México quer aumentar para 50% tarifas sobre carros chineses para alinhar-se com os EUA
O México quer impor uma tarifa de 50% sobre automóveis importados da China, um aumento expressivo em relação aos atuais 15 a 20%, numa medida que surge sob forte pressão dos Estados Unidos e que procura também proteger a indústria nacional.
A decisão, anunciada pelo governo de Claudia Sheinbaum, está inserida num projeto de lei que prevê aumentos tarifários sobre cerca de 1.400 produtos de países sem acordo comercial com o México, mas, segundo o Financial Times, os carros chineses são os mais afetados. O país latino-americano é atualmente o maior comprador mundial de automóveis fabricados na China, à frente dos Emirados Árabes Unidos e da Rússia, de acordo com dados da consultora Automobility.
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Segundo a Reuters, o governo mexicano justifica a medida no quadro do “Plano México”, um programa que visa fortalecer a produção interna, reduzir a dependência de importações e proteger empregos num setor estratégico. O ministro da Economia, Marcelo Ebrard, defendeu que, sem algum nível de proteção, seria “quase impossível competir” face ao peso crescente das exportações chinesas.
A estratégia, contudo, não esconde a influência direta de Washington: a administração norte-americana tem pressionado a presidência mexicana a travar o que considera ser uma “porta traseira” para produtos chineses entrarem no mercado norte-americano sem pagar as tarifas impostas por Donald Trump. O Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), que garante acesso privilegiado das exportações mexicanas ao mercado dos EUA, será revisto no próximo ano, o que aumenta ainda mais a sensibilidade deste tema.
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De acordo com o Financial Times, a tarifa de 50% corresponde ao limite máximo permitido pelas regras da Organização Mundial do Comércio, sublinhando a prioridade atribuída às preocupações norte-americanas. O ex-vice-ministro da Economia, Juan Carlos Baker, considerou tratar-se de “um salto enorme” face às tarifas atuais e um sinal de que a política comercial mexicana pode estar a deixar de privilegiar insumos (elementos que entram na produção de bens ou serviços) mais baratos para os fabricantes locais.
Embora a medida tenha como objetivo imediato agradar a Washington e fortalecer a indústria mexicana, os especialistas alertam para potenciais custos internos. Gabriela Siller, economista-chefe do Banco Base, citada pelo FT, advertiu que o aumento das tarifas poderá resultar em preços mais elevados e pressões inflacionistas. A Reuters acrescenta que, além do setor automóvel, produtos como aço, têxteis, calçado, eletrónica e brinquedos também serão afetados, ainda que em menor escala.
A embaixada chinesa no México não reagiu de imediato à decisão, mas Pequim já havia criticado anteriormente iniciativas semelhantes, classificando-as como resultado de “coerção externa”. Apesar de manter um alinhamento com os Estados Unidos, Claudia Sheinbaum tem procurado não romper totalmente com a China, tendo chegado a reunir-se com Xi Jinping à margem do G20 no Rio de Janeiro no ano passado.
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A proposta segue agora para o Congresso mexicano, onde o partido no poder detém maioria tanto na Câmara como no Senado, o que aumenta a probabilidade de aprovação. Para já, a decisão reforça a ideia de que o México está a tentar equilibrar a necessidade de preservar a sua vantagem competitiva no mercado norte-americano com a gestão de relações comerciais complexas num contexto global cada vez mais tenso.
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