A economia da Europa, e da Zona Euro em particular, atravessa um bom momento.
Há uma aparente contradição entre o ambiente político de forte incerteza, um pouco por todo o mundo, e na Europa também, e o aparente bom momento da economia mundial.
Todos os anos, em janeiro, o FMI atualiza as suas projeções para a economia mundial, e esse é o meu ponto de partida para a reflexão de hoje.
O FMI projeta um crescimento de 3,9% para a economia mundial este ano. Claro que esta previsão tem uma grande dose de incerteza, mas é uma boa síntese sobre o sentimento dos especialistas acerca do que se poderá passar este ano. Desde 2011 que o FMI não estava tão otimista. Mas convém relembrar que em 2008, o ano que marca o início da Grande Recessão, o FMI também estava otimista em janeiro, prevendo que a economia mundial cresceria 4,1%. O mundo viria a terminar o ano em forte desaceleração e uma contração global no ano seguinte.
Claro que as condições da economia mundial são hoje diferentes das que eram na altura. Porém, a confiança num bom ano económico, se bem que em ligeira desaceleração face ao ano anterior, era idêntica à de hoje.
Para a Zona Euro as perspetivas do FMI são ainda mais singulares. O FMI prevê agora como cenário central um crescimento de 2,2% este ano (a previsão de crescimento do NECEP, a que estou afiliado, é até um pouco mais otimista, 2,3%). Esta é a maior previsão de crescimento, no início do ano, desde que sigo com atenção e detalhe o Outlook do FMI. Em janeiro de 2008, o FMI previa para esse ano um crescimento de 1,6% e o crescimento observado acabou por ser 0,4% com uma forte recessão na Zona Euro no ano seguinte.
O que me parece significativo é que pela primeira vez em muito tempo a maioria dos observadores da economia da Zona Euro espera um bom ano com uma forte probabilidade de observar um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima de 2%. É certo que o crescimento no ano passado terá sido cerca de 2,4%, mas fora esse ano, é preciso recuar a 2007 para ter um crescimento de 3,0%.
Para quem vive na Zona Euro sente-se de forma clara a expetativa de um bom ano económico, pelo menos quando comparado com os resultados medíocres da última década. Curiosamente este bom ambiente económico coexiste com a perceção de riscos políticos elevados e de governação difícil ou de qualidade duvidosa. Quando se analisa os governos da Zona Euro um a um, ou os governos de outros países que mais influenciam o desempenho económico da Zona Euro, encontramos motivos de profunda preocupação em praticamente todos.
A exceção de estabilidade e qualidade parece ser o Banco Central Europeu (BCE). Convém lembrar, porém, que o mandato do atual presidente terminará em novembro de 2019, e em breve, também o BCE sofrerá o tipo de paralisia e incerteza comum às instituições que mudam de liderança em períodos turbulentos.
Acresce que, se os dados estatísticos continuarem a revelar uma economia da Zona Euro mais forte, com finanças públicas mais saudáveis na generalidade dos países, e com bancos capazes de resistir a choques adversos, deixará de haver razões para continuar com as políticas monetárias não convencionais. A transição para a normalidade será difícil e repleta de mecanismos de transmissão inesperados à economia real.
As previsões do FMI são ainda globalmente benignas para a maioria das economias, o que sugere uma sincronização cíclica dos principais grupos da economia mundial, incluindo os países emergentes e em desenvolvimento.
Nestas alturas de otimismo económico devemos fazer três coisas: em primeiro lugar, gozar o bom momento; em segundo, preparar o futuro, já que sabemos que um ambiente superior à média não se pode manter por muito tempo; e em terceiro lugar, prepararmo-nos para uma crise, já que estas são mais perigosas e violentas quando nos apanham no meio da festa.
Professor na Universidade Católica Portuguesa
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
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A economia da Europa, e da Zona Euro em particular, atravessa um bom momento.
Há uma aparente contradição entre o ambiente político de forte incerteza, um pouco por todo o mundo, e na Europa também, e o aparente bom momento da economia mundial.
Todos os anos, em janeiro, o FMI atualiza as suas projeções para a economia mundial, e esse é o meu ponto de partida para a reflexão de hoje.
O FMI projeta um crescimento de 3,9% para a economia mundial este ano. Claro que esta previsão tem uma grande dose de incerteza, mas é uma boa síntese sobre o sentimento dos especialistas acerca do que se poderá passar este ano. Desde 2011 que o FMI não estava tão otimista. Mas convém relembrar que em 2008, o ano que marca o início da Grande Recessão, o FMI também estava otimista em janeiro, prevendo que a economia mundial cresceria 4,1%. O mundo viria a terminar o ano em forte desaceleração e uma contração global no ano seguinte.
Claro que as condições da economia mundial são hoje diferentes das que eram na altura. Porém, a confiança num bom ano económico, se bem que em ligeira desaceleração face ao ano anterior, era idêntica à de hoje.
Para a Zona Euro as perspetivas do FMI são ainda mais singulares. O FMI prevê agora como cenário central um crescimento de 2,2% este ano (a previsão de crescimento do NECEP, a que estou afiliado, é até um pouco mais otimista, 2,3%). Esta é a maior previsão de crescimento, no início do ano, desde que sigo com atenção e detalhe o Outlook do FMI. Em janeiro de 2008, o FMI previa para esse ano um crescimento de 1,6% e o crescimento observado acabou por ser 0,4% com uma forte recessão na Zona Euro no ano seguinte.
O que me parece significativo é que pela primeira vez em muito tempo a maioria dos observadores da economia da Zona Euro espera um bom ano com uma forte probabilidade de observar um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima de 2%. É certo que o crescimento no ano passado terá sido cerca de 2,4%, mas fora esse ano, é preciso recuar a 2007 para ter um crescimento de 3,0%.
Para quem vive na Zona Euro sente-se de forma clara a expetativa de um bom ano económico, pelo menos quando comparado com os resultados medíocres da última década. Curiosamente este bom ambiente económico coexiste com a perceção de riscos políticos elevados e de governação difícil ou de qualidade duvidosa. Quando se analisa os governos da Zona Euro um a um, ou os governos de outros países que mais influenciam o desempenho económico da Zona Euro, encontramos motivos de profunda preocupação em praticamente todos.
A exceção de estabilidade e qualidade parece ser o Banco Central Europeu (BCE). Convém lembrar, porém, que o mandato do atual presidente terminará em novembro de 2019, e em breve, também o BCE sofrerá o tipo de paralisia e incerteza comum às instituições que mudam de liderança em períodos turbulentos.
Acresce que, se os dados estatísticos continuarem a revelar uma economia da Zona Euro mais forte, com finanças públicas mais saudáveis na generalidade dos países, e com bancos capazes de resistir a choques adversos, deixará de haver razões para continuar com as políticas monetárias não convencionais. A transição para a normalidade será difícil e repleta de mecanismos de transmissão inesperados à economia real.
As previsões do FMI são ainda globalmente benignas para a maioria das economias, o que sugere uma sincronização cíclica dos principais grupos da economia mundial, incluindo os países emergentes e em desenvolvimento.
Nestas alturas de otimismo económico devemos fazer três coisas: em primeiro lugar, gozar o bom momento; em segundo, preparar o futuro, já que sabemos que um ambiente superior à média não se pode manter por muito tempo; e em terceiro lugar, prepararmo-nos para uma crise, já que estas são mais perigosas e violentas quando nos apanham no meio da festa.
Professor na Universidade Católica Portuguesa
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