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Islândia: Dos dias negros de 2008 à surpreendente recuperação económica
Em Outubro de 2008, a situação na Islândia era "crítica". Os três maiores bancos do país tinham colapsado. O sentimento de medo e choque era "palpável". E o nível de incerteza era "enorme". "Mais de três anos passados, vale a pena reflectir sobre o caminho percorrido por este país desde os dias negros de 2008."
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O chefe da missão do FMI lembra ainda que quando chegou à capital do país, Reykjavik, em Outubro de 2008, a "situação era crítica". "Os três maiores bancos do país – que representam quase todo o sistema financeiro – tinham colapsado. A sensação de medo e choque era palpável – poucos países, se é que algum, passou alguma vez por um crash económico tão catastrófico", recorda Poul Thomsen.
"Hoje [Outubro de 2011], três anos passados, vale a pena reflectir sobre o caminho da Islândia – um país com 320 mil pessoas – desde esses dias negros de 2008. O crescimento económico regressou e foram criados novos postos de trabalho – apesar de ter uma taxa de desemprego inaceitavelmente elevada para um país que estave próximo do pleno emprego, esta já caiu para níveis abaixo dos 7%. Em Junho [de 2011], o país regressou aos mercados internacionais ao emitir mil milhões de dólares de obrigações".
Islândia: Um exemplo a seguir
Cerca de nove meses e meio passados desde que Poul Thomsen escreveu este documento, foi agora

"A Islândia fez progressos significativos desde a crise", disse Daria V. Zakharova numa entrevista concedida ontem à Bloomberg. Entre os progressos registados pelo país, Zakharova destaca a capacidade que a Islândia teve de "preservar o Estado social ao mesmo tempo que enfrentava uma importante consolidação orçamental".
A chefe da missão do FMI sublinha que "cada programa é diferente e responde a uma situação diferente, não podendo ser, directamente, comparados". Ainda assim, tendo em conta a profundidade da crise que o país viveu em 2008, a sua recuperação é "impressionante", destaca Zakharova.
A Islândia terminou o programa do FMI em Agosto de 2011. As previsões do fundo indicam que a economia vai crescer 2,4% em 2012 impulsionada, essencialmente, pelo "consumo privado e pelo forte aumento do investimento".
Mas o que tornou a Islândia num caso de sucesso?
A base do sucesso deste país de 320 mil habitantes reside, segundo o FMI, no compromisso das autoridades islandesas em implementar o programa definido pelo fundo. Mas à sua maneira. Um dos principais objectivos do governo passou por proteger o Estado social do país e isso foi conseguido, sublinha Poul Thomsen.
Além disso, o executivo recusou sempre proteger os credores dos bancos que colapsaram em 2008 – e cujas dívidas superavam 10 vezes o valor da economia.
Thomsen recorda que o plano acordado – em tempo recorde – com as autoridades islandesas tinha três elementos importantes:
1.Foi reunido um grupo de advogados, que tinham como objectivo estudar a melhor maneira de evitar que os prejuízos dos bancos fossem suportados pelo sector público.
2.O objectivo inicial do programa era estabilizar a taxa de câmbio. Neste caso, foram tomadas medidas não convencionais, como o controlo de capitais.
3.Os estabilizadores automáticos puderem operar por completo no primeiro ano do programa, adiando, assim, o ajustamento orçamental.
Os desafios que se seguem
Um dos desafios mais importantes que o país enfrenta neste momento é “o fim do controlo de capitais". "E esta não é uma tarefa fácil", admite Daria V. Zakharova.
Mas a Islândia, prossegue Zakharova, precisa de mostrar que consegue reduzir o controlo de capitais de forma bem-sucedida. "O Estado já recuperou o acesso aos mercados de capitais internacionais e a limpeza dos balanços dos bancos está a correr bem. Assim, é importante seguir em frente para que os ganhos sejam sustentáveis e consolidados", diz a chefe da missão do FMI.
Para proteger a moeda do país de uma eventual queda provocada pela redução do controlo de capitais – e controlar a taxa de inflação do país - o banco central já aumentou a taxa de juro do país por cinco vezes desde Agosto de 2011 para os 5,5%.
"As baixas taxas de juro e as poucas oportunidades de investimento devido ao controlo de capitais têm um impacto negativo nas poupanças. Considero que o crescimento económico baseado apenas nos gastos dos consumidores não é sustentável no longo prazo", afirmou recentemente um

"Entre a democracia e os interesses financeiros temos de escolher a democracia"
Numa entrevista concedida ao Negócios a 19 de Maio de 2010, o presidente da Islândia, Ólafur Grímsson (na foto), defendeu a necessidade de "restabelecer o devido papel do Estado na regulação do sistema financeiro e na actividade económica". "A Islândia ilustra que no seio da Europa houve uma falha fundamental dos mecanismos institucionais. Temos um mercado financeiros pan-europeu sem um mecanismo de regulação pan-europeu", afirmou Grímsson.
Nesta entrevista, o presidente da Islância lamentou que "quer na Europa, quer nos Estados Unidos, o grande espírito de avançar com reformas profundas no sistema financeiro retrocedeu".
E garantiu "entre a democracia e os interesses financeiros temos de escolher a democracia", referindo-se ao caso do banco Icesave. Neste caso, Grímsson vetou o acordo de indemnização ao Reino Unido e à Holanda referente às perdas da sucursal online de um banco islandês e, em referendo, a população apoiou a sua decisão.