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Sócrates responsabiliza Passos Coelho pela "desgraça" da PT

"Toda a aplicação de excedentes de tesouraria no BES começou em 2012, no Governo de Passos Coelho", disse Sócrates.

José Sócrates responsabiliza Passos Coelho pela situação da PT
José Sócrates responsabiliza Passos Coelho pela situação da PT Rodrigo Antunes / Lusa
08 de Julho de 2025 às 13:43

José Sócrates rejeitou esta terça-feira ter favorecido os interesses acionistas do BES na antiga PT, argumentando que foi o seu Governo que pôs fim ao monopólio da empresa e o de Passos Coelho que levou "à desgraça" da antiga telefónica.

O antigo primeiro-ministro, que começou hoje a ser ouvido no julgamento da Operação Marquês, acusou o Ministério Público (MP) de ter mentido, e "com consciência de que mentiu", ao sustentar a teoria de que terá favorecido os interesses do ex-presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, na antiga telefónica nacional, a Portugal Telecom (PT).

Apresentando à juíza Susana Seca "os grandes números" sobre a gestão e atividade da PT nos anos do seu Governo e nos que se seguiram, Sócrates procurou demonstrar que foi durante o seu mandato que se colocou fim ao monopólio da empresa, reduzindo a quota de mercado da PT e permitindo a entrada de outros operadores no mercado, mas também pelas pesadas coimas aplicadas à PT pela Autoridade da Concorrência.

"Se isto é estar ao lado dos interesses dos acionistas da PT não sei o que dizer, porque isto é tão absurdo... O meu Governo - em minha defesa - foi aquele que mais fez para que a PT deixasse de ter o monopólio, portanto é absolutamente falso que o meu Governo ou eu me tenha entendido com qualquer acionista da PT para valorizar a PT", disse Sócrates.

Foi também suportando-se em números que Sócrates atribuiu ao executivo de Pedro Passos Coelho, que lhe sucedeu na liderança do Governo do país, a responsabilidade pela queda da PT, afirmando mesmo que com o seu Governo isso nunca teria acontecido.

Segundo José Sócrates, durante o seu mandato os excedentes de tesouraria da PT eram aplicados essencialmente em depósitos a prazo, mas numa proporção pouco superior a 30%, percentagens que superaram os 90% entre 2012 e 2014, os primeiros anos do Governo social-democrata de Passos Coelho, período em que os excedentes de tesouraria começaram a ser aplicados também em títulos de dívida, nomeadamente da Rioforte, subsidiária do BES.

"Toda a aplicação de excedentes de tesouraria no BES começou em 2012, no Governo de Passos Coelho", disse Sócrates.

Questionado pela juíza sobre a influência do Governo na decisão de como aplicar os excedentes de tesouraria, Sócrates disse que a decisão seria da responsabilidade da administração da empresa, "mas a vigilância do Governo era muito importante".

O antigo primeiro-ministro disse que o seu Governo poderia ter melhores condições para exercer essa vigilância, através da 'golden share' (posição acionista que garante direitos especiais de voto) que detinha na PT, mas que o Governo de Passos Coelho poderia tê-lo feito através da posição da Caixa Geral de Depósitos (CGD) na Telefónica, que acabaria por deixar de ser acionista.

"A desgraça da PT deu-se com a colaboração ativa do Governo de Pedro Passos Coelho. Esta acusação da PT serviu para contar uma mentira política", acusou Sócrates, em referência à tese do MP.

Sócrates rejeitou ter sido responsabilidade do seu executivo a queda da PT, atribuindo-a ao seu sucessor: "[O Governo seguinte foi], não direi cúmplice, mas assistiu passivamente à desgraça da PT".

"No meu governo não havia esta pouca vergonha de ter 90% de investimento no BES", disse.

Mesmo antes da interrupção da sessão da manhã, Sócrates deu por encerrada a sua defesa no que à acusação relacionada com a PT diz respeito: "'I rest my case' [encerro o meu caso] na acusação da PT".

No regresso dos trabalhos, José Sócrates tocou ainda no assunto da alienação da participação da PT na Vivo, em que o Governo se opôs à saída da operadora do mercado brasileiro. Neste ponto, o antigo primeiro-ministro recusou qualquer acusação do MP relativa a uma alegada influência de Ricardo Salgado.

"O MP acha que o doutor Ricardo Salgado me pediu para votar contra a venda da Vivo, para usar a 'golden share' contra a venda da Vivo", adiantou José Sócrates, considerando que esta acusação é "amalucada".

O antigo primeiro-ministro quis ainda deixar mais críticas ao MP, dizendo que "é a primeira vez na história que isto acontece - um Governo acusado de fingir um discurso público que manteve meses a fio e tendo uma intenção secreta que consistia em querer mesmo vender a Vivo".

Já no final da sessão da manhã, a defesa de José Sócrates pediu que fossem ouvidas as declarações de Fernando Teixeira dos Santos, antigo ministro das Finanças, durante a fase de instrução, mas o pedido não foi aceite pelo tribunal, tendo a oposição do MP.

Como justificação, o ex-primeiro-ministro explicou que, nessas declarações, o ex-ministro "afirma que o Dr. Ricardo Salgado ligou, nessa manhã da assembleia geral, para lhe dizer que era favorável à venda da Vivo e para o Governo não usar a 'golden share'.

Onze anos após a detenção de José Sócrates no aeroporto de Lisboa, arrancou na passada quinta-feira o julgamento da Operação Marquês, que leva a tribunal o ex-primeiro-ministro e mais 20 arguidos e conta com mais de 650 testemunhas.

Estão em causa 117 crimes, incluindo corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal, pelos quais serão julgados os 21 arguidos neste processo. Para já, estão marcadas 53 sessões que se estendem até ao final deste ano, devendo no futuro ser feita a marcação das seguintes e, durante este julgamento serão ouvidas 225 testemunhas chamadas pelo Ministério Público e cerca de 20 chamadas pela defesa de cada um dos 21 arguidos.

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