Opinião
E Teixeira foi à Caixa...
Não se pensava que Fernando Teixeira dos Santos seguisse o exemplo de António Bagão Félix e fosse na Caixa Geral de Depósitos a sua estreia no cargo. Mas foi. Vítor Martins já não regressa depois de férias. Como Mira Amaral e António de Sousa seguiram par
Este ministro não tem motivos para demitir. O outro ministro, além de motivos de sobra, tinha urgência numa decisão.
A CGD estava então bloqueada há meses, por causa de um modelo de governo absurdo, inventado pela doutora Manuela Ferreira Leite. O grupo estava partido ao meio, o eng. Mira Amaral mandava numa parte, o prof. António de Sousa noutra.
Deixaram rapidamente de se falar. Menos ainda de trabalhar em conjunto. Uma aberração completa. Bagão Félix nem precisou explicar a decisão salomónica de pôr os dois a andar.
Agora não. Teixeira dos Santos limita-se a falar em fragilidade interna e externa da administração. Fragilidade que se baseia numa série de eventos e de notícias recentes.
Admite-se, portanto, que este ministro assume o mal-estar entre a equipa de Vítor Martins e o Governo socialista, tendo a coragem de fazer aquilo que Campos e Cunha não quis.
Mas que eventos podem ser? Os sucessivos adiamentos das assembleias gerais, quer da CGD, quer do banco de investimento do grupo? E que notícias? Terá sido o mal-explicado voto de confiança do accionista nos órgãos sociais do banco?
Ou terá sido ainda, num tempo mais remoto, a demissão não consequente de Vítor Martins, face àquela opção danosa de transferência do fundo de pensões para a Caixa Geral de Aposentações?
Ou, por outro lado, terão sido actos de gestão, decisões estratégicas tomadas no âmbito do Projecto Líder, que não agradaram?
Dito de outra forma: na base desta decapitação ontem anunciada no maior banco português só estão especulações. Ainda por cima, mal resolvidas com a solução apresentada.
Todos os casos que supostamente deterioraram a relação com o accionista Estado nascem, única e exclusivamente, num só sítio: o Estado.
Não foi a administração que decidiu entregar o fundo de pensões como receita extraordinária do Orçamento. É o accionista que determina as datas da sua assembleia. E, como é óbvio, não é a administração que pode ou deve manifestar um voto de louvor a si própria.
Restam, assim, duas possibilidades razoáveis para este ministro suportar a decisão.
Uma, é que lhe faltava confiança política nesta administração – e, por isso, mantém Celeste Cardona. Outra, é que faltava competência profissional à equipa anterior – e, por isso, promove o dr. Vara, conhecido por «ministro das fundações».
Teixeira dos Santos substituiu Campos e Cunha debaixo do anátema da partidarização do cargo. Na vez de cortar despesa, preferiu cortar cabeças. É uma opção. Incompreensível. Inexplicável. Inacreditável. Imperdoável.
Cito o camarada Jaime Gama: não há segunda oportunidade para criar uma primeira boa impressão.