Luís Marques Mendes 13 de Dezembro de 2020 às 21:17

Marques Mendes: Pedro Nuno Santos devia ter pedido a demissão depois de ter sido humilhado por Costa

As habituais notas da semana de Marques Mendes no seu comentário na SIC. O comentador fala sobre a polémica do SEF, o conflito entre primeiro-ministro e Ministro na TAP, a reestruturação da companhia aérea, a recandidatura de Marcelo, o estado da pandemia e a bazuca europeia.

A POLÉMICA DO SEF

 

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  1. Primeiro apontamento: foram precisos nove meses para o país despertar para este assassínio. Não vale a pena disfarçar: quase todos negligenciaram o assunto – PR, Governo, partidos e até alguma comunicação social. Com duas excepções a saudar – DN e Público
  1. Segundo apontamento: foram precisos nove meses para o Governo fazer duas coisas elementares – demitir a Directora do SEF e mandar pagar a indemnização aos familiares da vítima ucraniana. Mesmo assim, o Governo só actuou por causa da pressão da opinião pública. E nem sequer a hombridade teve de, ao menos, pagar a transladação do cadáver para a Ucrânia. Inacreditável. 
  1. Terceiro apontamento: o Ministro Eduardo Cabrita não tem condições para continuar como Ministro. Primeiro, não foi capaz de agir a tempo e horas. Segundo, é criticado por todos, incluindo pelo seu próprio partido. E, sobretudo, desqualificou-se a si próprio na Conferência de Imprensa da passada quinta-feira. Foi ridículo e, em política, o ridículo mata. Ridículo a criticar toda a gente. Ridículo a auto-elogiar-se. Ridículo a dizer que foi a sua acção como Ministro que "salvou" a recandidatura de Marcelo porque evitou mortes nos fogos florestais. Ainda não percebeu que lhe vai acontecer o mesmo que à sua antecessora – arrastar-se penosamente no lugar até sair pela porta pequena
  1. Quarto apontamento: a maior responsabilidade é do PM.
António Costa sabe de tudo há nove meses. E perante a passividade do seu ministro não fez nada. De um PM exige-se mais do que habilidade política. Exige-se capacidade de liderança.

Agora, em vez de substituir o Ministro para defender o prestígio das instituições, põe-se a defender o amigo. Diz o PM que Eduardo Cabrita agiu bem. Bem? Com este tipo de declarações e comportamentos? O PM, além do próprio Cabrita, deve ser o único português a achar que o Ministro agiu bem. Por isso, tornou-se cúmplice de toda esta aberração.

 

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TAP – O CONFLITO ENTRE PM E MINISTRO

 

  1. Comecemos pelo princípio: há uma semana eu disse duas coisas – que o Governo tinha intenção de levar a votos na AR o dossier da TAP; e que já tinha comunicado essa intenção ao PSD. O Ministro do sector, que representa o Governo, confirmou publicamente essa intenção. O PSD fez o mesmo ao declarar, através da Lusa, que o "Grupo Parlamentar do PSD foi informado pelo Governo da intenção do Executivo de levar o plano de reestruturação da TAP a debate na AR". Em conclusão: boas fontes. Só depois é que veio o recuo! 
  1. A reestruturação da TAP começa mal. Começa com um conflito político sério entre o PM e o Ministro do sector.
PNSantos queria levar o dossier da TAP a votos no Parlamento.

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O PM não só não deixou como fez questão de, em público, desautorizar e humilhar o seu Ministro, chamando-lhe "má fonte". Como quem diz: ele não é credível, não é confiável. Não levem a sério o que ele diz. Nunca vi um PM destratar assim um Ministro. Nem José Sócrates, com feitio difícil. Muito menos António Guterres que tinha regras e princípios.

 

  1. Posto isto, acho que ambos se saíram mal neste conflito:
Saiu mal o Ministro. Não é pela divergência com o PM. Divergências há muitas. É pela desautorização pública a que foi sujeito. Perante esta desautorização pública, Pedro Nuno Santos só tinha uma atitude a tomar: pedir a demissão e sair pela porta grande. Dizia: "Não me furto a fazer a reestruturação da TAP. Mas quero regras seguras para não ser apanhado em contrapé." Não o tendo feito, sai fragilizado e minado na sua autoridade. Tem um mérito: assumiu a divergência e mostrou carácter.

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Pedro Nuno Santos garante não estar em causa continuidade no governo

Sai mal António Costa. Um PM que se preza, quando tem uma divergência com um Ministro, só tem um de dois caminhos: ou lhe dá uma reprimenda em privado; ou o demite, se achar que a divergência afecta a relação de confiança entre os dois. O que não pode é fazer o que António Costa fez: desautorizá-lo em público, humilhá-lo, desacreditá-lo, maltratá-lo.

  • No plano da relação pessoal, não é bonito o que o PM fez. Humilhar uma pessoa não se faz. Não se faz a um adversário político. Muito menos a um colega de Governo. Veja-se o exemplo de Merkel esta semana na UE. Impôs a sua vontade, sem humilhar a Hungria e a Polónia.
  • No plano da governação, é um desastre. É minar a coesão do Governo e a autoridade do Ministro. O Governo fica mais fraco por culpa do PM.

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  1. Questão de fundo: o programa da TAP devia ou não ser votado na AR? Devia
  • Em circunstâncias normais, este dossier não tem de ser votado no Parlamento. É competência do Governo.
  • Mas depois do precedente que foi aberto com o Novo Banco, é da mais elementar prudência que se coloque à AR esta questão: o Parlamento está disponível para autorizar , ano a ano, a injeção de capital na TAP? É que no NB, quando chegou a última prestação, o Parlamento bloqueou o processo. E se faz o mesmo à TAP? Quem se responsabiliza pelas consequências? Antes prevenir que remediar.

 

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TAP – A REESTRUTURAÇÃO

  

  1. Sobre a reestruturação da TAP nada de especialmente novo:
  • O país está profundamente dividido. Já não há a tolerância que havia em relação à TAP.
  • Socialmente o plano é duríssimo (com despedimentos e cortes salariais).
  • Financeiramente temos mais um NB em perspectiva.
  • Finalmente, falta saber se Bruxelas aceita o plano ou se exige mais rigor.

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  1. Mas há, entretanto, uma questão que muitos portugueses colocam: afinal, para que serviu a reversão da privatização da TAP feita em 2016? Para ser o Estado sozinho a meter milhões em cima de milhões? Este foi o pecado original de António Costa.
  • Na privatização feita em 2015, o accionista privado ficou com a maioria do capital (61%). O Estado com 34%.
  • Se esta proporção se tivesse mantido, o accionista privado é que tinha neste momento a maior responsabilidade financeira. Era ele que tinha a responsabilidade maior de "arranjar" dinheiro para meter na TAP.
  • Com a reversão que foi feita por António Costa e por Pedro Marques, e com os desenvolvimentos seguintes, é caso para dizer: o Estado deu ao Sr. Neelman o Euromilhões. Salvou-o da pandemia. É o único a rir disto tudo. Os contribuintes, esses, ficaram com a "fava".
  • Talvez fosse bom o PM explicar ao país uma única vantagem que teve a reversão feita em 2016.

 

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A RECANDIDATURA DE MARCELO

 

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  1. A recandidatura de Marcelo não é surpresa e a sua reeleição também não. Basta olhar para as sondagens. A novidade é o futuro. Corremos o risco, nos próximos cinco anos, de voltar a um tempo de instabilidade.

O PR teve problemas sérios nestes cinco anos, que resolveu bem – a crispação do país no início do mandato; os fogos florestais a meio; a pandemia do fim. Mas viveu sempre num ambiente de estabilidade política. Só que isto pode mudar nos próximos cinco anos. Podemos cair na tempestade perfeitaacrescentar instabilidade à crise pandémica, económica e social.

 

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  1. Vejamos alguns riscos que podem complicar o próximo mandato:
Crise política Podemos ter uma crise política daqui a um ano se o PCP não viabilizar o OE para 2022. Logo, risco de instabilidade.

Governo até 2023 É outra hipótese. Mas com o estado de degradação que aí vai, podemos ter novo pântano. Um Governo "arrastado".

Mudança de líder no PS Nos próximos cinco anos, António Costa deixará a liderança do PS. É praticamente inevitável. Ora, estas mudanças geram sempre instabilidade. Novo desafio.

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A alternativa de centro-direita – Até agora, não se vislumbra. Segundo todas as sondagens, os partidos à direita do PS, todos juntos, não valem mais que a PAF em 2015. Assim não se ganham eleições. Claro que isto pode mudar. Mas o risco de instabilidade é grande.

O Chega Um problema para o sistema político. À direita, querem promovê-lo ao Governo. À esquerda, falam em ilegalizá-lo. Dois erros que só servem para fazer o jogo do Chega, dando-lhe força e publicidade. 

 

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O ESTADO DA PANDEMIA

 

  1. Estamos com um problema sério – o número de infetados baixa ligeiramente, mas o número de internados e óbitos aumenta.
Número de infetadosEsta semana baixámos ligeiramente o número de novos casos. Mas, ao que se diz, também diminuiu o número de testes. É verdade? Convinha esclarecer.

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Número de óbitosTivemos a pior semana de sempre. Em vésperas de facilidades natalícias, não é boa notícia.

Portugal na EuropaEstamos em 9º lugar. Mas continuamos bem pior que a média europeia.

 

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  1. A questão mais séria é a contradição entre Portugal e Alemanha:
Em número de casos por dia (por 100 mil habitantes), a Alemanha está muito melhor que Portugal – 328 contra 530;

Todavia, assistimos a esta contradição: esta semana, a Chanceler Merkel fez um apelo emotivo ao Parlamento alemão para a tomada de medidas mais restrictivas por causa do Natal, para evitar mais mortes e salvar os mais idosos. E hoje mesmo, domingo, anunciou as novas restricções.

Em Portugal – que tem mais casos por dia que a Alemanha – o PM fez o contrário: aliviou as restrições para o Natal. É simpático, é popular mas pode tornar-se muito arriscado. Se em Janeiro a situação se agravar, já sabemos quem responsabilizar. Entretanto, esperemos que os portugueses sejam mais responsáveis que o Governo.

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A BAZUCA EUROPEIA

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  1. Grande vitória da UE, da Presidência Alemã e da Chanceler Merkel. Foi o último grande momento de Angela Merkel que vai deixar o Governo alemão no próximo ano. E sai em grande. A Europa ainda vai ter saudades da Chanceler.

 

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  1. A solução encontrada é engenhosa. A Hungria e a Polónia ganham tempo. Cerca de dois anos até se aplicarem as novas regras europeias sobre o Estado de Direito. A UE ganha nos princípios e na eficácia para os aplicar no futuro. Solução inteligente.

 

  1. Tudo isto é excelente para Portugal. Em 9 anos, entre 2021 e 2029, só a fundo perdido temos para investir 57,9 mil milhões de euros.
  • Na prática, em média, iremos receber a fundo perdido cerca de 6,4 mil milhões euros/ano.
  • É cerca do dobro do que temos recebido até ao momento.
  • A UE é decididamente o nosso "seguro de vida".

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  1. Vamos começar já a ter os fundos europeus em Janeiro? Não, ainda não. O processo de decisão em Bruxelas é complexo. Ainda falta a ratificação nos 27 Estados da UE do chamado dossier dos novos recursos próprios da UE.
  • É uma decisão que tem de ser aprovada por unanimidade dos 27 países da União.
  • Em 22 dos 27 países tem de ir aos Parlamentos nacionais.
  • Há cerca de 30 Parlamentos que têm de pronunciar-se. Porque nalguns países há duas Câmaras.
  • Basta que um país não aprove e o processo fica bloqueado.

 

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