "união de dívida" que se, no passado, gerou guerras, ameaça agora o euro e a própria União Europeia.
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Conhecido pelas posições ultra-ortodoxas que defendeu no BCE – de que foi o primeiro economista-chefe – Issing frisa que uma união política construída sob a força das circunstâncias que, em nome da salvação do euro, premeia países que “quebraram as regras” e, em contrapartida, lhes exige cedência de soberania é, na verdade, uma “união de dívida”, que não nasce da vontade nem tem escrutínio democrático, estando, por tal, condenada ao fracasso.
O economista alemão critica a devassa da independência do BCE (que está de novo a comprar, e em força, dívida soberana para tentar travar o contágio da crise) e as decisões tomadas na última cimeira do euro, que deu luz verde para que o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) passe a comprar dívida no mercado secundário e conceder linhas de crédito de emergência aos Estados que não consigam financiar-se junto dos investidores.
Em sua opinião, estas decisões são a antecâmara da emissão conjunta de dívida pública (os "eurobonds") que está a surgir pelas piores razões. “A falta de disciplina orçamental é premiada, ao passo que a solidez orçamental é punida”, assevera Issing, antecipando que alguns países – nunca se refere explicitamente à Alemanha natal – vão passar a pagar juros mais altos na emissão de obrigações europeias, só para que os mal comportados paguem menos.
A rigor, acusa, o que se está a fazer é caminhar para uma transferência da responsabilidade orçamental para os países (e seus contribuintes) que estão a cumprir as regras de boa gestão, sujeitando-os à possibilidade de terem de pagar mais impostos para pagar erros de Governos que não elegeram.
Está a violar-se, diz, o princípio de não se pode cobrar impostos a quem não tem capacidade de fazer escolhas (“no taxation without representation”). E isso tenderá a ser fatal para o euro e para a UE, adverte.