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Copos e mulheres no pelotão da frente 

No essencial, as reformas necessárias deixaram de se fazer desde 1992. A retribuição logo chegou (portanto, muito antes da chegada do euro) sob a forma de paralisia no processo de convergência.

O "Livro branco sobre o futuro da Europa: reflexões e cenários para a UE27 em 2025"  e o pronunciamento de vários líderes das maiores economias da Europa em favor da ideia das várias velocidades não suscitou entre nós o início de um processo de reflexão - a que o documento bem  apela - mas, antes, provocou reacções pavlovianas à  simples hipótese de sermos excluídos do "pelotão da frente". Para uns, é evidente que devemos procurar, a todo o custo, continuar no "pelotão da frente" da UE e do euro. Para outros, é uma oportunidade de ouro para vincar os aspectos mais negativos da nossa integração nas comunidades europeias.

Integrar o pelotão da frente, só por si, não valerá grande coisa se essa pertença não for acompanhada por reformas profundas no mercado do trabalho e dos produtos e nas instituições que regulam a actividade económica. Portugal continua a ser o país da UE e da OCDE com menor flexibilidade no mercado do trabalho e com rigidez muito elevada no mercado dos produtos e nas instituições regulatórias.

No essencial, as reformas necessárias deixaram de se fazer desde 1992. A retribuição logo chegou (portanto, muito antes da chegada do euro) sob a forma de paralisia no processo de convergência.

Os decisores públicos e o essencial das elites continuam, irresponsavelmente, a atribuir os nossos problemas a factores externos ao país, à crise internacional, à "falta de solidariedade" da Europa, ao euro. Depois, fingem de falsas virgens ofendidas quando alguns líderes europeus, menos polidos e mais boçais, sublinham, com frases pouco escolhidas, a situação dramática em que o país, voluntariamente, se colocou. 

Entre 1992 e 2016, durante 24 anos, a convergência evoluiu 6 pontos percentuais, de 62% para 68%. As previsões da OCDE, efectuadas em 2014 - na hipótese de que continuamos com a mesma política económica - significam que, em 2060, teremos um PIB per capita que será 71% do da Europa mais desenvolvida. Isto é, uma evolução de 3 pontos percentuais em 45 anos. Em 2060 teremos necessitado de 62 anos para evoluir 8 pontos percentuais, bastante menos do que os 11 pontos que progredimos em apenas sete anos (1986-1992) com o choque estrutural que, em boa hora, nos impuseram aquando da adesão à CEE.

Não havendo motivos para duvidar das contas da OCDE, na verdade, se não mudarmos de vida, vamos ter pela frente muitos anos bem preenchidos de episódios tipo "copos e mulheres".

Economista e professor no ISEG

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