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Hegemonia

Por muita inércia que ainda exista na nossa sociedade, por muita resistência que dificulte a mudança, as novas gerações sabem bem o que há para fazer. Mais exigência, maior abertura ao mundo, mais ambição, maior vontade de realizar. Esse é o programa.

Dado o resultado eleitoral declaro aos costumes. O Presidente Cavaco não me tira o sono. Não fará tanto mal como alguma esquerda pensa; nem tantos estragos como alguma direita aspira. É certo que me incomoda ter que aturar nos próximos anos a constante presença mediática de um homem tão evidentemente provinciano e fora do tempo. Mas existem muitos outros iguais ou piores do que ele e sempre, graças às novas tecnologias, tenho a opção do zapping. Depois, que Mário Soares, o meu candidato, tenha perdido de forma tão espalhafatosa não me causa qualquer perturbação. É uma daquelas derrotas que nos fazem sentir vivos e lúcidos e a história está bem recheada de derrotados cheios de razão.

Adiante, portanto. Que Manuel Alegre tenha obtido uma votação tão expressiva também não me espanta. Desde há muito que se assiste à deriva de uma parte da esquerda para novas formas de reaccionarismo político e cultural.

Que Jerónimo fique contente com a sua resistência parece-me legítimo ainda que inconsequente. E, por fim, que Louçã delire perante a evidente derrota pessoal e política que sofreu acho normal pois é, em si mesmo, uma figura delirante a que qualquer país civilizado tem direito.

Tudo por junto o resultado parece-me pois bastante normal. Não aquele tipo de normalidade que Portugal precisaria, mas aquele género normal/banal em que estamos. Não é por acaso que o nosso país se encontra na cauda da Europa...

Acontece, já que de qualquer situação sempre devemos tirar as melhores lições, que algumas coisas não são totalmente negativas. Destaco três importantes para o que se segue. Nestas eleições o PS viu-se livre de dois escolhos. O Soarismo morreu. Cabe dizer que gosto de Mário Soares mas nunca gostei do soarismo. Com este último acto, nobre mas claramente extemporâneo, o soarismo perde a sua credibilidade política. E ainda bem. O PS e o próprio Mário Soares só terão a ganhar com isso. Em segundo, aquela franja socialista que se reclama da esquerda mas que objectivamente é muito conservadora e anti-moderna, demonstrou que serve para animar derrotas, mas não para conseguir vitórias. É, sem dúvida, uma força da resistência e do passado, mas como todas condenada pela história. A questão Alegre não se prende com a pessoa, mas com o seu programa político, anti-partidos, anti-europa e nacionalista, que nenhum partido socialista moderno pode ou poderá alguma vez aceitar. Sob risco de se diluir na insignificância.

Mas, em terceiro, e mais importante do que tudo o resto, é agora claro que alguma coisa tem de mudar na forma de fazer política em Portugal. Desde há muitos anos que penso, e digo, que só existe uma maneira de usar a política para realizar uma evolução positiva na nossa sociedade. Chama-se hegemonia. E não me refiro àquele tipo de hegemonia política que representa a ocupação do maior número de lugares do estado, dos media e dos interesses, mas pelo contrário, à capacidade de se criar uma corrente hegemónica no campo das ideias e da cultura. Hoje, por exemplo, a parte mais activa da sociedade portuguesa, tanto à esquerda quanto à direita, considera que a única via para fazer sair o nosso país da crise assenta na educação, na tecnologia e na inovação. Eis um conjunto de boas ideias hegemónicas. Outras são necessárias.

É certo que os constrangimentos económicos, e acima de tudo a extrema miséria em que vive uma parte significativa da nossa população, dificultam a aplicação de tais ideias. Mas são elas que estabelecem os parâmetros de uma sociedade mais dinâmica e justa, mais avançada e civilizada. Que todos, da esquerda, do centro ou da direita, devem cumprir.

Por muita inércia que ainda exista na nossa sociedade, por muita resistência que dificulte a mudança, as novas gerações sabem bem o que há para fazer. Mais exigência, maior abertura ao mundo, mais ambição, maior vontade de realizar. Esse é o programa. Essas são as ideias hegemónicas que ajudarão a transformar Portugal. Tudo o que vai nesse sentido deve ser apoiado. Tudo o que vai contra deve ser combatido. Simples, portanto.

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