Luís Coelho 08 de Setembro de 2008 às 13:00

O "mobbing" ou o assédio moral no trabalho

O termo mobbing foi introduzido na literatura, nos anos 80, por Heinz Leymann, psicólogo de origem alemã a viver na Suécia, para descrever formas severas de assédio nas organizações. Para Leymann, o mobbing consiste em actuações hostis frequentes e repetidas no local de trabalho, visando sistematicamente a mesma pessoa (a "vítima").

(Heinz Leymann)

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O termo mobbing foi introduzido na literatura, nos anos 80, por Heinz Leymann, psicólogo de origem alemã a viver na Suécia, para descrever formas severas de assédio nas organizações. Para Leymann, o mobbing consiste em actuações hostis frequentes e repetidas no local de trabalho, visando sistematicamente a mesma pessoa (a "vítima"). Segundo ele, o mobbing tem origem num conflito que degenera. Analisa-o como uma forma particularmente grave de stress psicossocial.

O mobbing consiste, portanto, numa forma de agressão ou terrorismo, de natureza psicológica e/ou psicossocial, que é realizada no contexto de trabalho, principalmente por parte da entidade patronal.

É de referir as investigações clássicas de Leymann na Suécia e também as de Hirigoyen na França. Leymann estabeleceu que 3,5% dos assalariados suecos eram vítimas de assédio, tendo também estimado que 15% dos suicídios eram devidos a mobbing ["Mobbing, la persécution au travail" (1996, Seuil)]. Já Hirigoyen divulgou os dados de um grande inquérito realizado em França na obra "Malaise dans le travail. Harcèlement moral: démêler le vrai du faux" (1998, Syros): 29% de casos entre os 36 e os 45 anos, 43% entre os 46 e os 55 anos, e 19% após os 56 anos; 70% de mulheres para 30% de homens vítimas; em 58% dos casos, o assédio provinha da hierarquia; na maioria dos casos, o fenómeno originou a "baixa compulsiva", tendo acabado em afastamento do local de trabalho (36% dos casos) ou despedimento (20%). Os grandes sectores de assédio moral são a "gestão, contabilidade, funções administrativas" (26%), a "saúde" (9%) e o "ensino" (9%).

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O mobbing (Leymann) ou "assédio moral no trabalho" (Hirigoyen) é, portanto, um fenómeno de grande expressividade e não choca se for afirmado que o mesmo é bastante comum em Portugal, em particular nas grandes empresas e no contexto da saúde. Enquanto fisioterapeuta que sou, tenho assistido a muitas manifestações de mobbing na minha vida laboral, tanto no respeitante a terapeutas como no respeitante a enfermeiros, por parte de médicos e superiores hierárquicos.

A vergonha e a humilhação a que tantos profissionais são sujeitos levam a que exista uma sensação de "perda do sentido", e até mesmo à desvitalização psíquica, à "dissonância cognitiva" (Festinger), à angústia momentânea e à depressão crónica. O "assédio moral" no trabalho predomina no mercado português, atingindo muito particularmente os jovens licenciados, os mesmos que tanto lutaram nas universidades para acabarem os seus cursos e agora labutam no "caminho da pedra", no contexto do trabalho precário e num ambiente em que predomina a obrigatoriedade da "negação do Eu" identitário (Arno Gruen), transformados em "meros trabalhadores substituíveis" sem importância moral e fragrância científica.

O "assédio moral no trabalho" atinge tantos trabalhadores!... Mas a resposta dos mesmos labuta em silêncio. Temos, claro, a resposta mais global do subdesenvolvimento das empresas nacionais, nas quais qualquer tentativa de se ser "o melhor", de se "ser criativo", acaba por esbarrar na inveja e no tratamento aversivo.

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