Opinião
A inocência dos esquecidos
Os balanços dos bancos confirmam que falharam na sua função essencial. As auditorias forenses, quando se fizerem, confirmarão que houve cumplicidades cruzadas de banqueiros e políticos.
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A FRASE...
"Em poucos meses, a banca nacional está a ser desmantelada e vendida em saldo a interesses estrangeiros, com consequências muito graves para a economia nacional e para a soberania do país."
Ricardo Cabral, Público, 30 de Setembro de 2016
A ANÁLISE...
Só os desmemoriados podem acreditar que é em poucos meses que a banca nacional está a ser desmantelada e vendida. É um processo que tem quatro décadas, com uma única linha de tendência - a mesma que se encontra na diminuição da taxa de crescimento, na perda de competitividade e no acentuado envelhecimento demográfico. O que acontece agora é a consequência inevitável do que esteve a ser feito, de ilusão em ilusão.
Houve quem anunciasse que as nacionalizações de empresas implicariam o desmantelamento dos centros de acumulação de capital, quem mostrasse que a descolonização destruía a escala em que se tinha estruturado o modelo de desenvolvimento português, quem avisasse que as privatizações sem indemnizações pelas nacionalizações implicariam o crescimento sem controlo do endividamento das empresas, quem mostrasse que a descida da taxa de juro com a adesão ao euro seria um estímulo enganador e motivo de erros de decisão estratégica na economia. Numa economia dominada pela dívida, só a função de avaliação do risco que fosse exercida pelos bancos, gestores da dívida, poderia evitar que os desequilíbrios se acumulassem até à inviabilidade - e que a consequência fosse a venda dos activos para o exterior.
Os balanços dos bancos confirmam que falharam na sua função essencial. As auditorias forenses, quando se fizerem, confirmarão que houve cumplicidades cruzadas de banqueiros e políticos. Os bancos vendem-se, os banqueiros desaparecem, mas os políticos continuam, inocentes e sem memória.
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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