“Paz ou guerra?”. Xi, Putin e Kim mostram unidade em desfile militar na China
A Praça Tiananmen, em Pequim, foi palco esta quarta-feira de um dos mais imponentes desfiles militares da história da China, assinalando os 80 anos da rendição japonesa na Segunda Guerra Mundial. Mais do que uma celebração histórica, o evento tornou-se uma demonstração de força política e militar, marcada pela presença inédita de Xi Jinping, Vladimir Putin e Kim Jong Un, lado a lado.
O presidente chinês, anfitrião da cerimónia, afirmou que “a humanidade está novamente diante da escolha entre paz ou guerra, diálogo ou confronto, ganho mútuo ou apenas para um só”, sublinhando que o povo chinês “está firmemente do lado certo da história”, de acordo com a Reuters. Num discurso de apenas dez minutos, Xi acrescentou que a China “nunca se deixa intimidar por ‘bullies’” e que a “rejuvenescência da nação chinesa é imparável”, segundo a AP News.
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Após as declarações, Xi percorreu a avenida Chang’an num carro aberto para inspecionar as tropas, recebendo saudações coreografadas de dezenas de milhares de soldados. O desfile exibiu novas armas hipersónicas, drones submarinos, sistemas de guerra eletrónica e até um “robô lobo” armado, num sinal de avanço tecnológico que, segundo analistas citados pelo The Guardian, pretende servir de aviso a quem desafie os interesses estratégicos de Pequim.
O momento mais simbólico, no entanto, foi a imagem de Xi a caminhar lado a lado com Putin e Kim sobre o tapete vermelho, num gesto de clara afirmação geopolítica. Foi a primeira vez que os três líderes apareceram juntos em público, numa fotografia que, segundo o The Guardian, envia ao Ocidente uma mensagem inequívoca de unidade entre os regimes alvo de sanções internacionais.
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À margem do desfile, Vladimir Putin e Kim Jong Un reuniram-se para um encontro bilateral, que durou duas horas. O líder norte-coreano prometeu “fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para ajudar a Rússia” e descreveu esse apoio como um “dever fraternal”, de acordo com imagens transmitidas pela televisão estatal russa e citadas pela Reuters. Putin respondeu com palavras de gratidão: “Os seus soldados lutaram com coragem e heroísmo. Jamais esqueceremos os sacrifícios das suas forças e famílias”, afirmou, numa referência ao envio de militares norte-coreanos para apoiar o exército russo na Ucrânia.
Segundo a Sky News, Putin destacou ainda que milhares de soldados da Coreia do Norte tiveram um papel importante na “libertação de Kursk”, região russa temporariamente ocupada pelas forças ucranianas em 2024. O Kremlin sublinha que, graças a esse apoio, os laços entre Moscovo e Pyongyang “tornaram-se especiais, de confiança e aliados”, cita a Reuters.
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Kim viajou a Pequim acompanhado pela filha, Kim Ju Ae, e foi visto pela primeira vez a participar num evento multilateral ao lado de outros 25 líderes estrangeiros. Analistas citados pelo The Guardian notam que a sua presença ao lado de Xi e Putin representa um passo adicional na legitimação internacional do regime norte-coreano.
A dimensão simbólica do encontro não passou despercebida em Washington. O presidente norte-americano Donald Trump, numa publicação no Truth Social, ironizou: “Por favor, dê os meus cumprimentos calorosos a Vladimir Putin e Kim Jong Un, enquanto conspiram contra os Estados Unidos da América”. Questionado sobre estas declarações, o Kremlin disse que Trump estava a ser “irónico” e rejeitou qualquer conspiração, segundo a Reuters.
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Enquanto os três líderes desfilavam em Pequim, a guerra na Ucrânia prosseguia. Na mesma madrugada, a Rússia lançou um ataque aéreo maciço contra infraestruturas ferroviárias ucranianas, deixando vários feridos, relatou a Reuters. A coincidência temporal, destacada por analistas, reforçou a perceção de que Putin procura projetar a imagem de um país capaz de combater intensamente no terreno enquanto se apresenta no palco diplomático como parceiro estratégico da China e Coreia do Norte.
Para Xi, o desfile representou também uma oportunidade de afirmar a liderança chinesa junto do chamado “sul global”. Ao longo da última semana, Pequim recebeu dezenas de chefes de Estado em fóruns diplomáticos e comerciais, num esforço para consolidar alternativas às estruturas de governança dominadas pelo Ocidente, como a NATO e o G7. “É um recado de que, mesmo sob sanções, Pequim não hesitará em apoiar Moscovo”, afirmou Wen-Ti Sung, investigador do Atlantic Council, citado pelo The Guardian.
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O evento terminou com uma libertação de pombos sobre a Praça Tiananmen, mas as palavras e imagens transmitidas para o mundo tiveram um peso mais beligerante do que pacífico. Xi proclamou que a China é “um país imparável”, Putin agradeceu a bravura de soldados estrangeiros a combater em solo ucraniano e Kim comprometeu-se a dar “tudo” pelo Kremlin. Para muitos observadores, a mensagem enviada é clara: os três líderes, cada um pressionado pelo Ocidente, querem mostrar que juntos podem resistir e talvez desafiar a ordem internacional vigente.
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