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Adolfo Mesquita Nunes - Advogado
14 de Novembro de 2016 às 19:33

A crise das sociedades abertas 

Começa a ser claro que o debate político atual se centra na melhor forma de responder à mudança, à novidade, à concorrência, ao estrangeiro, àquilo que nos desafia.

Pretendemos uma sociedade aberta ao outro, ao estrangeiro, ao inovador, à diferença, e, portanto, disposta ao risco da concorrência, adaptando-se à mudança e atualizando-se com ela?

Ou pretendemos uma sociedade fechada, protegida do outro, da mudança, da concorrência, que procura preservar-se do exterior, evitando que este interfira com o já conhecido?

Estas são as opções que nos dividem nos dias que correm - mais até do que a ainda válida distinção entre esquerda e direita - e geram uma improvável reorganização.

Olhemos para Trump, Le Pen, Farage, Tsipras, Sanders, Jerónimo ou Catarina Martins e atentemos no que têm em comum, apesar de não se equivalerem: por um lado, a crítica à globalização, ao mercado livre, aos tratados e organizações internacionais, à concorrência de trabalhadores ou empresas estrangeiras, aos novos modelos de negócio; por outro lado, a defesa de governos patrióticos, da produção nacional, das barreiras alfandegárias.

A sociedade aberta é, assim, para esses extremos, a explicação fácil para os problemas, muitos, que atualmente enfrentamos. Elimine-se a abertura, fechem-se as fronteiras, acabe-se a concorrência, e a vida voltará a ser o que já foi. 

Torna-se fácil explicar o mundo quando se tem um inimigo externo, que serve para tudo, e num ambiente em que os factos valem menos do que as narrativas, do que as perceções.

Daí que, com algum labor e muita eficácia, a sociedade aberta, liberal, acabou descrita como o símbolo do sistema, dos interesses, da injustiça: uma empresa fecha, a culpa é da globalização; pessoas são despedidas, a culpa é da globalização; os salários estão baixos, a culpa é da globalização; não há casas livres nos centros das cidades, a culpa é da globalização; não há pleno emprego, a culpa é da globalização.

O mundo como que se divide, nesses discursos, entre bons e maus. Já não estamos perante diferentes e legítimas formas de chegar ao bem comum, mas, isso sim, perante uma bifurcação ética: de um lado, os que querem o bem, a justiça, e, do outro lado, os que estão apostados em explorar as pessoas até ao limite do possível.

Chegámos ao ponto em que os que defendem novos modelos de negócio aparecem caricaturados como gente sem escrúpulos que se está nas tintas para os modelos mais antigos, como se fosse essa a opção. Chegámos ao ponto em que os grandes beneficiários da globalização se esquecem dessa mesma circunstância, alinhando em discursos antissistema.

E a verdade é que, do lado dos que defendem a sociedade aberta, dos que acreditam que o crescimento e o emprego surgem mais consistentemente em países com maior liberdade económica, não tem havido capacidade para reagir a esse discurso. 

A eleição de Trump é mais um passo na afirmação do modelo de sociedade fechada, não é um passo qualquer. Quando o Presidente dos EUA, país que, mais do que nenhum outro, soube ser a reserva das liberdades, se permite relativizar a liberdade, menosprezar o livre comércio ou a livre circulação, estamos perante um sério revés do modelo de sociedade em que firmemente acredito.

Nesse sentido, Trump constitui um grito de alerta. É como se precisássemos de encontrar uma nova forma de mobilizar as populações para o valor da liberdade e para as suas positivas consequências. É nesse esforço que me encontro.

Advogado

 

Este artigo está em conformidade com o novo acordo ortográfico

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