Ser e estar
Hoje, a questão prioritária é a dívida e como estancar as fontes da dívida para poder ter investimento e crescimento.
A FRASE...
"Enquanto esta solução funcionar, Portugal evita o populismo de esquerda, que afecta sobretudo os nossos parceiros do Sul."
Teresa de Sousa, Público, 11 de Dezembro de 2016
A ANÁLISE...
A dificuldade em distinguir entre "ocupar o poder" e "exercer o poder" quando se observam os assuntos da política aparece com uma frequência surpreendente. É como se a diferença entre estar e ser não tivesse relevância para os que observam a política. Ou como se a política fosse um jogo virtual, em que os protagonistas vivem as histórias que eles próprios inventam.
Quem observa fica fascinado com os jogos de corpos e de sombras, não quer ver que os efeitos de luzes escondem corpos e produzem sombras em função das conveniências - um artifício que se conhece desde a caverna de Platão e que hoje se repete nas produções da comunicação social. Foi sempre uma mistificação a afirmação de que "em política, o que parece é", pois, em política, o que é nunca é o que é mostrado para ser o que parece.
Quem ocupa o poder pode impedir acontecimentos e revelações, mas não exerce o poder - isto é, não conduz estrategicamente a sociedade e, sobretudo, desistiu de a modernizar. E quem ocupa o poder para impedir o inevitável ou para evitar revelações condena-se a ser arrastado e afastado pela realidade da política. Uma solução política que funcione e evite o populismo de esquerda (ou de direita) só existe se exercer o poder - e isso exige que responda à questão prioritária dessa época. Há quatro décadas, a questão prioritária era o fim do império e o que seria o modelo de desenvolvimento depois de perdida essa escala. Hoje, a questão prioritária é a dívida e como estancar as fontes da dívida para poder ter investimento e crescimento.
Quando o populismo de esquerda propõe a reestruturação da dívida, não pode ignorar que isso só é possível se tiver estancado as fontes da dívida - porque depois de reestruturada uma dívida, não haverá acesso a nova dívida. O que parece não é o que é - é mesmo o oposto do que parece.
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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