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Comercialização é o próximo passo

Projeto LIFE 4 F-Gases demonstrou as vantagens ambientais e económicas da reciclagem dos gases fluorados. Consórcio procura novo financiamento.

14 de Agosto de 2025 às 09:00
Ana Pereiro, investigadora principal do departamento de Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa
Ana Pereiro, investigadora principal do departamento de Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa CStudio

O projeto LIFE 4 F-Gases termina em setembro com missão cumprida, após validação bem-sucedida do sistema seletivo de recuperação de gases fluorados extraídos de equipamentos de refrigeração no final do ciclo de vida. Investigado e implementado nos últimos quatro anos por um consórcio luso-espanhol de investigadores e empresas, que já equaciona a comercialização.

Cada parceiro do projeto LIFE 4 F-Gases desenvolveu conhecimento numa área específica. A Universidade Nova de Lisboa juntou-se à Universidade de Cantábria na investigação em torno da recolha seletiva de gases fluorados a partir de frigoríficos ou ares condicionados. A APRIA Systems contribuiu com inovações para a modernização dos processos industriais e coordenou o projeto. A Ambigroup, que recicla equipamentos com gases de efeito de estufa, testou o processo. A ERP Portugal envolveu a rede internacional de recicladores à qual pertence e promoveu os desenvolvimentos tecnológicos decorrentes do projeto.

O balanço é positivo para as entidades envolvidas no projeto LIFE 4 F-Gases. «Muito produtivo. A colaboração com grupos como ERP Portugal e Ambigroup é muito enriquecedora para a universidade. Só conseguimos soluções claras com a colaboração de todas as partes interessadas neste tipo de problemas», diz a espanhola Ana Pereiro, investigadora principal do departamento de química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.

Desta colaboração resultou o HAMSYS (Sistema Híbrido de Adsorção e Membrana), um sistema de ponta de separação dos gases fluorados em bons e maus, desenvolvido através da combinação de experiência laboratorial e ferramentas avançadas de simulação. A incineração mantém-se como tratamento final dos resíduos proibidos, mas outros gases fluorados com alto potencial de aquecimento global são convertíveis em gases de baixo potencial através desta nova tecnologia de membrana.

Este processo inovador integra uma unidade de pré-tratamento para purificação dos gases de entrada, um processo de separação em duas fases e a compressão final para armazenamento e transporte seguros. A separação em duas fases permite uma elevada seletividade e adaptabilidade, tornando o sistema eficaz numa vasta gama de misturas de refrigerantes e condições de funcionamento. Desta forma, os gases reciclados são aplicáveis a novos equipamentos de refrigeração. «O reaproveitamento dos gases fluorados permitirá reduzir a produção inicial», realça Ana Pereiro.

Em vez da incineração, propomos uma solução piloto que mantém a vertente da economia circular. Separamos as misturas utilizadas nos refrigeradores, purificam os gases fluorados tratáveis e reutilizamos. Ana Pereiro, investigadora principal do departamento de Química da FCT da Universidade Nova de Lisboa.

Financiamento europeu

«O sistema piloto HAMSYS tem uma escala média. Mas já permitiu demonstrar, com um resíduo real e em ambiente criado na Ambigroup, que a tecnologia é eficiente para a separação destes compostos», frisa Ana Pereiro. O passo seguinte é a candidatura a financiamentos que permitam a comercialização do HAMSYS.

O projeto LIFE 4 F-Gases também se baseou em subsídios da União Europeia e decorre de um outro quadro de apoio, INTERREG, que envolveu Portugal, Espanha e Sul de França. «A investigação circunscreveu-se a uma escala laboratorial mais pequena com o INTERREG. Para experimentarmos o sistema a nível real, conseguimos este projeto LIFE 4 F-Gases. Agora, para avançarmos, temos de continuar à procura de investimento», explica a investigadora.

Apesar da recetividade a projetos inovadores como o LIFE 4 F-Gases, a Europa também significa dificuldades no processo de implantação do HAMSYS. «A legislação europeia é a mesma para todos os países, que a aplicam de forma completamente diferente. E como se discutiu no simpósio, as soluções ambientais não podem estar dependentes do que aconteça a nível local e nacional. Temos de pensá-las globalmente, até porque um alinhamento supranacional tem vantagens financeiras. Economicamente é mais viável uma central de tratamento ibérica, por exemplo, para recolha de todos os resíduos. Haverá quantidade suficiente para tratar este tipo de compostos. Mas a nível europeu os países vão em direções opostas », lamenta Ana Pereiro.

Economia circular

A relevância do projeto LIFE 4 F-Gases é demonstrada em termos ambientais e económicos. Parte dos gases fluorados dos equipamentos refrigeradores é «controlável », segundo a investigadora, minimizando a impactante libertação para a atmosfera, nomeadamente devido à eliminação por incineração. «Em vez da incineração, propomos uma solução piloto que mantém a vertente de economia circular. Separamos as misturas utilizadas nos refrigeradores, purificamos os gases fluorados tratáveis e reutilizamos. Os restantes resíduos perigosos e proibidos serão incinerados. O ideal é um equilíbrio entre eficiência dos compostos para os quais não existem alternativas e menos emissões geradoras de aquecimento global», defende Ana Pereiro.

Esta pegada ecológica é agravada pela necessidade de transportar os resíduos para fora da Península Ibérica, primeiro para França e agora para Itália, com o objetivo de serem queimados de forma controlada. A evolução de unidades de reciclagem nacionais para novas formas de tratamento de resíduos representará uma mais-valia ambiental, como atesta o trabalho desenvolvido em parceria com a Ambigroup.

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