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Draghi pressiona reformas no melhor momento da Zona Euro em sete anos
O presidente do BCE defende que a convergência dentro da Zona Euro depende crucialmente da implementação de reformas estruturais. A recuperação cíclica permitida pela política monetária de Frankfurt, cria "condições quase perfeitas" para os governos mostrarem mais ambição.
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Num dos mais importantes discursos do ano de Mario Draghi, o de abertura da conferência internacional que ele próprio criou no ano passado, e que decorre em Sintra até sábado, a importância das reformas estruturais na Europa ocupou os cerca de 30 minutos da sua intervenção na manhã de sexta-feira, 22 de Maio. Para o presidente do BCE não há desculpas: o estímulo que o BCE está implementar necessita e incentiva a implementação de reformas pelos governos, preferencialmente de forma coordenada: "se todos os países reformarem em conjunto, então todos os países beneficiarão mais", defendeu.
"As perspectivas económicas da Zona Euro são hoje mais positivas do que nos últimos sete longos anos. A política monetária está a encontrar o seu caminho através da economia. O crescimento está a recuperar. E as expectativas de inflação recuperaram dos seus mínimos", afirmou Draghi, para acrescentar logo de seguida que "isto não é o fim dos nossos desafios", pois "a recuperação cíclica" não garante o desempenho de longo prazo necessário para baixar o excesso de dívida em alguns países, nem para baixar o desemprego estrutural. Para isso são necessárias reformas estruturais. E é isso que as actuais condições mais favoráveis da Europa ajudam e convocam, defende.
"O que a recuperação cíclica [em curso] garante são condições quase perfeitas para os governos se envolverem de forma mais sistemática nas reformas estruturais que funcionarão como âncora para o retorno ao crescimento. A política monetária pode tentar levar a economia de volta ao potencial. A reforma estrutural pode aumentar o seu potencial. E é a combinação destas políticas de procura e oferta que irão entregar prosperidade e estabilidade duradoura", afirmou o presidente do BCE, que não se poupou nem na defesa da importância das reformas estruturais, nem na caracterização da dimensão do desafio na Europa.
O crescimento potencial está em torno de 1% na Europa, metade do norte-americano, sublinhou. E com este nível de crescimento o futuro da Zona Euro parece negro: "isto significaria que uma parte importante das perdas económicas na crise se tornaria permanente, com um desemprego estrutural acima de 10% e desemprego jovem elevado. E também tornaria mais difícil lidar com o excesso de dívida em alguns países", avisou.
Para Draghi a solução para inverter este cenário está nas reformas estruturais e nos ganhos significativos que podem oferecer: "As reformas estruturais não são sobre criar eficiências menores ou ganhos marginais. São sobre libertar um potencial desaproveitado para um produto, emprego e bem-estar substancialmente maiores". Com as políticas correctas, o PIB per capita na Zona Euro poderia aumentar 11% numa década, defendeu com base num estudo da OCDE (os EUA beneficiam apenas de 5%).
A importância da credibilidade
Para o sucesso da estratégia de reforma, o presidente do BCE sublinhou a importância da credibilidade das políticas - "depois de sete anos de crise marcados por várias falsas madrugadas, as empresas e as famílias tornaram-se mais hesitantes em assumir o risco económico" – para que empresas e famílias confiem num futuro melhor. Se assim for, então poderão começar já a adaptar o seu comportamento com mais investimento e consumo, o que aumentaria a eficácia da política monetária.
Entre as reformas que o presidente do BCE defendeu como importantes estão as que garantem flexibilidade na transferência de recursos para sectores mais produtivos, e também as que melhoram o funcionamento de sectores da economia que poderiam beneficiar de uma retoma mais forte da procura após a crise, como o caso dos serviços. Para Draghi, a flexibilidade laboral é também importante, nomeadamente como forma de permitir que ajustamentos salariais evitem perdas de empregos. Mas não é apenas a flexibilidade que está em causa acrescentou: apoios à procura de empregos, aposta na requalificação, incentivos à difusão de tecnologia são igualmente essenciais, e redução de burocracia são também essenciais.
A Europa tem de voltar a convergir
Num discurso em que em nenhum momento se referiu à importância do apoio da política orçamental aos estímulos monetários – um tema que referiu no passado e que foi destacado no dia anterior por Stanley Fischer, número dois da Reserva Federal – Mario Draghi coloca os holofotes nas reformas na Europa. Só elas garantirão a convergência de longo prazo dentro da união, condição essencial à sua sobrevivência, avisou.
"Como qualquer união política, a coesão da Zona Euro depende do facto de cada país estar permanentemente melhor dentro da união do que fora dela. A convergência é por isso essencial para manter a união, enquanto uma permanente divergência causada por uma heterogeneidade estrutural tem o efeito contrário", afirmou, defendendo que é por isso que o BCE tem pedido "uma 'governance' comum mais forte de reformas estruturais", explicou no II Fórum do BCE sobre Banca Central.