Reino Unido: Candidatos à sucessão de Boris Johnson chocam sobre a economia

A sondagem mais recente da empresa YouGov deu 62% das preferências a Truss e 38% a Sunak após excluídos os indecisos ou que não vão votar.
SUZANNE PLUNKETT
Lusa 25 de Julho de 2022 às 23:51

Os dois candidatos a líder do Partido Conservador, a ministra dos Negócios Estrangeiros, Liz Truss, e o antigo ministro das Finanças Rishi Sunak, chocaram hoje num debate televisivo em questões como a economia ou se dariam emprego a Boris Johnson. 

PUB

Truss considerou "contracionista" a decisão de aumentar impostos tomada pelo governo antes de Sunak se demitir, alertando que pagar a dívida incorrida durante a pandemia covid-19 "tão rapidamente vai prejudicar a nossa economia e acabar a provocar uma recessão". 

"Este ministro das Finanças aumentou impostos ao ritmo mais alto dos últimos 70 anos", acusou no debate organizado pela BBC, propondo reverter um aumento de 1,25% nas contribuições para a Segurança Social e aplicar uma "moratória temporária" sobre a taxa de energia verde para reduzir o custo da eletricidade, gás e combustíveis. 

Mas Sunak, que justificou o aumento do imposto com a necessidade de financiar o sistema de saúde público e proteger a economia durante a pandemia, avisou que adiar o pagamento da dívida pública "vai passar a passar a conta aos nossos filhos e netos para a pagarem" e que arrisca fazer disparar as taxas de juro. "Não é moral", enfatizou. 

PUB

O tom azedou quando Truss apelidou as críticas de Sunak como "projeto medo", uma expressão usada pelos eurocéticos durante a campanha para a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) para descrever as previsões pessimistas de economistas.  

"Eu lembro-me da campanha do Brexit e só um de nós é que estava do lado da permanência e eras tu", lembrou Sunak, que alegou estar a ser "honesto" com os britânicos e "responsável" com as contas públicas.  "O que as pessoas querem ver é ação urgente, não querem promessas amanhã", replicou Truss. 

Os dois também trocaram críticas sobre política externa, com a chefe da diplomacia britânica a acusar o antigo ministro das Finanças de ter ter feito pressão dentro do governo para relações económicas mais próximas com a China. 

PUB

"Na minha opinião, não devemos cometer o mesmo erro de ficarmos dependentes estrategicamente como com a Rússia", salientou Truss, que admitiu impor limites à redes social TikTok, detida por capital chinês, ao volume de tecnologia importado de regimes autoritários. 

Sunak lembrou que Truss "também defendeu uma era dourada de relações com a China e colaborações" em setores como a alimentação há pouco tempo atrás. "Temos de reconhecer que a China é uma ameaça para a nossa segurança nacional e segurança económica e à medida que as ameaças mudam, temos de mudar as nossas políticas", afirmou. 

Apesar da determinação em defender a Ucrânia, Truss disse não estar "preparada para o Reino Unido ser envolvido diretamente no conflito", tendo ambos referido o apoio financeiro e militar dado pelo Reino Unido a Kiev. 

PUB

Embora este tenha sido o primeiro debate a dois, os candidatos finalistas e respetivos apoiantes têm trocado farpas nos últimos dias que fez algumas figuras do partido Conservador avisarem para o perigo de prejudicar a imagem dos 'tories'. 

Num exemplo do tom pessoal dos ataques, a ministra da Cultura Nadine Dorries, apoiante de Truss, evidenciou hoje a roupa cara de Sunak, um antigo analista financeiro casado com uma mulher rica, para o representar como rico e elitista.

Liz Truss, escreveu Dorries na rede social Twitter, "vai viajar pelo país a usar brincos que custam cerca de 4.5 libras" enquanto Sunak a fazer campanha foi visto "com sapatos Prada que valem 450 libras e a usar um fato à medida de 3.500 libras". 

PUB

"Tenho de confessar que, desde que esta eleição começou, apaguei o Twitter do meu telefone", desculpou-se Truss, defendendo uma "campanha de forma positiva".

"Rishi veste-se bem e sou admiradora do estilo dele", garantiu, enquanto Sunak retribuiu o "maior respeito pela Liz". 

Antigo analista financeiro, Sunak disse que é milionário graças aos pais, que "trabalharam dia e noite, pouparam e sacrificaram-se" para o colocar numa escola privada e dar-lhe oportunidades. 

PUB

"Eu não nasci assim, a minha família imigrou para aqui há 60 anos atrás", lembrou a propósito dos progenitores de origem indiana, invocando os tempos em que trabalhou na farmácia da mãe em Southampton, no sul de Inglaterra, e como empregado de mesa num restaurante. 

Confrontado com a decisão de demitir-se do governo de Boris Johnson, que contribuiu para a queda do primeiro-ministro, Sunak sublinhou que "não foi uma decisão fácil, foi uma decisão difícil", alegando questões de conduta e divergências sobre a política económica.

"Sim, ele cometeu erros, mas não penso que os erros eram suficientes para o Partido Conservador o rejeitar", defendeu Truss, que mesmo assim não pretende convidar Johnson para um futuro governo. 

PUB

No final, Truss prometeu "fazer aquilo que digo que vou fazer", enquanto Sunak falou em "unificar partido" e "restaurar confiança" no partido. "Existe mais que nos une do que nos separa", ressalvou o antigo ministro das Finanças, tendo ambos sugerido que contariam com o oponente para formar equipa. 

Um outro debate televisivo terá lugar na Sky News a 4 de agosto e os candidatos têm também pelo menos 12 comícios programados junto dos militantes em várias partes do país, a começar em Leeds, no norte de Inglaterra, e a terminar em Londres. 

Os votos postais dos cerca de 180.000 militantes Conservadores deverão começar a chegar na próxima semana e podem ser devolvidos até 02 de setembro, mas os candidatos têm vantagem em convencer aqueles que queiram enviar os boletins mais cedo.

PUB

Embora a maioria dos deputados tenha apoiado Sunak na primeira fase do escrutínio, Truss é vista como a candidato da ala direita e a favorita das bases. 

A sondagem mais recente da empresa YouGov deu 62% das preferências a Truss e 38% a Sunak após excluídos os indecisos ou que não vão votar.

O novo líder do partido Conservador será anunciado a 05 de setembro, e no dia seguinte Boris Johnson deverá apresentar a demissão `a rainha Isabel II, sendo o sucessor convidado a formar governo sem necessidade de eleições legislativas. 

PUB
Pub
Pub
Pub