A AGEFE – Associação Portuguesa da Indústria Eletrodigital comemorou 50 anos de atividade com um evento com o objetivo de projetar o futuro da indústria eletrodigital, que representa um volume de negócios superior a cinco mil milhões de euros na economia portuguesa. O tema “Desafio 2050: O Futuro da Indústria Eletrodigital” foi a debate numa tarde em que a apresentação do estudo “A Indústria Eletrodigital: Perspetivas de Evolução na Cadeia de Valor” teve um papel crucial na discussão que reuniu especialistas, académicos associados e influenciadores políticos, no CCB.
Nuno Lameiras, presidente da AGEFE, iniciou a agenda de trabalhos antecipando a apresentação do estudo desenvolvido pela AGEFE em parceria com a EY-Parthenon, no âmbito do programa Lisboa 2030, cofinanciado pela União Europeia.
Este estudo, cujas conclusões e recomendações preliminares foram apresentadas pela primeira vez neste evento, assinalam meia década de existência da AGEFE e equacionam as perspetivas de desenvolvimento e crescimento da Indústria Eletrodigital em Portugal, mapeando oportunidades de investimento, inovação e criação de valor ao longo de toda a cadeia – desde a produção de equipamentos e soluções até aos serviços digitais e à integração em sistemas inteligentes. Esta iniciativa visa definir estratégias e definir as condições para que o nosso país assuma um papel mais central na economia eletrodigital europeia, num momento em que a transição energética e a digitalização convergem como motores de transformação.
O documento analisa o estado atual do setor e identifica as condições essenciais para o aumento do valor acrescentado gerado internamente, a atração de investimento qualificado, a inovação tecnológica e o posicionamento como território de referência em soluções eletrodigitais. É um instrumento para as empresas e para os poderes públicos que propõe um conjunto de recomendações para o reforço da competitividade e a integração em cadeias de valor cada vez mais significativas a nível global.
Tendências na geopolítica, economia e empresas foram a debate
Sob o mote “Tendências na Geopolítica, Economia e Empresas”, António Costa Silva, António Ramalho e Paulo Portas, figuras de destaque nos domínios da economia e da estratégia em Portugal, procuraram antecipar os grandes desafios e oportunidades para o setor até 2050, num contexto global marcado por mudanças tecnológicas aceleradas e novas dinâmicas de criação de valor. Estas apresentações culminaram num debate, moderado por Daniel Ribeiro, o diretor-geral da AGEFE.
“Este setor invisível é crucial. Move todos os outros setores. Não há rede de distribuição de energia sem indústria eletrodigital. Intervém na transição energética e desenvolvimento das energias renováveis. É fundamental para a eletrificação da economia, tendência mundial incontornável. É essencial para a mobilidade elétrica, a robótica e os processos industriais. É o suporte para a inteligência artificial, que vai mudar a economia do século XXI. É o equivalente ao surgimento da eletricidade. Terá o mesmo impacto na produtividade global”, afirmou António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar de 2022 a 2024.
Já o ex-presidente do Novo Banco, António Ramalho, analisou o impacto da “proliferação de crises não predeterminadas” nos modelos de gestão europeus. Criticou o modelo “processualista”, avesso ao risco e excessivamente centrado em regras, que considera responsável pela perda de competitividade face aos Estados Unidos e à China. Segundo o economista, a Europa enfrenta desafios estruturais — demografia, energia, tecnologia — que exigem novos incentivos e um Estado estrategicamente orientado, capaz de garantir que as empresas permanecem como pilares intermédios da economia.
A perspetiva internacional foi desenvolvida por Paulo Portas, jurista, professor e comentador político, que destacou a redefinição da relação económica entre Estados Unidos e China. A capacidade produtiva chinesa — concentra metade das reservas mundiais e quase todo o processamento de terras raras —, altera o equilíbrio global, embora enfrente um desafio demográfico sem precedentes.
A robotização e a inteligência artificial surgem como possíveis compensações para a quebra demográfica chinesa, enquanto a Europa debate a sua própria perda de relevância em áreas como produtividade, inovação e escala. “A Europa tem de escolher entre reforma ou declínio”, afirmou Paulo Portas, alertando para o risco de se tornar apenas “o melhor museu do mundo”.
Papel essencial para o país
O secretário de Estado da Digitalização, Bernardo Correia, que representou o Governo neste encontro, elogiou o papel do setor eletrodigital na dinamização da competitividade da economia portuguesa. “A AGEFE tem sido casa, ponte, força motriz de um dos setores mais determinantes para o país. Continua a desempenhar um papel essencial. Sem este setor seríamos incapazes de liderar um dia a transição digital e a transformação energética e industrial. Este setor é absolutamente crítico em todas as áreas”, afirmou o membro do executivo. A celebração permitiu ao Governo reforçar a disponibilidade para “ouvir as empresas e perceber o que é possível fazer para se extrair mais potencial económico e acelerar a transformação do país”, correspondendo a uma ambição da AGEFE, que procura promover um ambiente político, empresarial e regulatório favorável à atividade dos setores representados.
Ajudar os setores a ultrapassar as fronteiras tradicionais e a colocar-se ao serviço do restante tecido económico, tornando-o mais eficiente, mais sustentável e mais preparado para competir globalmente, é o objetivo da nova estratégia de crescimento da AGEFE.
“Nunca deixou de se apresentar como o grande desafio da AGEFE. Atualmente tem características novas. Os microciclos políticos tornam mais difícil a interlocução com este poder relativamente à relevância da nossa agenda. O que a AGEFE sempre fez, com mais ou menos dificuldade, foi ter uma postura de interlocução qualificada, consistente e sempre transparente com todos estes stakeholders. É isso que vamos continuar a fazer. Ainda que os avanços possam parecer pequenos, somos movidos por um propósito maior. Um dia lá chegaremos”, justificou Nuno Lameiras.
160 empresas, 11 mil trabalhadores e um volume de negócios de cinco mil milhões de euros
Fundada a 8 de julho de 1975, a AGEFE nasceu com a designação de Associação Portuguesa de Grossistas de Material Elétrico, Fotográfico e Eletrónico. Decorrido meio século, representa 160 empresas, que empregam 11 mil trabalhadores e geram um volume de negócios de cinco mil milhões de euros. Opera nos setores elétrico, eletrodoméstico, eletrónico e das tecnologias de informação e de comunicação, atuando no desenvolvimento de soluções que sustentam a modernização das infraestruturas. A indústria eletrodigital está no dia a dia das pessoas e das cidades, dos edifícios e das indústrias, do ambiente e do digital.
“Até há pouco tempo, fomos uma associação que albergava três setores com agendas, pertinências e dinâmicas diferentes ao nível associativo. Estes três setores convergiram numa única plataforma de interesse e a designação de setor eletrodigital resulta do reconhecimento de que contribuem de forma equilibrada para que Portugal vença os principais desafios à sua frente”, explicou o presidente da AGEFE, Nuno Lameiras. Os reptos para o futuro estão identificados e traduzem a importância do setor nas transições energética e digital, reindustrialização e ação climática.
A comemoração dos 50 anos da AGEFE incluiu a apresentação de um livro que revisita a história do associativismo no setor e homenagens a antigos dirigentes e colaboradores. Mas o futuro centrou atenções, devido à convicção de que Portugal está numa posição única para combinar energia, conhecimento e tecnologia e que a indústria eletrodigital será um dos grandes aceleradores desse desenvolvimento nas próximas décadas.
“O futuro de Portugal nunca pareceu tão promissor. Recuperou uma centralidade sem precedentes desde os Descobrimentos”, sintetizou Nuno Lameiras.