Pedro Nuno Santos admite erros no período da Geringonça, mas destaca "inédita solução governativa"
O ex-secretário geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, e uma das figuras instrumentais na negociação do acordo entre os partidos de esquerda para uma solução governativa em 2015, que ficou popularmente conhecida como Geringonça, admite, num artigo de opinião publicado nesta quarta-feira no jornal Público, que "não correu tudo bem" no período que juntou PS, PCP, BE e PEV num entendimento político.
"Cometeram-se erros e houve várias insuficiências que devem servir de reflexão para toda a esquerda", destaca Pedro Nuno Santos. E dá exemplos concretos. "Podíamos e devíamos ter feito mais no que ao investimento público diz respeito. (...) Podíamos e devíamos ter feito um ajustamento mais lento, para resolvermos alguns problemas mais depressa: investirmos mais nos serviços públicos e aumentarmos mais os salários na administração pública, porque era justo, porque era necessário".
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O "mea culpa" vai mais longe, com Pedro Nuno Santos a admitir que na habitação "devíamos ter começado a construir mais cedo e muito mais casas" e que nas políticas migratórias "também não estivemos bem". "O país não estava preparado, nem se preparou, para receber mais de um milhão de pessoas em cerca de meia dúzia de anos".
Mas o artigo de opinião serve, em igual medida, para celebrar aquela que diz ser uma "inédita solução governativa". "A solução governativa, constituída em 2015, foi de uma riqueza imensa e merece ser celebrada; mas tão ou mais importante é sermos capazes de retirar desse período e dessa experiência governativa os ensinamentos que nos permitirão recuperar a confiança dos portugueses". E recuperar a confiança dos eleitores é, segundo o político, o segredo para vencer as eleições e mudar estruturalmente o país.
O ex-secretário geral do Partido Socialista chega mesmo a dizer que Cavaco Silva "não acreditava nem um pouco na possibilidade de acordo", mas sublinha que o ex-Presidente da República foi importante para o desenrolar da solução governativa, pois "acabou por dar um contributo (...) ao exigir um acordo escrito, o que comprometeu todos os partidos". Algo que, diz, Marcelo Rebelo de Sousa não fez após as eleições de 2019 e "acabou por contribuir para a instabilidade".
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Pedro Nuno Santos destaca ainda como o acordo com os outros partidos de esquerda no Parlamento permitiu, ao próprio Partido Socialista, alargar a sua "autonomia estratégica", libertando-se da necessidade de acordos com o PSD ou CDS.
"É possível que dentro de poucos anos, alguns destes [os que contestavam a legitimidade governativa da altura] também passem a defender este tipo de solução, constitucionalmente consagrada".
Para Pedro Nuno Santos, nos dez anos após a criação da Geringonça, o principal resultado daquela solução governativa "foi que se provou, na prática, aquilo que a esquerda vinha há anos a dizer – o equilíbrio nas contas públicas não se atinge com austeridade. Pelo contrário, a estratégia austeritária é uma corrida para o fundo, que destrói empresas e encolhe a economia".
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