Uma união monetária dispensa um orçamento?
Gestão macroeconómica
Orçamento comum é vital à zona euro
 Um orçamento da Zona Euro permitiria fortalecer uma resposta comum a uma crise que afectasse o bloco.

 Se não for desejado, ou for impossível avançar com um orçamento comum de dimensão relevante, a Zona Euro deveria pelo menos desenvolver uma capacidade orçamental comum, de forma a assistir Estados-membros afectados por crises específicas, compensando por exemplo, investimento ou despesas com desemprego nas economias em dificuldades. Esta é uma proposta defendida, por exemplo, pela Comissão e por Portugal.

 Uma capacidade orçamental comum também poderia garantir o financiamento de bens públicos nos Estados-membros, por exemplo, defesa, combate à poluição ou outros.
A união bancária basta à zona euro
 Um orçamento comum com capacidade para estabilizar a economia da região numa crise necessitaria de ter uma dimensão que não é viável politicamente. Hoje em dia, o Orçamento da UE é de apenas 1% do PIB, enquanto os orçamentos nacionais oscilam entre os 34% do PIB na Lituânia e os 56% de França. Tal significa que o um Orçamento da UE provavelmente teria de ter capacidade de endividamento autónoma significativa.

 Se o Orçamento serve apenas para lidar com choques assimétricos, porque não flexibilizar as regras orçamentais para os países afectados pela crise, de forma a que possam deixar os seus estabilizadores orçamentais funcionarem em pleno.

 A partilha e coordenação da aquisição e fornecimento de bens públicos pode ser feita sem um orçamento comum.
Risco financeiro e bancário
Orçamento comum é vital à zona euro
  A existência de uma capacidade orçamental comum reduz o risco de fugas de capital e perda de acesso aos mercados por economias fragilizadas.

 A garantia que se prevê que seja prestada pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade ao Fundo Comum de Resolução no âmbito da união bancária já é uma forma "light" de união orçamental.

 No caso de ocorrer uma crise sistémica não haverá capitais privados suficientes para evitar falências em massa de bancos, e a história das crises financeiras mostra que esse cenário é indesejável. Neste tipo de situações, os orçamentos têm de actuar, e é melhor não deixar esse risco com cada país pois o "ciclo diabólico" entre risco soberano e risco bancário funciona nos dois sentidos, como mostrou a mais recente crise.

 Para cortar definitivamente a perigosa ligação entre o risco bancário e soberano é importante criar um seguro comum de depósitos, que tenha uma capacidade orçamental comum, mutualizando este risco entre os vários governos.

 Se o financiamento comum permitisse a emissão de obrigações conjuntas, as famosas "eurobonds", então haveria mais uma vantagem para a estabilidade financeira: a criação de um activo sem risco que os bancos poderiam ter nos seus balanços sem ficarem expostos ao risco dos soberanos.
A união bancária basta à zona euro
 Desde que os países mantenham uma capacidade individual relevante de endividamento estarão sempre sujeitos a perda de acesso aos mercados.

 A garantia ao Fundo Comum de resolução é concedida para um fim e sectores específicos, o que limita a ideia de se tratar, de facto, de uma união orçamental. Mas para os críticos da união orçamental nem isto deveria existir. Se forem aplicadas as regras já previstas na união bancária, que forçam perdas totais a grande parte dos credores e aos accionistas, a necessidade de fundos públicos será muito pequena.

 A partilha de riscos orçamentais associados ao sistema financeiro se feita em larga escala, seja na resolução, seja segurando os depósitos, pode implicar transferências orçamentais quase permanentes entre Estados-membros, o que é proibido e indesejado em várias capitais. A solução deve por isso ser principalmente "privada": se for caso disso, os bancos devem falir ou ser resolvidos, impondo perdas a credores e accionistas e se, ainda assim, os governos forem afectados, então devem poder reestruturar a sua dívida pública. Para reduzir a ligação entre risco soberano e bancário, a exposição dos bancos a dívida pública deve ser muito limitada e penalizada.

 Em vez de um seguro comum de depósitos poderia considerar-se a hipótese de ser o próprio banco central a garantir esses depósitos, contra colateral dos bancos. E em vez de "eurobonds" há instrumentos alternativos que estão a ser estudados, como as ESBies, ou "obrigações europeias comuns", que são um activo sem risco, mas que pela construção não mutualiza risco entre países.
Viabilidade política
Orçamento comum é vital à zona euro
 A união monetária não é apenas um projecto económico e também um projecto político e, nessa medida, a criação de um orçamento comum, para gerir melhor a economia do bloco, e socorrer economias em dificuldades, fortaleceria também as dimensões de solidariedade e pertença necessárias à construção europeia.
A união bancária basta à zona euro
 Uma união orçamental implica ou capacidade de tributação ou um controlo centralizado sobre os orçamentos nacionais sem a correspondente legitimação democrática. Isso é meio caminho para populismos e crises de representatividade e identidade, como vemos por exemplo em regiões de Espanha ou da Bélgica.