A ERP Portugal é uma entidade gestora de resíduos, dedicada à recolha, separação e tratamento de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos (REEE), e resíduos de baterias (RB). É ainda um aliado importante em projetos inovadores de reciclagem de materiais, como é o caso do LIFE 4 F-Gases, devido à posição relevante no mercado europeu.
A diretora-geral da ERP Portugal, Rosa Monforte, explica a aposta na recuperação dos gases fluorados existentes em equipamentos de refrigeração e ares condicionados no âmbito da estratégia de economia circular da empresa.
A ERP Portugal é um dos parceiros deste projeto europeu. Como surgiu a oportunidade de participar?
A ERP Portugal foi convidada a participar neste projeto depois de colaborar como consultora técnica numa anterior iniciativa, INTERREG, que identificou e estudou uma nova tecnologia com o acrónimo KET4F-Gas. Neste caso do LIFE 4 F-Gases, o projeto visa o desenvolvimento e implementação de um piloto em ambiente industrial para a reciclagem e reutilização de gases fluorados.
Qual o papel da ERP Portugal neste projeto?
Neste projeto LIFE, com o acrónimo LIFE 4 F-Gases, a ERP Portugal tem o papel fundamental de contribuir para uma análise alargada do mercado europeu e do potencial desta categoria de equipamentos em termos de replicabilidade em unidades de reciclagem. A ERP Portugal também está a realizar a comunicação e divulgação do projeto LIFE, em resultado da sua presença e relevância no mercado europeu.
Como se concretiza essa presença dominante?
Esta posição decorre da inserção numa plataforma de gestão de resíduos, presente em 14 países europeus e noutros mercados. Queremos liderar a implementação de uma economia circular, na qual a reintegração de materiais reciclados no processo de fabrico de novos equipamentos é a principal aposta.
Na visão da ERP Portugal, quais os benefícios do projeto LIFE 4 F-Gases para o setor?
A ERP Portugal tem constatado inúmeros benefícios no desenvolvimento e implementação de projetos inovadores, nos quais são aplicadas tecnologias recentes que permitem a reciclagem e reutilização de novos materiais e componentes. No caso concreto dos gases fluorados, que são um problema para o ambiente por contribuírem significativamente para o aquecimento global e as alterações climáticas, esta nova tecnologia permite não só atenuar o seu desempenho como reutilizá-los em novos equipamentos. Todos os projetos que promovam a inovação e a circularidade de materiais são fundamentais para garantir um futuro mais sustentável e a ERP Portugal está sempre disponível para prestar apoio.
Como será feita a implementação do projeto?
Neste momento, já existe um projeto piloto em funcionamento num reciclador português, que é parceiro neste projeto. Trata-se do HAMSYS – Hybrid Adsorption and Membrane Systems –, que combina uma tecnologia híbrida, concebida para recuperar seletivamente e reutilizar gases fluorados individuais a partir de misturas de refrigerantes comerciais empobrecidas. Este projeto tem vários desafios, nomeadamente despertar o interesse de outras unidades de tratamento de gases fluorados para a utilização desta tecnologia, assim como da indústria de produção, manutenção e reparação de equipamentos com estes gases, porque são reutilizáveis. Outro desafio é a replicabilidade noutros países.
Na qualidade de entidade gestora, quais os desafios no setor dos equipamentos de refrigeração e ar condicionado em Portugal?
A indústria de reciclagem conta com agentes que cumprem os mais elevados padrões de qualidade, garantindo o correto tratamento e reciclagem de resíduos. O problema encontra-se a montante, porque é preciso que os equipamentos elétricos e eletrónicos cheguem ao destino e completos, sem a remoção dos principais componentes, porque a qualidade da reciclagem depende da integridade desses artigos. Outro tema é a própria indústria, que tem de estar disponível para integrar matérias-primas secundárias, tanto no fabrico como na manutenção e reparação dos seus equipamentos.
O que acontece a esses equipamentos?
Na gestão desses resíduos o grande desafio é o desvio para mercados informais, onde são vandalizados e removidos os componentes com elevado valor económico, impossibilitando a correta descontaminação (remoção obrigatória de substâncias perigosas, entre as quais os gases) e reciclagem.
O que falta fazer para impedir a vandalização dos equipamentos?
Se é verdade que falta fiscalização e atuação penalizadora dos infratores por parte das autoridades competentes, também é verdade que todos os cidadãos têm um papel a desempenhar no sistema. Devemos assumir um comportamento responsável quando descartamos os nossos resíduos, colocando- os nos locais próprios ou solicitando a recolha pelas entidades competentes. Colocá-los na via pública ou junto aos ecopontos não é solução. Além de garantir a operacionalização de todo o sistema, a entidade gestora procura sensibilizar o consumidor e as empresas para o conhecimento e cumprimentos das suas obrigações, porque só assim aumentamos os quantitativos de recolha e reciclagem e melhorarmos o nosso desempenho ambiental.