Notícia
Alemanha e França em braço de ferro por legado financeiro de Londres
Longe está o Brexit de consumado, mas já começou a luta pelo que poderá sair de Londres para a Zona Euro. França e Alemanha estão em guerra aberta pela Câmara de Compensação de derivados em euros, de olho no título de novo centro financeiro da Europa.
- 4
- ...
O Brexit venceu o referendo do dia 23 de Junho e, desde então, os efeitos multiplicam-se. Desde o impacto nos mercados, às consequências económicas no curto e médio prazo, nem as jóias financeiras da coroa britânica ficam imunes. O artigo 50 do Tratado de Lisboa ainda não foi accionado, mas França e Alemanha já estão em braço de ferro para ficar com parte do legado financeiro da City.
Em causa está a Câmara de Compensação, mais conhecida como centro de "clearing", de derivados denominados em euros. No passado, o próprio Banco Central Europeu quis forçar a que esta fosse realocada num país da Zona Euro, acabando derrotado por um tribunal da União Europeia. Com o voto para saída do Reino Unido da União Europeia, França e Alemanha não perderam tempo e tentam, agora, conquistar o privilégio.
"Espero que o mercado financeiro europeu esteja pronto para as operações que já não serão possíveis no Reino Unido", disse François Hollande. Citado pela Bloomberg, terá ainda acrescentado que a Câmara de Compensação de derivados em euros deve estar num país da Zona Euro, como é o caso de França.
Declarações que mereceram uma resposta quase imediata da Alemanha. "Parece um pensamento ilusório da parte de Hollande, que este mercado será transferido para Paris", disse um vice-líder do partido CDU de Angela Merkel. "Poderá também ir para Frankfurt", atirou o responsável em entrevista, defendendo-se com a sede do BCE e da Eurex, a bolsa de derivados da Deutsche Börse.
Tanto França como Alemanha abriram, assim, guerra por uma das jóias financeiras britânicas. E não é razão para menos. É que a Câmara de Compensação é um dos elementos estruturais dos mercados financeiros, atraindo outros serviços, como é o caso da gestão de colaterais, serviços jurídicos e "trading". Por isso, não se trata apenas de reclamar o serviço de "clearing" britânico, mas sim conquistar o título de centro financeiro da Europa.