"Toby" é um programador informático de 41 anos que trabalha por conta própria. Pertence a um grupo na internet que está a dar que falar por ser contracorrente. A comunidade r/antiwork, na rede social Reddit, foi criada há oito anos e assume-se como um movimento político antitrabalho.
Durante muito tempo, o movimento "antiwork" passou despercebido, mas, com a pandemia, o que parecia ser apenas um fórum de discussão sem grandes repercussões ganhou relevância e de repente o número de membros disparou. No início de 2020, tinha menos de 80 mil participantes, agora conta com um milhão e 600 mil. Destes, quase 26 mil não trabalham.
O programador "Toby" é um dos moderadores da comunidade. Em respostas escritas ao Negócios, justifica o crescimento tão acentuado com o facto de, neste período, muitas pessoas terem posto a vida laboral em perspetiva. Estarem de licença ou a trabalhar a partir de casa fê-las perceber que "a vida longe do local de trabalho tem muito mais significado", defende. Por outro lado, houve pessoas a quem foi dito que tinham de ir trabalhar por serem "trabalhadores essenciais", mas que, por serem "tão mal pagas, não se sentem muito ‘essenciais’". Por fim, pessoas que perderam amigos e familiares por causa da covid-19 chegaram à conclusão de que "a vida é muito curta para ser gasta no trabalho".
Enquanto o número de membros desta comunidade sobe em flecha, há um fenómeno paralelo nos Estados Unidos conhecido como "The Great Resignation" (A grande demissão), que consiste numa onda de demissões voluntárias em massa e na recusa de muitas pessoas voltarem ao mercado de trabalho. O fenómeno provocou uma escassez de mão de obra no país, até em setores mais diferenciados, como auditoras e escritórios de advogados. As estatísticas oficiais apontam para 4,5 milhões de norte-americanos que se demitiram só no mês de novembro de 2021.
Na rede social Reddit, os membros estão sob anonimato. Todos se identificam com um "nickname". Mas os moderadores do r/antiwork realizam sondagens periódicas e fazem um raio-x à comunidade. Na última, realizada no mês passado, a que responderam cerca de 12.600 membros, os dados revelaram que 60% são do sexo masculino e quase metade (49,2%) está na faixa dos 25 aos 34 anos. Cerca de 20% têm entre 35 e 44 anos e outros tantos estão entre os 18 e os 24. Existe ainda "um número significativo" de pessoas entre os 45 e os 54 anos (5,3%). A faixa etária menos representada é a que está abaixo dos 18 anos (3,5%). Os membros acima dos 65 anos são residuais.
Cerca de 65% responderam que tinham um emprego a tempo inteiro e 8,5% não trabalhavam nem estudavam. Os restantes "são uma mistura de estudantes, trabalhadores em part-time ou temporários e pessoas que trabalham por conta própria".