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Joaquim Aguiar
11 de Abril de 2018 às 18:55

Os mitos em política  

Na base do poder político está a legitimação dos eleitores, que não podem ser vistos como ingénuos enganados. A história dos banqueiros e dos seus clientes é um mito mal contado.

A FRASE...

"Continua a faltar dinheiro para muita coisa; para a banca é que nunca falta."

Jerónimo de Sousa, Público, 7 de Abril de 2018

 

A ANÁLISE...

 

Entrámos há pouco numa nova época na teoria e no discurso político, em que a novidade são as notícias falsas, que fazem à análise objectiva o mesmo que a moeda falsa faz à moeda legal: no fim do processo, só ficariam os falsários, e nem a teoria, nem o discurso político, teriam efeito útil. Porém, uma afirmação falsa, ainda que muitas vezes repetida, não se torna verdadeira. Torna-se um mito, uma explicação mágica que é inverosímil, mas que influencia o modo como a sociedade interpreta os acontecimentos. Fazer dos banqueiros uma seita de burlões e dos seus clientes um grupo de ingénuos enganados poderá ser um mito, não é uma explicação baseada na observação da realidade efectiva das coisas. Para sobreviver nesta nova época das notícias falsas, é imperativo romper as bolhas de ilusão, procurar o que se esconde atrás das notícias falsas, para que a força das coisas não tenha de se impor pela via das catástrofes.

Os bancos realizam uma função de intermediação na afectação dos recursos financeiros, usando os meios que são colocados à sua disposição (depósitos e empréstimos interbancários) para os colocarem em aplicações (créditos e títulos) cujos rendimentos cubram os seus custos de funcionamento e remunerem o capital que neles foi investido para que o banco possa existir. Poderá haver erros de gestão bancária, poderá haver desvios ao regular funcionamento destas entidades, poderá haver violação das normas da supervisão, mas a realidade efectiva das coisas irá revelar os erros e os desvios, punindo e eliminando uns para deixar esses segmentos de mercado livres para os que são mais eficientes, mais ponderados ou simplesmente mais competentes na avaliação das suas decisões.

Mas se todos os bancos desse sistema económico evidenciarem os mesmos erros e desvios, a regeneração por substituição dos que fracassam não poderá ser feita ou não terá efeito útil. Os bancos são intermediários entre agentes económicos e se todos os bancos revelam as mesmas deficiências, é na configuração do sistema económico que tem de se procurar a origem do problema. Quem configura o sistema económico é o poder político, que incentiva e autoriza, ou pune e elimina. E na base do poder político está a legitimação dos eleitores, que não podem ser vistos como ingénuos enganados. A história dos banqueiros e dos seus clientes é um mito mal contado.

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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