Hard Club Ponte é passagem para a outra margem
Há três anos, o fim da sala de espectáculos, com vista para o Douro e para o Porto, deixou os melómanos pesarosos. Os seus responsáveis não baixaram os braços e começaram a trabalhar na solução. A vontade da câmara portuense em encontrar um parceiro privado para a exploração do mercado fez o resto: propiciar o novo palco.
Paulo Ponte é o homem que emerge da sombra dos quatro sócios do projecto, dos quais se destaca o baterista dos Xutos e Pontapés, Kalú. Foi também Ponte um dos ideólogos que, há 13 anos, lançou o antigo Hard Club.
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Em 2006, foram conhecidos os problemas financeiros da mítica sala. A pergunta óbvia é: O que será agora diferente, para que o fim não seja o mesmo? Ponte vê a questão por outro ângulo. "O primeiro não teve um fim, teve um intervalo. A empresa não cessou actividade e continuou. Em Gaia fomos obrigados a sair", explica. Há ainda uma achega que desmistifica o romantismo do negócio. "Ao contrário do que se pensa o rock não dá dinheiro, os copos é que dão".
Feito o diagnóstico, vamos ao capítulo das soluções. Como é que se torna um espaço, que quer ser muitas coisas ao mesmo tempo, rentável? Paulo Pontes alvitra vários caminhos: um espaço tão grande tem de ter várias actividades, para públicos diversos; o restaurante tem de ser um marco forte, para que renda ao ponto de muitos só conhecerem o Hard Club pela comida; o aluguer de salas a promotores, tira aos proprietários o risco do sucesso que determinado evento obtenha; ter preços apelativos ou eventos gratuitos para que os jovens, se ambientem ao local e se tornem fiéis.
Um balão de ar chamado QREN
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Mas para que algumas destas opções passem da ideia ao terreno, há um instrumento que não é de desprezar: o QREN. Senão vejamos, se o investimento na reabilitação e lançamento do projecto ronda os dois milhões, o apoio obtido foi de 1,5 milhões. Actualmente, os promotores trabalham para que 75% dessa verba seja a fundo perdido.
Vantagens? Paulo Ponte ajuda-nos a perceber. "Isto vai tornar a empresa muito mais forte e saudável e, acima de tudo, permite-nos investir mais na casa para a melhorar", afiança.
Vamos agora tentar falar de números. Aí, Paulo Ponte já não quer ser tão preciso. Facturação prevista? A resposta é imediata: "Temos uma expectativa de facturação e de imensas despesas e afinações. O investimento só se vai liquidar em dez anos", disse, evitando comprometer-se com números.
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A reticência em falar de valores, advém de um negócio que, tirando a área, tem quase tudo de novo. "Temos nove anos de "know-how", mas é-o em noutro tipo de eventos, condições e estrutura", explica, lançando logo de seguida que os promotores vão "estar muito atentos a ver como funciona um ciclo de teatro, de cinema, música clássica e fado … Queremos que estar no nosso máximo no próximo Verão", projecta.
As parcerias público privadas para a exploração edifícios emblemáticos são no Porto, arma primordial de ataque às políticas do presidente da autarquia, Rui Rio. Delapidação do património público é, comummente, o argumento de proa. Ora, no meio desta turbulência, o Hard Club navegou sempre sem ondulação desde o processo de lançamento do concurso público, até à inauguração do projecto. Mas porquê esta diferença, entre algo aparentemente igual? Paulo Ponte lança uma hipótese. "Antes de fazermos a nossa proposta à Câmara, realizámos um inquérito na Internet para ver se as pessoas já conheciam o Hard Club e o que é que achavam de irmos para o Ferreira Borges. Recebemos 94% de respostas positivas. Ao contrário de outros espaços, em que há concessões público-privadas, o Ferreira Borges passava maior parte do tempo fechado". O contrato entre o Hard Club e a autarquia tem a duração de 17 anos. Os promotores terão de pagar 510 mil euros, correspondentes a uma renda mensal de 2500 euros. O Município terá o direito a usar, gratuitamente, a sala maior por 120 horas semanais, o auditório por 20 horas semanais e a sala pequena por 10 horas semanais. No entanto, terá de reservá-los com 90 dias de antecedência. Ao fim do período, do acordo a Câmara poderá recuperar a posse do edifício.
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Bilhete de identidade
Kalú subiu ao palco emocionado e, de voz embargada, anunciou em Dezembro de 2006, o fim da sala de espectáculos "underground". Afinal, foi só um até já. Hoje, o Hard Club volta e pode-se dizer, seguindo o lugar comum, "mais forte que nunca". No Ferreira Borges, de portas viradas para o Douro, haverá duas salas (a principal com mil; a sala 2 com 120 lugares sentados ou 300 de pé ). Há ainda o "mainfloor" para exposições e concertos acústicos 'gratuitos. O espaço fica completo com o restaurante, cafetaria, loja de merchandising, livraria/discoteca, estúdio e duas salas de ensaio.
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