O que ganharia o PS
António Costa Pinto acredita que um cenário de bloco central (em sentido formal) só seria possível se Portugal estivesse perante uma "conjuntura excepcional como, por exemplo, um resgate ou numa circunstância de Portugal estar fora dos mercados". Fora dessa conjuntura, o PS só teria interesse em associar-se ao PSD se fosse a única forma de garantir uma solução estável de um governo socialista minoritário. Pedro Adão e Silva vê o bloco central como improvável, mas reconhece que o eleitorado socialista (como outros) valoriza soluções de compromisso. "O eleitorado olha para os partidos como mais robustos se eles passarem a ideia de se diferenciarem e se forem capazes de compromissos mantendo as suas divergências", diz o investigador do ISCTE. Viriato Soromenho-Marques acredita também que entendimentos em torno de políticas públicas valorizam quem os promove, já que só "consensos construídos" permitem desenvolver verdadeiras políticas públicas.
O que perderia o PS
"O PS não tem qualquer interesse em fazer o PSD beneficiar desta conjuntura económica e da actual política de distribuição de rendimentos", acredita António Costa Pinto, para justificar a ideia que o bloco central não tem vantagens para o PS. Além disso, o professor do ICS lembra que a actual conjuntura, com uma solução de Governo à esquerda liderada pelo PS, "introduziu uma novidade que os socialistas perderiam perante um cenário de entendimento com o PSD. Na actual conjuntura, o PS pode transformar-se no partido maioritário, que ainda não é", antecipa Costa Pinto, acrescentando que "a ameaça de punição eleitoral é muito grande". Também Adão e Silva vê mais desvantagens do que vantagens num cenário de bloco central para o PS. "Um Bloco Central seria devastador para o PS e para o PSD, porque deixariam de ser vistos como alternativa", afirma o ex-dirigente socialista. Já o filósofo e professor da Universidade de Lisboa Viriato Soromenho-Marques receia que entendimentos ao centro, nas áreas que têm sido faladas (descentralização, justiça, fundos europeus e novo aeroporto) tenham um impacto negativo na actual geringonça. "São áreas que têm um potencial de grande clivagem no actual Governo", apesar de serem dossiês que ficaram de fora das posições de convergência assinadas em Novembro de 2015, salienta. É que um "PSD cooperante" coloca a dúvida sobre "até que ponto o PS teria a tentação para mudar de campo" quando tem de partir para uma negociação, acrescenta Soromenho-Marques. "Esta dinâmica de potencial clivagem obrigaria o PS a estender a agenda de negociação à sua esquerda", admite, acrescentando que o PS terá de dar preferência à esquerda sempre que for negociar.