Voando sobre o "bull market"
A bolsa portuguesa teve uma excelente semana, embalada pela OPA sobre a EDP lançada pela China Three Gorges. Mesmo sabendo que o preço oferecido foi baixo, uma operação desta dimensão anima sempre o mercado e sinaliza que, apesar das subidas, ainda há espaço de valorização para muitas acções da bolsa portuguesa.
O "bull market" português está quase a festejar o seu segundo aniversário e, apesar disso, continuo sem ver qualquer euforia no mercado. Este é um dos "bull markets" menos amados da história da bolsa portuguesa e o cepticismo teima em marcar presença mas, tal como referi sistematicamente nos últimos meses, esse cepticismo é o alimento preferido dos touros. Adoro "bull markets" carregados de cepticismo e começo a ficar nervoso quando ele dá lugar à euforia.
Alguns contradizem-me dizendo que os máximos históricos de algumas acções são um claro sinal de euforia. Discordo profundamente. Os "telejornais" continuam sem dar destaque às subidas da bolsa, as primeiras páginas dos jornais continuam sem falar do mercado e as conversas de café são sobre o Sporting, a Eurovisão, Sócrates e nunca sobre os mercados. Quem anda há mais de 20 anos na bolsa portuguesa sabe bem como são os tempos de euforia e nada tem que ver com o que vivemos actualmente.
Se dúvidas havia sobre a quebra da resistência dos 5.500 pontos, esta semana elas dissiparam-se. Os sinais de força multiplicam-se, algumas acções estão em máximos históricos e os touros dominam em todos os horizontes temporais. No curto prazo, estas subidas fortes levaram o PSI a estar em "sobrecompra" o que, aliado à proximidade da resistência na zona dos 5.800 pontos (máximo dos últimos três anos), faz com que aumente a probabilidade de uma correcção ou consolidação no curto prazo que permita aliviar os indicadores antes de abrir espaço para voos bem mais altos.
Se essa acalmia chegar nos próximos dias, pode ser uma oportunidade para quem está de fora entrar neste "bull market". As retracções e consolidações que têm ocorrido têm sido sempre excelentes oportunidades de entrada. Naturalmente haverá um dia em que isso falhará, mas não vejo sinais de fraqueza até ao momento. E em que acções devem os investidores cavalgarem o "bull market"?
Recomendo sempre acções que estão em tendência ascendente. Bem sei que as acções que estão a cair parecem mais apelativas, mas a força da tendência deve ser respeitada e não nos esqueçamos que, mesmo nos mais poderosos "bull markets" da bolsa portuguesa, houve sempre acções que não a conseguiram acompanhar. Acções que têm tido subidas verticais como a Altri ou a Navigator não seriam os meus alvos pois as entradas poderiam estar a ser feitas antes de correcções fortes, mas quem detém essas acções não tem qualquer sinal de fraqueza nem razão para as vender, continuando a deixar correr os lucros.
A Sonae SGPS é, para mim, uma escolha óbvia. Não vou entrar na análise fundamental da empresa pois já sabem que não é isso que suporta as minhas análises. Mas, historicamente, é a acção que mais de perto replica o PSI e que exacerba os seus movimentos. É uma acção que qualquer investidor deve ter em carteira num "bull market" português e fugir dela quando o "bear market" chega.
O BCP é outra acção que considero muito interessante no actual cenário. O risco é evidentemente maior, mas o potencial é grande pois os seus movimentos são de grande amplitude - num ano e meio de "bull market" o BCP já duplicou o seu valor. O importante, em acções deste género, é nunca esquecer a colocação de um "stop" caso o mercado inverta, neste caso abaixo do suporte relevante na zona dos 0,26 euros.
Para completar o trio de acções interessantes para cavalgar mais uma fase do "bull market" escolheria a EDP Renováveis. É verdade que a OPA incluía um preço abaixo do mercado, mas isso acontece porque a EDP já tem o controlo de parte da Renováveis. A acção esteve bastante tempo aprisionada ao valor da anterior OPA, mas soltou amarras nos últimos meses e na semana passada quebrou a importante resistência na zona dos 8,10 euros.
Com tantas acções em "bull market" foi difícil escolher três porque o que não faltam são acções tecnicamente fortes. Enquanto não der sinais de fraqueza, continuo com este fato de touro que trago vestido há tanto tempo. Não são as más notícias, os perigos, as crises mundiais ou os profetas da desgraça que me farão despir esse fato. O que me fará trair os touros serão sinais de fraqueza dos mercados ou quando os "confetis" e as serpentinas estiverem por todo o lado. Aí sim, começa o verdadeiro perigo. Por mim, dormia todos os dias de braço dado com os touros e com o cepticismo colado a nós.
Nem Ulisses Pereira, nem os seus clientes, nem a DIF Brokers detêm posição sobre os activos analisados. Deve ser consultado o disclaimer integral aqui
Analista Dif Brokers
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