Virgolino Faneca apoia escandalosamente a Supernanny

Virgolino Faneca elabora sobre os méritos do programa que todos criticam. O que é pior, a Supernanny ou as crianças serem obrigadas a chamar tio ao Manuel Luís Goucha?
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Celso Filipe e José Tiny - Ilustração 19 de Janeiro de 2018 às 17:00

Minha querida Supernanny

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Escrevo para te dizer que ainda não vi o programa "Supernanny", mas isso não me impede de considerar que se trata de um programa maravilhoso. Antes de mais porque tem um nome estrangeiro que tresanda a fofura. Depois, porque a Supernanny é uma psicóloga encartada que aparece no programa, não nessa qualidade, para não se pôr em bicos dos pés. E finalmente porque se a esmagadora das pessoas diz mal do dito, só me resta dizer bem, dado que tanto eu como o PCP só encontramos sentido na vida estando do contra.

Por exemplo, minha deliciosa Supernanny, quando acusam o programa de violar os direitos das crianças, é óbvio que o fazem por despeito. É melhor e mais televisivo sentar uma criança num banquinho sete minutos do que dar-lhe um par de lambadas à má fila ou uma meia dúzia de açoites com uma colher de pau.

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Para a SIC também se trata, efectivamente, de um óptimo negócio. Pagar uns míseros mil euros a alguém para expor a sua intimidade familiar é como o euromilhões, é barato e dá milhões, neste caso de espectadores, que se pelam por programas de natureza escatológica. Antes isso, estarem pregados à televisão, do que a ouvir os vizinhos, procurando traçar-lhes o mapa da intimidade a partir de sons indecifráveis, provenientes de divisões com grande potencial libidinoso, caso dos quartos. Com mil euros e mais uns pozinhos para pagar os teus conselhos de educadora, a SIC consegue mais audiências do que emitindo os programas das Kardashians ou daquele rapaz que faz invariavelmente os seus convidados chorarem, derivado do facto de as suas perguntas serem como as cebolas.

Para as crianças também se trata de uma recordação. Daqui a 15 ou 20 anos, quando forem crescidas, metem o DVD com o programa em que apareceram e fazem uma terapêutica viagem ao passado. Eu era assim, mal-educado, e agora sou uma pessoa decente. Ou então, caso a vida corra mal, podem sempre atribuir os percalços a uma vexatória exposição televisiva que os marcou negativamente para todo o sempre.

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Por sua vez, com mil euros, os pais podem comprar umas roupinhas jeitosas e uns óculos escuros para tornar mais difícil a sua identificação e assim evitar insultos ou a aplicação de terapias físicas na rua.

Aliás, minha maravilhosa e pedagógica Supernanny, não compreendo qual a razão de tanto azedume em relação ao programa que protagonizas, contrastando com a normalidade com que se olha para o Masterchef Júnior. Neste, põe-se umas crianças a cozinhar para os adultos e ainda as obrigam a chamar tio ao Manuel Luís Goucha. Diz-me lá tu se isto não é razão para um imberbe ficar indelevelmente traumatizado?

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Vai por mim, encantadora Supernanny. Neste caso, aplica-se a teoria do quanto pior, melhor. Melhor para as audiências, melhor para ti que ganhas clientes no teu consultório e uns euros extra na carteira. Acresce que a justificação para a exibição do programa tem o seu quê de humorística. Diz a SIC que o programa visa ir "ao encontro das famílias portuguesas para ajudar a controlar a rebeldia dos filhos e dar resposta aos apelos de pais e educadores". Isto é mais ou menos o que digo quando, munido de binóculos, observo a minha vizinha do andar da frente a fazer os preparativos para se deitar, especialmente no Verão, e digo para os meus botões que com o tempo seco é sempre preciso estar atento a putativos focos de incêndio.

Olha, Supernanny, eu, como qualquer crítico que se preza, não preciso sequer de ver o programa para lhe dar cinco estrelas, o máximo, classificação de que é inteiramente merecedor. Tenho pena das crianças e dos pais, mas essa constatação básica não é um problema que assista a este espírito livre.

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Uma beijoca delicodoce deste teu,

Virgolino Faneca

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