- Para que serve esta newsletter? O Jornal de Negócios inicia uma nova newsletter para assinantes. Será um espaço de reflexão sobre economia, novas ideias e temas que muitas vezes irá além da aridez dos números. Será o mais abrangente possível e a comprová-lo, esta primeira edição sobre os populismos e a economia. Uma reflexão que já estava prevista ainda antes da crise política nacional de 7 de novembro e que, por isso mesmo, ganha nova relevância. Todas as semanas, elegemos um indicador para explicar a sua importância e um número que de destacou. E ainda uma frase que pode ser boa (uma "mais-valia") ou má (uma "menos-valia").
- O que pode ler nesta edição? Além da referida reflexão sobre populismos e a economia, um número que nunca tinha sido atingido em Portugal no mercado de trabalho. E uma frase que pode ficar para o futuro do Banco Central.
Até há bem pouco tempo, havia uma "crença" quase universal de que os populismos apenas medravam nos países em desenvolvimento, dando-se o exemplo maior da América Latina, mas a última década tem sido fértil em dar-nos outros exemplos dentro da Europa e nos EUA. E os trabalhos sobre os populismos têm-se centrado na análise dos resultados políticos e de como transformam países. Agora há também dados mais concretos sobre os efeitos na economia.
Um recente trabalho de três investigadores alemães lança algumas pistas sobre os efeitos de governos populistas na economia. E a primeira conclusão é bastante avassaladora: o impacto é negativo, em concreto uma quebra no PIB per capita de 10% em 15 anos. Um valor gigantesco. Já lá vamos.
Dissecar um populista
Mas antes de mergulharmos nos resultados dos investigadores Manuel Funke, Moritz Schularick e Christoph Trebesch (ainda em revisão) vale a pena definir o conceito de populista. Afinal de contas, cerca de um quarto dos países têm governos liderados por populistas ou com comportamento próximo disso. E temos exemplos aqui ao lado: Georgia Meloni em Itália ou Viktor Orbán na Hungria; ou mais longínquos, como na Índia com Narendra Modi. Os autores acreditam que o número mais elevado de governos populistas foi atingido em 2018, com 16 países liderados por populistas.
Mas há sinais positivos. No mais recente relatório do instituto do antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair sobre os populismos no mundo, em 2022, registou-se uma redução do número de pessoas a viver em países liderados por este tipo de governos, sobretudo na América Latina, com a saída de Jair Bolsonaro.
Afinal, o que é um populista? O conceito é esquivo e pode dar-se a muitas definições, mas o mais amplamente consensual aponta para o velho conflito entre "o povo" e as "elites". A retórica populista baseia-se em argumentos "antissistema", do choque entre "eles" e "nós". Portanto, um discurso confrontacional e de polarização entre o "povo" – genuinamente bom, trabalhador, autêntico e que o líder corporiza – e as "elites" – inerentemente corruptas, egoísta, ao serviço de interesses que não da população e uma minoria favorecida.
Esquerda vs. Direita
Para distinguir entre populismos de esquerda e de direita, há um ponto comum para o fazer: quem é o alvo: as elites económicas, os estrangeiros e as minorias ou as elites políticas que os protegem.
Os populistas de esquerda apresentam uma característica comum: "o anti-elitismo está frequentemente enquadrado em termos económicos", referem os autores. Ou seja, "atacam as elites financeiras, capitalistas e oligárquicas que supostamente saqueiam o país à custa do povo". Contestam a globalização e as organizações internacionais como o FMI e o Banco Mundial. Reivindicam a intervenção do Estado na economia e a nacionalização de empresas.
Já os populistas de direita enquadram o "discurso populista em termos culturais e visam estrangeiros, minorias étnicas e religiosas, que supostamente ameaçam a identidade e a cultura nacionais". Neste caso, ‘as elites’ (que são, acima de tudo, políticas) de protegerem estas minorias contra a vontade do ‘povo’."
O custo para a economia
Feita a definição, afinal qual é o impacto na economia? Para chegar a conclusões robustas, os investigadores avaliaram 51 primeiros-ministros ou presidentes desde 1900 até 2020 em 60 países. Foram analisados discursos de cerca de 1.500 líderes e os resultados económicos depois dos respetivos mandatos com o contrafactual o que seria um líder moderado. Um trabalho mastodôntico.
Os resultados são depressivos e mostram que estes líderes conseguem ter uma performance política irritantemente eficaz, mas políticas económicas desastrosas. E mais, conseguem ficar no poder duas vezes mais tempo do que líderes não-populistas.
O PIB per capita é 10% mais baixo comparando com o que seria sem um líder populista; assiste-se a uma desintegração económica, diminuiu a estabilidade macroeconómica (a dívida tende a subir (cerca de 10 pontos percentuais), há uma erosão das instituições e da competitividade. Se inicialmente, os resultados poderão parecer risonhos, os autores concluem que no longo prazo, os populismos são destrutivos para a economia.
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