Presidente do CFP: "Não é certo que a inflação esteja já controlada"
A presidente do Conselho das Finanças Públicas revela dúvidas sobre se a inflação já está controlada, acreditando que subsistem desafios, e apesar de considerar que o investimento tem sido sacrificado, defende que deve existir reflexão sobre a priorização da despesa.
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"Creio que existem desafios, não dou por garantido o controlo já da inflação. Há vários fatores que podem levar a que a situação volte a agonizar-se e não é certo que a inflação esteja já controlada", disse Nazaré da Costa Cabral, em entrevista à agência Lusa.
A responsável do Conselho das Finanças Públicas (CFP) acredita que o controlo da inflação é o grande desafio macroeconómico. "Sabemos que a inflação é sempre um mal do ponto de vista económico que acarreta as perdas, nomeadamente para as franjas da população que têm rendimentos mais baixos e, portanto, é evidente que essa tónica tem que estar sempre presente", salienta.
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Nazaré da Costa Cabral admite que "há aqueles que perdem mais e aqueles que perdem menos, nomeadamente todos aqueles que têm rendimentos regulares e que porventura não vejam esses rendimentos atualizados em conformidade com a inflação", mas "também há quem acabe por ter algum ganho, nem que seja momentâneo".
"Aliás, o próprio Estado terá sido, porventura, no ano passado, o grande ganhador com a inflação pelas consequências que isso teve na própria cobrança da receita fiscal", considera.
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Questionada sobre o investimento público em áreas como saúde e educação, a presidente do CFP sublinha que "os ganhos em termos de consolidação orçamental nos últimos anos também se deveram a opções que levaram a que o investimento acabasse por ser sacrificado".
"Muitas vezes" o investimento executado fica abaixo do previsto no Orçamento, aponta, dando nota de "isso gera problemas em vários setores, não só por força da despesa de capital, mas também por outro tipo de despesa que muitos entendem que deveria ser reforçada, e esses setores sofrem os efeitos desse mesmo desinvestimento". "E vemos as conflitualidades, as tensões sociais que existem hoje em dia, e isso parece-me inegável", disse.
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Presidente do CFP vê economia a crescer cerca de 3% este ano
A presidente do Conselho das Finanças Públicas está mais otimista sobre o crescimento do PIB este ano, prevendo cerca de 3%, avisa que o desempenho em 2024 estará muito dependente dos parceiros europeus e defende a diversificação da economia.
Nazaré da Costa Cabral recorda o comportamento favorável da economia portuguesa no primeiro trimestre do ano, com um crescimento de 1,6% em cadeia, admitindo que o Conselho das Finanças Públicas está a fazer a revisão do seu cenário macroeconómico para a totalidade do ano.
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No entanto, considera que no segundo e terceiro trimestres haverá uma desaceleração da taxa de variação em cadeia para cerca da metade do valor verificado no início do ano.
Ainda assim, acredita que "a menos que o último trimestre do ano seja muito negativo", a taxa de crescimento deste ano "se aproximará dos 3%", o que a concretizar-se se situa bastante acima dos 1,2% previstos pelo CFP em março e dos 1,8% previstos pelo Governo no Programa de Estabilidade, entregue em abril.
A justificar o desempenho acima das expectativas elenca três fatores: as exportações, sobretudo de serviços, o investimento e o consumo privado.
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Para o próximo ano, considera que "as incógnitas são muitas". "O último trimestre do ano é um trimestre problemático", justificando com a incerteza sobre a situação internacional, nomeadamente a dos parceiros europeus de Portugal e dos quais mais depende.
A influenciar o crescimento económico de 2024 estará também "o investimento, nomeadamente o investimento público, induzido pela continuação da aplicação das verbas do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência]", prevê.
Além das perspetivas para o curto prazo, Nazaré da Costa Cabral olha para o modelo de crescimento económico, que, defende, deverá passar pela aposta em setores de valor acrescentado. "Creio que é muito importante que a economia portuguesa se diversifique mais e melhor para certos elementos de produção que permitam de facto acrescentar mais valor", disse.
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