As movimentações no firmamento partidário
A inédita solução governativa criada por António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa baralhou um xadrez político que até então circunscrevia a PS, PSD e CDS as responsabilidades governativas. Com as legislativas de 2019 cada vez mais próximas, todos os partidos vão apostar em estratégias que os autonomizem o mais possível na busca do reforço eleitoral. Para já, os valores do barómetro da Aximage publicado no mês passado mostram o PS mais distante da maioria absoluta e o PSD a recuperar, embora de forma insuficiente para rivalizar com os socialistas. Assim, não haverá governo sem entendimentos.

Pragmatismo e moderação
A seguir ao PS, é o partido que mais ganhou com a geringonça mas é também o que mais tem a perder se romper com esta solução política. E Catarina Martins sabe isso. Ao contrário do PCP, que tem um eleitorado muito fiel, o Bloco sabe que o seu é mais volátil. "A principal ambição dos partidos é a conquista de espaço político e o Bloco sabe que uma parte do seu eleitorado são socialistas descontentes", diz António Costa Pinto. A linha política não mudou, mas o discurso é mais moderado e até ambicioso - na moção à próxima convenção Catarina Martins assume que o BE quer ser poder. Pragmático, o Bloco quer conquistas concretas para apresentar ao seu eleitorado.

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Esperar para ver, sem precipitações
"Enquanto partido, o PS não alterou num miligrama a sua identidade", diz António Costa Pinto. António Costa disse-o orgulhosamente num congresso onde mostrou algum distanciamento face aos parceiros do Governo. Porém, após um período marcado pela aproximação ao PSD e um recentramento do discurso político, António Costa corrigiu o tom e voltou a mostrar-se mais amigável com o PCP e o Bloco, reassumindo até a vontade em prosseguir neste caminho. Ainda ontem, corrigiu o número dois do Governo, Augusto Santos Silva, depois deste afirmar que a reedição da geringonça obrigaria a um alargamento do compromisso a temas como a Europa e a NATO, algo que o PCP e o Bloco nunca aceitariam. António Costa quer deixar tudo em aberto e sabe que a geringonça é muito popular entre os eleitores socialistas. Vai esperar para ver os resultados e agir em conformidade. Como fez, de resto, em 2015.

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À conquista do partido
Nesta legislatura, houve dois PSD. O de Passos Coelho, agressivo e apostado na queda iminente do governo, e o de Rui Rio, moderado e próximo do PS. Segundo os barómetros mensais da Aximage, Rui Rio conseguiu estancar a perda de eleitorado para o PS e evitou que o CDS ganhasse terreno à direita. Mas sobra-lhe um enorme desafio: o de unir o partido. De um lado, explica Nuno Garoupa, tem "o passismo impaciente"; do outro, a ameaça latente de Santana Lopes de formar um partido que, por mais pequeno que seja, roubará sempre eleitores ao PSD. E soma-se ainda uma bancada parlamentar que lhe é hostil, lembra Costa Pinto. Mesmo sem acreditar na vitória, Rio sabe que precisa de uma boa votação nas eleições legislativas para consolidar a sua liderança. Só depois disso se preocupará em conquistar o país.

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Saudades da oposição, mas sem pressa
O PCP é o partido mais desgastado com a geringonça e o mais resistente a uma eventual ruptura unilateral da solução política. Mas não é imune. Por isso, se Jerónimo de Sousa endureceu o discurso contra o Governo (declarou o óbito do mito da quadratura do círculo de Costa), também frisa sempre que o PCP honra os seus compromissos até ao fim. Como sublinha Nuno Garoupa, "o PCP deverá querer voltar à oposição" depois de 2019, mas até lá não quererá arriscar demasiado.

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Corrida de fundo pela direita
Depois do grande resultado da sua candidatura à Câmara de Lisboa, Assunção Cristas fixou metas ambiciosas no congresso do partido. Perante as expectativas, os números dos barómetros da Aximage são desapontantes. "O grande problema do CDS é que quer ser uma coisa nova com as mesmas pessoas de sempre. Quer ser uma espécie de Cidadãos sem novos cidadãos no partido", defende Nuno Garoupa. Paciente, Cristas aposta numa corrida de fundo, procurando afirmar o CDS como o verdadeiro partido da direita na esperança de vir a capitalizar erros futuros de Rui Rio.

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