França retira embaixador de Itália acusando Roma de ataques sem precedentes
Paris convocou o embaixador francês em Itália na sequência de ataques verbais de que tem sido alvo por parte do Governo italiano, os quais o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês aponta como inéditos desde a Segunda Guerra Mundial.
"França tem sido alvo, há vários meses, de ataques repetidos e sem fundamento e de declarações ultrajosas", lê-se na mensagem escrita difundida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros francês. "Ter pontos de discórdia é uma coisa, mas manipular a relação tendo em vista objetivos eleitorais é outra" e "as eleições europeias não podem justificar a falta de respeito por cada povo e pela sua democracia". Em suma, o Governo considera que esta situação é "algo sem precedentes desde a guerra", acrescenta o Ministério.
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As eleições europeias estão marcadas para o próximo mês de maio. Sendo o Governo italiano eurocético, ao contrário do Executivo francês, poderá através destas investidas tentar influenciar a opinião pública e consequentemente os resultados das próximas eleições para a União Europeia.
Esta comunicação não fez referência a quaisquer incidentes específicos. Contudo, segue-se à reunião que aconteceu esta terça-feira, 5 de fevereiro, entre o vice-primeiro-ministro italiano, Luigi Di Maio, e um alto responsável do movimento dos Coletes Amarelos, o qual tem demonstrado uma grande oposição ao Governo de Macron. Isto, depois de já ter manifestado apoio a este movimento populista.
"A última interferência constitui uma provocação suplementar e inaceitável", considera o Executivo francês, ainda na mesma nota. Para além do recente encontro com os Coletes Amarelos, ambas as nações já têm um historial de discórdia no mundo dos negócios, por exemplo, no que toca à aquisição da francesa STX pela italiana Fincantieri. Em declarações perante a televisão italiana, Di Maio afirmou que "Macron está nervoso, o país está a fugir-lhe do controlo".
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Antes disso, o mesmo ministro já havia acusado o Governo francês de "políticas neocoloniais", responsabilizando o país europeu pela pobreza em África e pelo fluxo de migrantes a procurar refúgio na Europa. As relações entre ambos os países europeus começaram a azedar precisamente quando Macron criticou a decisão do então ministro do Interior, Matteo Salvini, de ter impedido um grupo de emigrantes de desembarcar num porto italiano, ao mesmo tempo que não permitiu que este atracasse em França. Foi acusado por Salvini de hipocrisia e respondeu considerando os populistas italianos "leprosos".
Fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros italiano, que preferiu não ser identificada dado o caráter sensível do assunto, declarou à Bloomberg que a atitude francesa de convocar o embaixador em Roma foi totalmente inesperada.
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