Provavelmente esta opinião não será politicamente correta. Mas fazer de conta que os factos não existem não é intelectualmente saudável nem honesto. O Parlamento iniciou mais uma sessão legislativa com novos intervenientes. A existência de dez forças políticas veio trazer ao debate político uma vivacidade que se saúda.
Condição fundamental da atividade política é a capacidade de gerar a adesão às ideias que se defendem através do confronto de perspetivas e de soluções para os problemas das pessoas e das nações. A arte da oratória desempenha por isso um papel fundamental na capacidade que cada ator político tem de fazer chegar aos outros as suas ideias e de atingir o público a que se dirigem. A utilização de técnicas que permitam, de forma estruturada, influenciar, informar, envolver ou captar a atenção dos ouvintes revela-se determinante para o sucesso da missão.
Dois exemplos serão suficientes para perceber o que está em causa. As intervenções de André Ventura e de Joacine Katar Moreira. Não importa aqui saber quem tem razão ou quem apresenta as melhores propostas. Interessa, isso sim, perceber quem será capaz de cumprir a tarefa para que foi incumbido nos próximos quatro anos. O Livre, o Chega e também a Iniciativa Liberal terão certamente por objetivo principal dar-se a conhecer e aumentar significativamente a sua representação parlamentar. Pelo que dizem, pelo que provocam, pelo interesse que as suas propostas despertam, pela recetividade que forem conseguindo ter junto dos eleitores.
Ninguém nega o direito a todos os cidadãos de serem eleitos para os principais órgãos de soberania. Bem pelo contrário. A diversidade de representação de interesses, mesmo que das minorias, é muito bem-vinda e tem todo o cabimento numa "casa da democracia" que se pretende plural, aberta e até ameaçadora de grupos instalados. Mas para isso é necessário que, dia após dia, sejam percorridas as etapas obrigatórias de aproximação ao mercado eleitoral.
Sem mensagem a comunicação não existe. Sem capacidade para comunicar a mensagem é como se não existisse. E, por muito que os bem-pensantes queiram, o Livre está perante um grave problema de afirmação das suas ideias. Durante a campanha eleitoral a questão foi abordada de forma mais ou menos caricatural e, verdade se diga, ninguém está normalmente muito preocupado em discutir os programas eleitorais. Foi por isso indiferente o que a atual deputada do Livre disse. Já ninguém se lembra. Mas todos se lembram da forma como o disse, ou melhor, tentou dizer.
Mas agora que o conteúdo é o que irá contar, a forma como se passa a mensagem, se discutem as propostas ou se confrontam os adversários, será fundamental que as únicas vozes de cada uma das forças políticas agora chegadas ao Parlamento se façam ouvir e, principalmente, se façam entender. Aqui chegados, que me desculpem os que fingem que isto não tem importância nenhuma, há os que terão hipótese de entrar no combate e uma que, por muito importantes que sejam as causas que defende, deitará tudo a perder. Obrigá-la a este esforço sem sentido não só não é justo como poderá ser, para a própria, uma violência física e emocional difícil de suportar.
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