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Indústria eletrodigital quer estabilidade e visão estratégica para criar valor em Portugal

Impostos elevados, burocracia e pouca flexibilidade do mercado de trabalho são os principais entraves à competitividade do setor eletrodigital. Esta é a visão das empresas retratada num estudo que a AGEFE está a promover no qual também se destacam as oportunidades de crescimento para Portugal.

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Luís Leitão, presidente do setor de eletrodomésticos, Daniel Ribeiro, diretor-geral da AGEFE, Vasco Falcão, presidente do setor de eletrónica e TIC
Luís Leitão, presidente do setor de eletrodomésticos, Daniel Ribeiro, diretor-geral da AGEFE, Vasco Falcão, presidente do setor de eletrónica e TIC

Legenda: Luís Leitão, presidente do setor de eletrodomésticos, Daniel Ribeiro, diretor-geral da AGEFE, Vasco Falcão, presidente do setor de eletrónica e TIC

Portugal tem condições para se afirmar como hub europeu de inovação e produção no setor eletrodigital, mas só vai conseguir concretizar esse potencial se houver estabilidade política, simplificação fiscal e políticas industriais consistentes. Esta é uma das principais conclusões do Evento Nacional de Eletrodomésticos, Eletrónica e TIC – Criar valor num mundo em mudança, organizado pela , a Associação Portuguesa da Indústria Eletrodigital, no ano em que celebra o 50.º aniversário.

Para Nuno Lameiras, presidente da AGEFE, associação que reúne “160 empresas, 11 mil colaboradores e 5 mil milhões de euros em volume de negócios”, Portugal é um “território privilegiado para o desenvolvimento do setor eletrodigital e do capital humano” e as empresas do setor dos eletrodomésticos, eletrónica e tecnologias de informação e comunicação (TIC) “podem contribuir para o aumento da competitividade”. Mas, para que isso aconteça, existem desafios que têm de ser ultrapassados.

Segundo as empresas consultadas, existem desafios estruturais que podem travar a competitividade, nomeadamente o peso do Estado com fiscalidade elevada e burocracia; o mercado de trabalho, com as dificuldades inerentes à captação, gestão de talento e à reduzida flexibilidade do mercado laboral; seguidos da instabilidade política, com mudanças frequentes de Governo e a consequente ausência de visão estratégica a longo prazo. O consumidor mais exigente e a pressão regulatória ESG (Environmental, Social e Governance – Ambiental, Social e de Governação); a baixa rentabilidade e os elevados custos logísticos; e a falta de escala e segurança no e-commerce também foram apontados como possíveis entraves à competitividade do setor eletrodigital.

O presidente da AGEFE, Nuno Lameiras (à direita), diz que Portugal é um território privilegiado para o desenvolvimento do setor eletrodigital e do capital humano

Desafios específicos

Cada um dos setores tem também os seus desafios específicos. No setor dos eletrodomésticos, foi apontada a “concorrência intensa” de “grandes players globais e nacionais ativos com forte pressão concorrencial e riscos acrescidos de destruição de valor na cadeia”, além da “comoditização dos produtos”, ou seja, a “pouca diferenciação, com vantagem em migrar para serviços associados”. De acordo com os contributos recolhidos, no setor de eletrónica e TIC, os maiores desafios são o mercado “pequeno”, com “baixa atratividade para centros de competência globais”; o atraso na adoção tecnológica, que se manifesta por “cloud híbrida mal compreendida, inteligência artificial (IA) ainda incipiente, ausência de prioridade a tecnologias de ponta futuras”; a “dependência externa em hardware crítico” e, no que diz respeito ao segmento da saúde, uma “forte regulação no healthcare” com um “mercado orientado a preço” que “limita a inovação e adoção de novas soluções”.

Ao nível macroeconómico também existem desafios. Não só as tensões geopolíticas – como o conflito entre a Rússia e a Ucrânia ou a imposição de tarifas por parte de Donald Trump – como também o mercado único europeu.

Segundo Daniel Ribeiro, diretor-geral da AGEFE, o mercado único europeu, que é o principal ativo da UE, é “o principal desafio” para todos nós. “Com a adesão da China à Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2000, entrámos num mundo diferente. O desafio enorme da globalização alterou o quadro em que o mercado único se desenvolve e se cria. A Europa está confrontada com a necessidade de repensar a autonomia estratégica”, afirma. Também Luís Leitão, da TEKA e presidente do setor dos eletrodomésticos, salienta que é necessário “afastarmo-nos dos mercados asiáticos e produzir mais localmente”. “Portugal é um país periférico e pela nossa presença não vamos conseguir ser os melhores em termos logísticos. Pelo preço não vamos lá”, garante.

No mesmo sentido, Paolo Falcioni, diretor-geral da APPLiA, associação europeia da indústria de eletrodomésticos que reúne empresas e associações dos vários Estados-membros, admite que “o mercado único ainda não está a funcionar” porque existe “uma fragmentação”: “As tensões entre Estados-membros não estão a permitir que o mercado único europeu floresça. Gostava de ver algo como os Estados Unidos da Europa. É o meu sonho”, afirma. Para o diretor-geral da APPLiA, é necessária uma “mudança de mentalidade, não só do ponto de vista económico, mas da sustentabilidade” e dá como exemplo “o custo da energia”: “Estive com o comissário europeu e perguntei diretamente ‘o que vão fazer para reduzir custos?’. Ele disse: ‘Pedi aos países para eles reduzirem os custos e eles não o fizeram’. Esta não pode ser a resposta de um comissário. Enquanto a mudança de mentalidade não acontecer, não se vai notar no terreno”, assegura. No entanto, está otimista com o facto de António Costa ser presidente do Conselho Europeu e afirma mesmo que isso pode permitir que Portugal seja “líder na simplificação da regulação” europeia – também apontada como um entrave à competitividade. Ideia partilhada por Vasco Falcão, da Konica Minolta e presidente do setor de eletrónica e TIC: “Portugal pode ser o local onde simplificamos a regulação europeia. Podemos ter um hub europeu que faz essa simplificação e adaptação para as regulações nacionais.”

Luís Aguiar Conraria, professor na Universidade do Minho, diz que a IA poderá ser uma solução para a baixa produtividade de Portugal

A IA como motor de produtividade

92% dos presentes no evento consideraram que Portugal tem potencial e oferece condições favoráveis para desenvolver atividades de elevado valor acrescentado. O estudo identificou quatro eixos prioritários para a criação de valor. O mais prioritário, para o setor eletrodigital em geral, é a captação de valor e dinamização da procura, seguido da eficiência e redução de custos, da transformação da atividade e capacitação da oferta e, por fim, do aproveitamento do potencial de Portugal como hub económico para novos mercados. O estudo destaca ainda as oportunidades de crescimento através do capital humano, transformação digital e automação, sustentabilidade e economia circular, inteligência artificial e novos modelos de negócio.

Luís Aguiar-Conraria, professor na Universidade do Minho, defende que a inteligência artificial poderá ser uma solução para a baixa produtividade de Portugal desde que o país consiga acompanhar o ritmo do resto da UE. Ao comparar com a digitalização, o professor catedrático apresentou dados que demonstram que Portugal “partiu sempre de trás” face às congéneres europeias. Por exemplo, no que diz respeito à utilização dos bancos online, Portugal tem uma média de 63,5%, o que compara com os 67,2% da UE. No que diz respeito à inteligência artificial, “Portugal está a crescer de forma linear enquanto a UE está a crescer de forma exponencial” (Portugal registou um crescimento de 8,6% em 2004, enquanto a média da UE é de 13,5%).

Ainda assim, segundo estudos da revista Science e da Harvard Business School e Boston Consulting Group, citados pelo professor universitário, a maioria dos trabalhadores que usa a IA para desempenhar tarefas acaba-as mais rápido e com mais qualidade, sendo, desta forma, mais eficientes. No entanto, os mesmos estudos demonstram que “os participantes com menores capacidades foram os que mais beneficiaram do uso do ChatGPT”: os “trabalhadores menos competentes melhoraram a velocidade e a qualidade do trabalho, enquanto os trabalhadores mais competentes gastaram mais tempo porque o ChatGPT dá erros e eles foram corrigir”, explica Luís Aguiar-Conraria. O que, na sua opinião, significa que, “bem usada, a IA reduz desigualdades entre quem usa e aumenta entre quem usa e quem não usa”.

Ricardo Martinho, presidente da IBM Portugal, acredita que “a IA generativa é um catalisador poderoso para a transformação empresarial”, mas, para que isso aconteça, é fundamental ter “literacia”: “Será que posso agarrar no ChatGPT e trazê-lo para dentro da minha empresa? Provavelmente não. Porque as características da IA para as empresas são diferentes das para uso comum. Os modelos de IA têm de estar ajustados com os meus objetivos para não pôr em risco a informação e a diferenciação de cada empresa. Não posso pôr dados confidenciais da empresa no ChatGPT porque não sei onde ele os guarda e podem deixar de ser só meus e passar a ser da comunidade. Depois tenho de ver que modelos estou a usar. Há muitos modelos de IA. Há modelos que podem ter um custo 67 vezes mais do que outros. É fundamental que percebamos o que estamos a usar e como podemos usar”, assegura. Por isso, defende que é necessário “começar por áreas com menor risco, mais repetitivas, com processos similares e menos impacto dentro das empresas”. Além disso, é necessário dar formação e requalificar o capital humano: “Será que a IA vai acabar com o meu posto de trabalho? Acreditamos que vai trazer mais oportunidades do que aquelas que vai destruir. Mas se eu tiver alguém cuja única função é validar campos de uma fatura, é provável que a IA a substitua. Por isso, é necessário reskilling e upskilling.”

Ricardo Martinho, presidente da IBM Portugal, acredita que é preciso ter literacia para utilizar bem o ChatGPT

"Captar os nossos cérebros"

No que diz respeito ao capital humano, Luís Leitão, presidente do setor dos eletrodomésticos, destaca como vantagem o facto de a maior parte da comunidade portuguesa ser “bilingue e trilingue”, por isso, afirma, é extremamente importante “captar os nossos cérebros”, deixando-os “ir lá fora para terem experiência”, mas também dando condições para que queiram  “voltar para cá”. Neste sentido, Pedro Coelho, da HP, frisa que existem outros “problemas estruturais” como “o da habitação”, que é preciso resolver “para podermos proporcionar às pessoas uma vida digna”.

A visão das empresas é o ponto de partida para um estudo mais amplo. Os primeiros resultados do estudo intitulado “A Indústria Eletrodigital em Portugal e na Região de Lisboa: Perspectivas de Evolução a Médio Prazo na Cadeia de Valor” vão ser divulgados em novembro, perspetivando um conjunto de recomendações práticas quanto às condições para a indústria eletrodigital poder ganhar escala, reduzir vulnerabilidades e reforçar a criação de valor em Portugal.

Evento Nacional de Eletrodomésticos, Eletrónica e TIC – Criar valor num mundo em mudança, organizado pela AGEFE, foi um êxito
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