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"Vontade de mudança", diz António Costa. "Um dia tristemente histórico", diz Nuno Magalhães
A eleição do presidente da Assembleia da República, segundo figura do Estado, foi o primeiro braço de ferro entre a direita e a esquerda no Parlamento. A direita saiu derrotada.
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"A Assembleia da República expressou de forma inequívoca a maioria da vontade dos portugueses para que esta 13ª legislatura seja marcada desde o início pela mudança", afirmou esta sexta-feira, 23 de Outubro, o líder socialista no Parlamento.
António Costa falava na sequência da eleição de Eduardo Ferro Rodrigues para a presidência do Parlamento, naquela que foi a primeira prova de força da esquerda face ao governo minoritário da direita que o Presidente da República anunciou quinta-feira à noite.
Ferro Rodrigues foi eleito com 120 votos, o que significa que apenas dois deputados de entre os que compõem as bancadas do PS, do PCP e do BE não votaram nele. Uma contabilidade importante até porque permite já antecipar, de alguma forma, o que vai acontecer no Parlamento daqui para a frente, mesmo perante um PS em que continua a haver vozes discordantes quanto ao caminho a tomar.
António Costa não passou ao lado desse tema: "É muito importante que esta primeira votação tenha sido feita por voto secreto. É uma votação que assegura a mais pura liberdade", disse, acrescentando que "não há disciplina de voto, há consciência e liberdade no momento do voto, que depende só da vontade de cada um".
Dirigindo-se a Fernando Negrão, o perdedor desta eleição no Parlamento, Costa salientou ainda que "em democracia o mérito não se apura pelo resultado dos votos", mas sim pela "qualidade, a convicção e dignidade com que cada um trata o combate político". "Prezamos muito a nossa liberdade, que não é manipulável por qualquer força que queira bloquear a mudança que os portugueses votaram", afirmou ainda, numa clara alusão ao discurso de Cavaco Silva.
"Quebrou-se uma regra com 40 anos"
À direita, Ferro Rodrigues não foi claramente recebido com o mesmo entusiasmo. Foi evidente a clivagem entre esquerda e direita e Nuno Magalhães, do CDS-PP, resumiu o espírito nas duas bancadas: "Este é um dia tristemente histórico".
Tanto o CDS como o PSD insistiram que acabou de se "quebrar uma tradição de 40 anos", segundo a qual preside ao Parlamento o deputado indicado pela força que ganhou as eleições. Nuno Magalhães deu mesmo o exemplo de Jaime Gama, que "obteve 204 votos em 230" numa legislatura quem que o PS era minoritário no Parlamento.
"Entendemos este facto como um facto negativo e sabemos ler a motivações de quem está disponível para quebrar regras e tradições", afirmou, rematando para ferro Rodrigues: "Não estou certo de que vestiu o fato de presidente da AR".
Montenegro, que interviera poucos minutos antes, lamentou também a eleição de Ferro "em confronto" com a regra habitual. "Em democracia, quando há eleições, quem tem mais votos ganha e quem tem menos votos perde, e constitui-se como oposição", prosseguiu.
"Estamos a iniciar uma legislatura de grande exigência e complexidade" e "os tempos que nos esperam não são tempos fáceis", prosseguiu Montenegro, salientando que "cabe a todos nós a responsabilidade de aceitar a decisão do povo soberano que expressou a sua vontade nas ultimas eleições". E o povo, afirmou, "escolheu o programa da coligação para servir de base à acção governativa".
"O povo também fez uma outra escolha. Escolheu Pedro Passos Coelho para ser primeiro-ministro e liderar o governo. E atribuiu a todos a responsabilidade de não estragarmos tudo aquilo que fomos capazes de conquistar nos últimos anos. Respeite-se a vontade do povo", rematou.