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Os turistas que se passeiam pelas ruas estreitas vão entrando e saindo do estabelecimento. O rodopio é grande. No Verão, conta o sócio-gerente, chegam a receber 2.500 pessoas nas duas pastelarias, a sede, onde nos encontramos, e a Piriquita 2, que fica a escassos metros no topo da rua. "No inverno (puff), se atender 300 ou 400 pessoas [por dia] já é
eu vivia do nacional, agora vive-se mais
do turismo. Há mais turistas, mas não
há tanto poder
de compra.
Sócio-gerente da Piriquita
A sazonalidade é um dos maiores desafios da Piriquita, capaz de facturar "de cinco a seis mil euros" por dia no Verão, um valor que recua para cerca de mil euros/dia quando o tempo esfria. "A gente no Inverno está sempre à espera do fim-de-semana", explica Fernando.
Aqui trabalham 45 pessoas, família incluída. "A vantagem que temos é que cada um sabe o que tem de fazer. São autónomos e são uma grande ajuda, mas isso leva anos a formar", salienta Fernando. Que o diga Maria Leonor Cunha, a matriarca, agora com 83 anos, que se mantém na fábrica, sozinha, enquanto os pasteleiros fazem a pausa do almoço. Leva 60 anos de trabalho aqui. "Ela não se sente como sentia há seis ou sete anos, mas gosta de estar ali [na fábrica]. É uma pessoa que já tem muita experiência de vida, e que ensina muito e que eles [pasteleiros] respeitam", conta Fernando.
A Piriquita "está na génese" desta família. "Estamos envolvidos nisto como se fosse hoje que tivéssemos criado um negócio novo", assume. É olhando para o futuro que termina esta conversa: "O objectivo é manter esta qualidade, isso é ponto marcante. Depois, é estudar a viabilidade de alargarmos os nossos horizontes, mas com os pés bem assentes na terra", diz Fernando. Exportar? "Para já não", mas é preciso crescer "porque o Inverno aqui [em Sintra] é muito comprido" e é preciso "alguma margem de manobra", adianta.
Entretanto, na fábrica, os pasteleiros estão de regresso e tudo voltou ao ritmo normal. Há já terrinas de doce de ovos à espera que a massa dos Travesseiros fique pronta. Em cima da bancada estão uns Pastéis da Cruz Alta, que somos convidados a provar. Afinal, a Piriquita não são só Travesseiros e Queijadas de Sintra. Fernando bem o sabe, o seu bolo favorito é a Noz Dourada, uma pequena mas intensa iguaria que serviu de ponto de partida para esta conversa, e quem sabe, para muitas mais.
Era "fundamental ir alguém" de Sintra para Cascais
"A ideia foi irmos para Cascais para defendermos um pouco o Inverno daqui [de Sintra], para podermos ter alguma margem de manobra. Cometemos um erro: não foi ninguém de Sintra, com a experiência da loja de Sintra, para Cascais", conta Fernando Cunha.
O "corner Piriquita"
Está a ser negociada entre as partes do negócio em Cascais um novo modelo de parceria, que poderá passar pela Piriquita "sair da sociedade", mas continuar a fornecer o novo estabelecimento "como revenda" e ter um "corner Piriquita" a vender os bolos da marca sintrense.
Avançar "por nós"
"Embora tenhamos muitos pedidos de franchising, neste momento, com a experiência de Cascais, estamos a reflectir sobre o que iremos fazer no futuro", conta Fernando, Cunha, adiantando que o fundamental é "manter a qualidade". A ideia é "repensar toda esta estratégia" e avançar "por nós", diz o sócio-gerente. "Temos de ter alguém sempre presente, o que não foi o caso [em Cascais], mas eu faço ‘mea culpa’".
E montar uma fábrica maior noutro sítio?
"Não dá, as pessoas gostam de comer o Travesseiro quentinho aqui", diz Fernando. "A nossa fábrica é aqui, é pequena, e a gente não quer sair daqui", adianta, dando voz a uma tradição que já leva 165 anos e vai na sétima geração. Tudo começou com Constância Gomes, apelidada de Piriquita pelo rei D. Carlos, que costumava comprar o pão na sua padaria e a quem Sua Majestade deu a receita das queijadas.