Portugal encontra-se numa encruzilhada histórica no seu percurso de transformação digital. O documento recentemente apresentado pelo Governo, que traça uma visão integrada para os sistemas de informação no Estado, merece não apenas leitura atenta, mas também um posicionamento claro por parte de quem representa a vanguarda da liderança digital em Portugal, como é o caso da CIONET. Nesse sentido, João Figueiredo, managing director da CIONET Portugal, comunidade que reúne os mais prestigiados CIO, CISO, CDO e CTO das maiores organizações públicas e privadas, vê neste momento “uma oportunidade sem precedentes – mas também o risco de mais uma década desperdiçada se não houver coragem política, visão estratégica e execução determinada”.
Os pilares da mudança: justiça, saúde, educação e social
Segundo João Figueiredo, a proposta do Governo, ao destacar áreas como a saúde, a justiça, a educação e a ação social, acerta no essencial: são esses os pilares que sustentam qualquer Estado moderno. Contudo, sem liderança digital competente e uma visão transversal de interoperabilidade, estes setores continuarão a ser silos tecnológicos, limitando o seu impacto na vida dos cidadãos.
A CIONET acredita que estes quatro setores “devem ser tratados como ativos estratégicos nacionais, com dados, infraestruturas e sistemas de informação geridos com o mesmo nível de segurança, confiança e visão que hoje se exige à defesa nacional”. E João Figueiredo prossegue: “Não basta digitalizar serviços. É necessário reimaginar processos, modelos operacionais e formas de interação com os cidadãos, pondo-os no centro de uma estratégia de soberania digital.”
CIO e CISO como secretários de Estado digitais
João Figueiredo explica que o Estado digital de que Portugal precisa exige mais do que fornecedores e regulamentos. Precisa de liderança executiva com responsabilidade política. Nesse contexto, a CIONET propõe que os CIO e os CISO das principais instituições públicas não apenas sejam ouvidos, mas que “assumam papéis com equivalência a secretários de Estado, responsáveis por interoperabilidade, cibersegurança, privacidade, arquitetura empresarial e valor para o cidadão”. “Defendemos também a criação de um Conselho de Estado Digital, com representação dos principais líderes tecnológicos nacionais – públicos e privados – no qual a CIONET, pela sua representatividade e experiência internacional, está pronta para contribuir”, acrescenta.
Propostas concretas
A análise do documento do Governo permite à CIONET alinhar algumas recomendações práticas. A saber:
Criação de um arquétipo único de sistemas de informação da administração pública, com interoperabilidade nativa entre setores, promovendo eficiência e evitando redundâncias;
Definição de uma Estratégia Nacional de Dados, com clara distinção entre dados operacionais, analíticos e de inteligência, assegurando qualidade, segurança e ética;
Framework nacional de cibersegurança transversal à AP, com auditorias independentes e reporte direto ao primeiro-ministro e à Presidência;
Capacitação digital do Estado, com programas de reskilling obrigatórios para quadros dirigentes e integração de líderes digitais nos Conselhos Superiores dos Ministérios;
Alianças estratégicas com o setor privado, envolvendo as maiores comunidades tecnológicas – como a CIONET – em advisory boards permanentes.
Portugal primeiro: a soberania tecnológica é soberania nacional
A transformação digital não é um tema técnico, é uma questão de soberania nacional. João Figueiredo alerta que “quem controla os dados, os sistemas e os fluxos de informação controla o futuro do país”. “Num mundo em que a cibersegurança é território de confronto híbrido, e em que os algoritmos moldam decisões judiciais, diagnósticos clínicos e políticas públicas, a ausência de um Estado digital forte é uma ameaça direta à democracia e à autonomia nacional”, avisa.
Na CIONET, assume-se o compromisso de ser parte ativa desta transformação. “Promovemos o debate estratégico, ligamos decisores a soluções e pomos Portugal na rota dos países que usam a tecnologia para melhorar a vida dos seus cidadãos, e não apenas para cumprir metas europeias”, sublinha João Figueiredo, concluindo: “Este é o momento. Ou Portugal assume de vez a sua liderança digital – com os seus melhores recursos humanos, visão e estratégia – ou será mais um país a navegar à vista num oceano de promessas incumpridas.”