Há mais vida além das tecnológicas?
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Nuno Carregueiro

segunda-feira, 18 de novembro de 2024
Há mais vida além das tecnológicas?

A há muito aguardada "grande retoção" nas bolsas continua sem força. Os resultados que a Nvida vai apresentar esta quarta-feira representam mais um teste ao domínio das grandes tecnológicas.

A "Valor Acrescentado" é a nova newsletter exclusiva para assinantes do Negócios, que passará a receber semanalmente às segundas-feiras. Neste espaço vai encontrar análise aos principais movimentos nos mercados financeiros, com foco na antecipação dos eventos que vão marcar a direção dos ativos cotados ao longo da semana. Tem como objetivo não só ajudar o leitor a preparar a semana, mas também a ficar a par de quais são as tendências dominantes nos mercados, conhecer as perspetivas dos analistas e identificar os acontecimentos que têm o maior potencial para mexer com as cotações dos títulos cotados em Bolsa. Desde as ações às obrigações, passando pelas matérias-primas, divisas e outros.

Depois da vitória clara de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos ter catapultado os índices acionistas para novos máximos históricos em Wall Street, os investidores vão esta semana centrar atenções no tema que tem verdadeiramente dominado a tendência altista das bolsas nos últimos dois anos: a euforia em torno das tecnológicas.

A Nvidia apresenta na quarta-feira (20 de novembro) os resultados do terceiro trimestre fiscal de 2025 (três meses terminados em outubro), sendo que os números e perspetivas que forem apresentados pela fabricante de chips têm potencial para acentuar a escalada do setor tecnológico e dos índices em Wall Street para novos recordes, ou dar motivos para um movimento de correção mais pronunciado que tem sido raro nos últimos meses na Bolsa norte-americana.

A Nvidia é já há alguns meses considerada, de forma justa e quase unânime, a cotada mais importante das Bolsas mundiais. Os números que impressionam ajudam a explicar porquê. A companhia tem um peso de cerca de 7% no S&P500, sendo responsável por um quarto do avanço de 25% do índice de ações norte-americano este ano. Em junho chegou a representar um terço.

As ações já triplicaram de valor em 2024 e acumulam uma valorização em redor de 900% nos últimos 24 meses. Alargando o horizonte temporal para cinco anos a valorização é superior a 3.000%. Tendo em conta o preço de entrada em bolsa em 1999, o retorno é ainda mais incrível, com uma escalada superior a 500.000%.

     
 
Nvidia é a estrela de Wall Street nos últimos dois anos
 
     

Com uma capitalização bolsista de 3,6 biliões de dólares, a Nvidia já destronou a Apple e a Microsoft, sendo atualmente a cotada mais valiosa do mundo. O valor supera largamente a capitalização bolsista conjunta das 12 maiores cotadas europeias e de todas as empresas da Bolsa da Alemanha, corresponde a 13% do PIB dos Estados Unidos e já é maior do que a dimensão da economia francesa.

Este "boom" nas cotações está relacionado com a euforia em torno da Inteligência Artificial, que explodiu no final de 2022 com o lançamento do ChatGPT. Mas a Nvidia tem conseguido entregar resultados que justificam o forte desempenho das ações, superando largamente as expetativas dos analistas trimestre após trimestre. Segundo as estimativas dos analistas, terá alcançado receitas próximas de 33 mil milhões de dólares entre agosto e setembro deste ano, quase o dobro do registado no período homólogo e bem acima do obtido em todo o ano fiscal que terminou em janeiro de 2023 (27 mil milhões de dólares). A progressão dos lucros é semelhante.

A companhia projeta uma margem bruta de 75%, o que exemplifica da melhor forma o domínio da Nvidia no mercado de chips avançados que equipam os servidores e outros aparelhos informáticos necessários para o desenvolvimento da Inteligência Artificial. A empresa está sobretudo dependente da aposta das grandes tecnológicas nesta área e os últimos números são animadores. Microsoft, Alphabet, Amazon e Meta Platforms anunciaram um investimento conjunto recorde de 59 mil milhões de dólares no terceiro trimestre, gerando expetativas positivas para os resultados da Nvidia.

Como tem sido evidente nos últimos trimestres, já não basta à Nvidia anunciar resultados acima do esperado. Para manter as ações numa trajetória altista, a empresa terá de apresentar estimativas que continuem a surpreender o mercado, sinalizando que a procura pelos seus produtos vai manter taxas de crescimento elevadas.

Os analistas persistem otimistas, confiando que a Nvidia mantém potencial de valorização em bolsa. A esmagadora maioria tem recomendações de compra para as ações, estão a rever as estimativas de resultados em alta e os preços-alvo médios apontam para uma capitalização bolsista acima de uns inéditos 4 biliões de dólares.

O Bank of America considera a Nvidia uma "oportunidade geracional" devido ao domínio num mercado que vale mais de 400 mil milhões de dólares anuais. O UBS estima que o investimento das grandes tecnológicas vai aumentar 50% este ano para 222 mil milhões de dólares, subido mais 20% em 2025.

Apesar dos receios de bolha serem inevitáveis quando se olha para a escalada das ações da Nvidia, os múltiplos são atualmente mais saudáveis. A empresa está a transacionar em bolsa com uma cotação que corresponde a 39 vezes os lucros estimados para os próximos 12 meses, bem abaixo do pico de 60 vezes registado no ano passado. Se conseguir que o denominador (resultados) da equação continue a aumentar, será mais elevada a probabilidade de o numerador (cotação) também continuar em alta.

     
 
Jensen Huang, CEO da Nvidia, revelou em outubro que a procura pela nova geração de chips Blackwell está a ser uma 'loucura' Ritchie B. Tongo/EPA
 
     

Concentração vs Rotação

Com as 10 maiores cotadas dos EUA a representarem 36% do valor de mercado do S&P500, composto por 500 companhias, o nível de concentração na bolsa norte-americana nunca foi tão elevado. As Sete Magníficas (Alphabet, Amazon, Apple, Meta Platforms, Microsoft, Nvidia e Tesla) são responsáveis por metade da valorização de 100% que o S&P500 regista desde 2019. Sozinhas, a Nvidia e a Apple representam um quarto.

Esta elevada dependência de Wall Street de um escasso número de empresas representa um risco adicional para o rumo dos índices e abre porta a uma rotação de investimento das grandes tecnológicas para as cotadas que ficaram para trás no período de fortes subidas e negoceiam com avaliações mais deprimidas e por isso mais atrativas. São as cotadas conhecidas como empresas de valor, que integram setores mais tradicionais e dependentes da evolução da economia, mas menos "sexy" para os investidores focados em companhias de elevado crescimento.

Só no terceiro trimestre deste ano foi evidente esta transferência de investimento, mas está longe de ser a "Grande Rotação" que muitos analistas preconizam há tempo. O S&P 500 Equal Weight, onde as 500 cotadas têm o mesmo peso, valorizou mais de 9% entre julho e setembro de 2024, superando o desempenho do S&P500 (5,5%) pela maior margem desde o final de 2022. No atual trimestre voltaram a inverter-se as posições, com o índice geral a marcar o quinto avanço consecutivo (3,2%), enquanto Equal Weight desce mais de 1%.

     
 
Tecnológicas concentram ganhos em Wall Street
 
     

Com a economia norte-americana a crescer a um ritmo robusto, a Fed a baixar os juros, Trump a prometer políticas amigas das empresas mais tradicionais (baixa de impostos e aumento de tarifas) e as grandes tecnológicas a negociarem com múltiplos cada vez mais "esticados", parecem estar reunidas as condições para que se acentue a transferência de investimento para fora do setor tecnológico, mas as estratégias de investimento parecem desmentir que há vida além das tecnológicas.

Os números voltam a ajudar a explicar esta "paixão" dos investidores pelas grandes tecnológicas. Os lucros das Sete Magníficas aumentaram 31% em 2023, enquanto no agregado das restantes 493 empresas verificou-se uma queda de 4%. Este ano deverá manter-se a distância (Sete Magníficas +36% vs S&P493 +3%) e as expetativas apontam para uma margem mais diminuta em 2025 (Sete Magníficas + 18% vs S&P493 +14%).

Entre os analistas, há visões diferentes sobre o impacto desta elevada concentração na Bolsa norte-americana. Muitos argumentam que Wall Street está vulnerável como nunca a um menor fulgor de um número reduzido de empresas. Destacou-se recentemente o alerta do Goldman Sachs, que estimou uma valorização média anual de apenas 3% do S&P500 na próxima década (longe da média de longo prazo de 11%) devido à elevada concentração do índice e múltiplos demasiado elevados apresentados por empresas que terão dificuldade em manter as atuais taxas de crescimento.

Outros analistas desvalorizam esta elevada concentração, confiando na capacidade de as Sete Magníficas continuarem a crescer a um ritmo fulgurante devido ao impacto transformador da Inteligência Artificial na economia global. Analisando o que aconteceu no passado, existem razões para otimismo.

Apesar da interrupção no terceiro trimestre, desde o início do ano o S&P500 supera o desempenho do índice Equal Weight em oito pontos percentuais. Nos últimos 50 anos, só em cinco a margem foi superior a 5 pontos percentuais. Nessas ocasiões, o S&P500 registou uma valorização média de 17% nos 12 meses seguintes.

Rendibilidades passadas não são garantia de rendibilidades futuras. Certo é que o desempenho da Nvidia será fundamental para a manutenção do domínio das grandes tecnológicas nas bolsas. O CEO da companhia disse no mês passado que a procura pela nova geração de chips Blackwell estava a ser "uma loucura", o que ajudou a catapultar as ações para novos recordes. Esta quarta-feira será necessário algo mais para que se mantenha a euforia.


DE SEGUNDA A SEXTA
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Walmart e G-20

A Walmart apresenta os resultados do terceiro trimestre fiscal, importantes para medir o pulso ao consumo das famílias nos Estados Unidos. Termina a importante cimeira do G20 no Rio de Janeiro.

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Nvidia e inflação no Reino Unido
Nvidia apresenta os resultados do terceiro trimestre fiscal e Reino Unido divulga dados da inflação de outubro que serão relevantes para os próximos passos do Banco de Inglaterra. .
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PMI da Zona Euro
Os PMI da Zona Euro deverão continuar a apontar para uma evolução fraca da economia.
Gráfico com valor
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Fosso entre Europa e Wall Street aumenta

O domínio das tecnológicas norte-americanas nas Bolsas ajuda a explicar o desempenho bem diferente entre os índices acionistas da Europa e dos Estados Unidos. Enquanto o Stoxx600 valoriza apenas 5% em 2024, o S&P500 dispara 25%. Segundo a Bloomberg, a diferença de 20 pontos percentuais é a mais elevada desde 1995. A vitória de Donald Trump nas eleições, com a promessa de tarifas sobre as importações de produtos europeus, só contribuiu para agravar este fosso entre as Bolsas dos dois lados do Atlântico que tem sido a nota dominante nos últimos anos. Desde 2015, só por uma vez o Stoxx600 conseguiu superar o Stoxx600.     


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