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Tragédia em três cenas

Cena número um. As televisões antecipam, a partir de um comício na Terceira, aquilo que o primeiro-ministro dois dias depois iria confirmar numa comunicação ao país: os impostos sobre os rendimentos das famílias vão baixar em 2005. A oposição reagiu indig

Cena número dois. A proposta de Orçamento de Estado para 2005 é divulgada pelo ministro das Finanças e, feitas as contas, todos, os fiscalistas e a comunicação social, concluíram em uníssono: as famílias não sentirão, na prática, os efeitos da medida porque o desagravamento real no IRS é mínimo. Não dá, sequer, para uma bica por dia.

A oposição não se conteve: o Governo passou a ideia de que estava a cortar impostos, mas isso não é verdade, pois ninguém sai beneficiado com um anúncio demagógico. Pura propaganda eleitoral!

Cena número três. O ministro das Finanças vai à Assembleia da República discutir as opções do OE com os deputados e revela que, apesar da redução das taxas dos escalões, as tabelas de retenções não acompanham integralmente em 2005 essa redução.

Manchetes em todos os jornais e a oposição em estado de choque. É eleitoralismo radical! Porquê? Bem, porque assim os contribuintes vão receber em 2006 um rechonchudo cheque em vésperas de eleições.

É uma desgraça. É uma tragédia. E lá estava ontem, no meio da berraria, o ministro Bagão Félix a explicar-se, a dar as justificações mais elementares. Ninguém o ouvia. É eleitoralismo e ponto final.

Há três semanas todos estavam de acordo que as famílias não iam sentir o corte de IRS. Agora todos pensam que o retardamento dos reembolsos é deliberado e tem a ver com as legislativas de 2006. Tá tudo doido, portanto, porque recebem um cheque insignificante das Finanças e vão a correr para votar no PSD ou no PP.

É uma desgraça porque o ministro e o Governo seguiram o manual dos «kamikazes» e fizeram tudo o que não podiam fazer: anunciar a medida num comício, transformá-la numa bandeira do OE, para depois lhe retirar importância e, por fim, submetê-la a mutilações não anunciadas.

É uma desgraça porque os sinais são todos os dias contraditórios, rigor e populismo não combinam, e isso transforma o núcleo-duro do Governo no epicentro do maior dos furacões.

É ainda uma desgraça porque nós, jornalistas, temos de exigir coerência e ser coerentes. Um Governo não pode ser eleitoralista por um motivo em Outubro e continuar a sê-lo em Novembro pela razão contrária.

E é finalmente uma desgraça porque os ventos que embalam a nova oposição não são muito diferentes e alimentam o ambiente de degradação geral. O engenheiro Sócrates mostra que está preparado para o poder. Ainda não provou que está preparado para o Governo.

E tanta desgraça só pode acabar em tragédia. E a tragédia nacional é que o pessoal anda entretido para não exigir aquilo que conta de verdade. É inegável que Bagão Félix ficou com «má imprensa» e leva pancada a eito. Despeça os assessores incompetentes. E ficar com a crise orçamental...

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