Joana Leite
Neusa Tojal
Camila Gouveia
Ouvi tanta coisa que desliguei a ficha
Perfil
Quem:
Joana Leite, 37 anos

Profissão:
Formadora do IEFP

Situação:
Prestação de serviços

Há quanto tempo:
Há dois anos

Salário:
14,4 euros por hora

"Tem sido muito silencioso", este momento de espera. "Nota-se que ainda está tudo à procura de uma definição". Desde que arrancaram as candidaturas ao programa de regularização de precários, Joana tem dinamizado as candidaturas dos formadores do IEFP da zona Norte , apoiada nos esclarecimentos da Associação Portuguesa de Formadores e dos Precários Inflexíveis.

O melhor deste processo foi "a entreajuda mútua que se sentiu entre os profissionais da área". O mais difícil foi ter de resumir o currículo em 150 caracteres. O que gera mais ansiedade é não conhecer sequer a posição dos dirigentes. E o mais delicado tem sido avaliar a credibilidade das informações que vão surgindo. "São momentos em que surgem muitos boatos. Acho que as pessoas entraram um bocado em curto-circuito. Ouvi tanta coisa que desliguei a ficha".

Este mês o Governo indicou que que quem não tem três anos de serviço ficaria de fora. Se assim for, a Joana, que esteve sete anos a recibos verdes numa autarquia, mas que só está há dois anos e meio no IEFP, seria excluída. "Claro que queria entrar, mas dessa forma já entrariam muitos [formadores] e só por isso ficaria satisfeita. Vão ter sempre que ser definidos prazos e vai ser sempre injusto para alguém que por uns meses não entra".
Antes sofria por antecipação. Agora é esperar para ver
Perfil
Quem:
Neusa Tojal, 36 anos

Profissão:
Administrativa na unidade de saúde pública da Lapa

Situação:
A termo certo

Há quanto tempo:
Há 14 anos

Salário:
Cerca de 650 euros líquidos

Para quem está há 14 anos a prazo a solução é simples: "O que muda é o nome do contrato, passa de termo resolutivo certo a contrato por tempo indeterminado". É por isso que Neusa Tojal, administrativa no centro de saúde da Lapa, não entende o ministro das Finanças quando o ouve dizer que vão abrir concursos. "Se a pessoa trabalha há dez, catorze e dezassete anos, que sentido faz?", pergunta.

Nestas sete semanas de candidaturas, as expectativas que tem "não evoluíram nada". "Preenchi o requerimento e até agora não disseram nada. Nada", lamenta, acrescentando que espera que o Governo dê mais esclarecimentos nos próximos dias. Apesar de a irregularidade da sua situação jurídica lhe parecer óbvia, não sabe se o dirigente vai considerar que ocupa uma função permanente; se a comissão estará de acordo; e se o ministro da Saúde homologa a decisão. Entretanto, viu passar-lhe ao lado um concurso exclusivamente dedicado a quem já tem um vínculo estável. "Foi para arrumar a casa", comenta.

Quem começou com os contratos "três mais três" – que em total davam seis meses, e que eram renovados de véspera – vai aprendendo a gerir a ansiedade. "Nestas coisas, antigamente, sofria por antecipação. Agora é mesmo esperar para ver".
Há três anos que não sabemos o futuro da profissão
Perfil
Quem:
Camila Gouveia, 64 anos

Profissão:
Ama da Segurança Social

Situação:
Prestação de serviços

Há quanto tempo:
Há 25 anos

Salário:
762 euros por mês

A trabalhar a recibos verdes há 25 anos como ama para Segurança Social, Camila ignorou as explicações do Governo, que avisou que não devem ser anexados documentos à candidatura. "Mesmo assim resolvemos fazê-lo". Por carta registada e com aviso de recepção seguiram as provas do seu histórico. "Porque nos consideramos dentro dos parâmetros do que eles pedem para podermos ser colocadas com um contrato efectivo, com todas as coisas que os contratos nos dão: férias, uma reforma condigna, um fundo de desemprego condigno".

Depois de ter recebido informações contraditórias sobre se seria ou não considerada neste programa, acabou por acreditar que sim. Mas voltou a duvidar quando na semana passada o Governo aprovou uma alteração ao regime jurídico das amas: em vez de serem renovados anualmente, os contratos de prestação de serviços passam a terminar "por cessação ou interrupção da actividade", tendo em conta "a situação efectiva da ama".

José Soeiro, do Bloco, garante que o objectivo é garantir o vínculo até à regularização, mas a mensagem não passou aos visados. "Não é explícito o que saiu. Não temos informação sobre isto. Há três anos que não sabemos qual será o futuro da nossa profissão".