A lição de Krugman
“Vocês são mais fortes do que pensam. Ajam em conformidade”, diz o Nobel da Economia à União Europeia.
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A carta à Europa, escrita por Paul Krugman, Nobel da Economia, é de leitura obrigatória. E, para Bruxelas, constitui uma ferramenta de extrema utilidade tendo em vista a negociação da problemática das tarifas com a Administração Trump.
A retórica abrasiva de Donald Trump costuma sobrepor-se à racionalidade, circunstância que dificulta qualquer tipo de entendimento e acaba por extremar o diálogo diplomático. É impossível conversar com quem grita e negociar com quem quer impor.
Portanto, o único caminho que resta é gerir a parte que se consegue controlar, o que neste particular significa que a União Europeia se deve concentrar em si e nas suas capacidades. “Vocês são mais fortes do que pensam. Ajam em conformidade”, desafia o Nobel da Economia.
Aliás, o apoio que Trump, o seu vice, JD Vance e a Breitbart News têm dado aos partidos de extrema-direita europeus faz parte de uma estratégia cuja finalidade é fazer com que a UE se vergue às exigências dos EUA, tanta no plano económico como ao nível político.
O líder norte-americano pretende fomentar a instabilidade na UE para abrir portas a uma nova ordem de partidos e líderes que lhe sejam subservientes.
Na referida carta, Krugman demonstra, por exemplo, que a questão do défice comercial, usada por Trump para justificar a imposição de tarifas alfandegárias à UE, está longe de ser aquela que o Presidente norte-americano verbaliza.
“Parte do nosso défice [Krugman é norte-americano] de bens é provavelmente fictício. De acordo com os números oficiais, a Irlanda é responsável por 1/3 do excedente comercial da UE com a América. Isto porque, de acordo com estes números, a Irlanda vende aos EUA seis vezes mais do que compra. Mas isto é quase de certeza uma invenção com truques contabilísticos destinados a evitar impostos”, escreve o economista.
“Seja no comércio, seja no PIB, seja em tudo o que não tenha a ver com tecnologia mais avançada, vocês não estão mais dependentes dos Estados Unidos do que os Estados Unidos estão de vocês. Não há nada que vos obrigue a satisfazer as ilusões do rei louco dos Estados Unidos.”
Esta será, porventura, a derradeira oportunidade para a União Europeia se assumir como potência. Não o fazer terá um custo enorme para a economia e vulnerabilizará o Velho Continente na componente securitária. No fundo, cumprir o desiderato ontem traçado pelo chanceler alemão, Friedrich Merz: “A nossa tarefa histórica é tornar a Europa tão forte que possa restabelecer a paz no nosso continente e assegurá-la a longo prazo".
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