Tensões geopolíticas ofuscam expectativa de corte de juros e abalam Wall Street

As bolsas do outro lado do Atlântico encerraram em baixa, pressionadas pela escalada das tensões entre os EUA e o Irão. O presidente da Fed justificou de novo os riscos económicos para um possível corte de juros, mas as fricções geopolíticas ofuscaram este discurso.
Carla Pedro 25 de Junho de 2019 às 21:07

O Dow Jones fechou a ceder 0,67% para 26.548,15 pontos, depois de ontem ter estado muito perto de marcar um novo máximo histórico – o S&P 500 e o Nasdaq Composite já estabeleceram novos máximos de sempre este ano, mas o recorde do Dow remonta ainda a 3 de outubro de 2018, nos 26.951,81 pontos.

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Também o Standard & Poor’s 500 cedeu terreno esta terça-feira, terminando a recuar 0,95% para 2.917,38 pontos. Por seu lado, o tecnológico Nasdaq Composite perdeu 1,51% para 7.884,72 pontos.

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Na passada quinta-feira, o S&P 500 marcou um novo máximo histórico (com a perspetiva de um corte de juros pela Fed), mas entretanto a prudência dos investidores devido às tensões comerciais e geopolíticas tem impedido que continue a escalar posições esta semana.

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Os investidores têm estado a contar com um cenário de flexibilização da política monetária – um corte de juros por parte da Fed é uma probabilidade já no próximo mês – num contexto de desaceleração da economia mundial. E hoje o presidente da Fed deu novas pistas nesse sentido.

 

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Jerome Powell reiterou hoje, num discurso perante o Conselho de Relações Externas, em Nova Iorque, que há justificações para uma descida da taxa diretora devido ao facto de os riscos de contração da economia norte-americana se terem intensificado recentemente.

 

Esta expectativa tem animado os mercados, que contam com um corte de juros para revitalizar a economia do país, mas a escalada das tensões entre os EUA e o Irão pesou no sentimento dos investidores, que optaram por uma maior prudência na negociação bolsistas.

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Depois de Trump ter anunciado no domingo que seriam aplicadas novas sanções ao Irão, o que intensificou os receios de um confronto militar, ontem o chefe da Casa Branca ordenou a imposição de novas e "pesadas" sanções contra o líder supremo da República islâmica, o respetivo gabinete e "muitas outras" figuras relevantes do país. Trump adiantou que as sanções a Teerão vão manter-se em vigor, e até serem intensificadas, até que o regime iraniano desista das suas "atividades [nucleares] perigosas".

 

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Hoje, Teerão reagiu. O presidente iraniano, Hassan Rouhani, descreveu a Casa Branca como "atrasada mental", um insulto que o Irão já usou no passado para se referir a Donald Trump. Rouhani garantiu que as sanções não vão afetar o líder Ayatollah Ali Khamenei porque este não tem ativos no estrangeiro, e disse que, para já, a sua estratégia será "paciente".

 

Entretanto Trump reagiu às declarações de Rouhani e assegurou que responderá a "qualquer ataque" iraniano com "uma força enorme e esmagadora" que pode escalar ao nível da "obliteração".

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A compor o cenário de incerteza e expectativa estão as tensões comerciais entre Washington e Pequim, com os investidores à espera da reunião prevista para o final da semana entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping, à margem da cimeira do G20 que vai ter lugar no Japão.

 

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As cotadas do setor tecnológico - que contam grandemente com os negócios na China para garantirem parte das suas receitas - lideraram as perdas, depois de um responsável da Administração Trump ter dito à Bloomberg que os EUA não aceitarão novas condições relativamente às tarifas como parte de uma reabertura das negociações com a China e que não se espera um acordo comercial pormenorizado durante a reunião de Trump e Xi esta semana.

 

O chefe da Casa Branca tem, por sua vez, continuado a elogiar o desempenho dos principais índices de Wall Street. No sábado passado, depois de o S&P 500 ter atingido um novo máximo histórico na quinta-feira, 20 de junho, Trump escreveu na sua conta da rede social Twitter Trump que as bolsas norte-americanas estão a caminho de um dos melhores meses de junho da história dos EUA. Escreveu ainda, num outro tweet, que este será o melhor junho dos últimos 50 anos em Wall Street.

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E se não é melhor, é por causa da Fed, acusa o presidente dos EUA. Com efeito, Trump disse que o Dow Jones já poderia estar "milhares de pontos" acima se a Fed "tivesse acertado", tendo acusado o banco central do país de não saber o que está a fazer e de se comportar como uma "criança teimosa".

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