"I hate weekends because there is no stock market."
Rene Rivkin


A Bolsa é muito mais do que algo em que se pode ganhar e perder dinheiro. O mercado de capitais é um local onde as emoções, fraquezas e características dos seres humanos vêm ao de cima. O medo e a ganância são, provavelmente, os exemplos mais extremados das emoções reflectidas no mercado.

Teoricamente, os investidores negoceiam em Bolsa para ganharem dinheiro. Esse deveria ser o objectivo primordial de todos. A verdade é que, para alguns deles, o vício da Bolsa é mais forte do que o objectivo de ganhar dinheiro, o que acaba por ter consequências nefastas, quer ao nível financeiro, quer ao nível das relações sociais.

Muitos daqueles que são viciados na Bolsa, não se apercebem, mas há algumas questões que eu gosto de colocar para identificar o seu grau de dependência:

• Se lhe dessem 15% ao ano, garantidos, parava de negociar? Se a resposta for não, tem boas probabilidades de ser viciado em Bolsa, a menos que seja um "top trader".

• Quantas vezes já disse a si mesmo que tinha que parar de negociar por uns dias e não o conseguiu fazer? É certo que se pode contradizer e dizer que isso será falta de rigor ou de disciplina, mas não será essa uma forma eufemística de dizer que alguém está na Bolsa pela adrenalina, excitação ou porque está viciado?

• Consegue parar de negociar nas férias, mesmo quando é esse o pouco tempo que tem para estar com a sua família e isso o leva a perder algum tempo? Se alguém acha que é perfeitamente conciliável, não há qualquer problema. Mas quando alguém tem a perfeita consciência que isso rouba tempo à família, lhe rouba tranquilidade e descanso nas férias e, ainda assim, continua a negociar, há aqui sintomas de alguma dependência.

Estas três questões podem definir se alguém tem o perfil de um viciado em Bolsa. E muitos são aqueles que o são, sem terem noção disso. Se as suas respostas se encaixam neste perfil, pare para pensar. Será que a sua verdadeira motivação para negociar será ganhar dinheiro ou o gosto pela adrenalina? Será que conseguirá sobreviver uns dias sem olhar para as cotações?
Como em qualquer vício, o primeiro passo é reconhecer a sua dependência. O que, neste caso, ainda pode ser mais difícil do que nos outros vícios, já que o "vício da Bolsa" não é algo que estejamos habituados a ouvir.

Se neste artigo, percebeu que pode, de alguma forma, estar viciado na Bolsa, deixe de negociar por uns tempos. Obrigue-se, a si mesmo, a estar longe do mercado e a perceber o que verdadeiramente o motiva. E se chegar à conclusão que negoceia, mais por prazer, do que para ganhar dinheiro, isso pode não ser grave. Desde que assuma - para si mesmo e para os outros - que anda nos mercados para se divertir, deixando de se enganar a si próprio com a ideia de que quer ganhar dinheiro.

A Bolsa faz parte da minha vida, dos meus dias, há 20 anos. De uma forma muito intensa e arrebatadora. Não quero com este artigo criar a ideia de que os mercados de capitais são uma espécie de droga que agarra quem prova o seu sabor. Os mercados são apaixonantes e podem ser uma excelente forma de investimento. Mas há sempre a outra face da moeda. E revelá-la é uma das melhores formas de a combater.

Se tem o vício da Bolsa cure-se. A sua carteira agradece e a sua mente também.

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