Vitória dos democratas em "semana de luta política" nos EUA pode ditar fim do "shutdown"
Dura há 35 dias e é já o mais longo da história dos Estados Unidos, mas poderá acabar se o desfecho eleitoral desta semana favorecer os democratas. O famoso "shutdown" - a paralisação dos serviços públicos federais devido à falta de acordo no Congresso para o orçamento do país no ano fiscal 2026 - vai começar agora a afetar os mais necessitados, mas pode também terminar, à boleia das várias eleições disputadas esta semana no país. É o que explica Alexandre Martins, especialista em política norte-americana, em entrevista ao programa do Negócios no canal NOW.
"Esta semana é muito interessante em termos desta luta política - sabemos que [o "shutdown"] tem impactos económicos mas é uma questão política do Congresso dos EUA e da administração Trump. Esta semana temos várias eleições, que vão começar hoje, a mais importante é para presidente da câmara de Nova Iorque. Há também para governadores na Virgínia e Nova Jérsia, depois há um referendo na Califórnia, e depois há várias eleições espalhadas por 30 estados", explica o jornalista.
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Tudo indica que os democratas irão vencer estas eleições - tendo em conta as sondagens e o facto de se tratarem de estados tradicionalmente democratas. "Mas a dimensão dessas vitórias é importante. Porque o que acontece no Partido Democrata é uma luta entre uma ala que continua a puxar mais para o centro, a dizer que é aí que se ganham as eleições, e há uma nova geração de políticos mais progressistas, mais à esquerda, que se assumem como socialistas democráticos, que está a tentar dar mais energia à sua base eleitoral, e é assim que se consegue chamar pessoas para ir às urnas para votar", descreve, apontando para o exemplo de Zohran Mamdani, candidato a "mayor" de Nova Iorque.
O perfl que sair vitorioso destas votações vai também influenciar o tipo de candidatos democratas às eleições intercalares de novembro. A este cenário junta-se ainda uma decisão do Supremo Tribunal sobre se Trump impôs tarifas internacionais ilegalmente - os argumentos começam a ser ouvidos na quarta-feira. "Pode haver aqui uma mudança na situação do Partido Republicano, que terá um bocado de ir ao encontro das políticas exigidas pelo Partido Democrático até nesta questão do shutdown", explica Alexandre Martins.
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A extensão desta paralisação distingue-a de outras no passado pelo facto de estar prestes a chegar aos mais necessitados. O Governo conseguiu evitar deixar os militares sem salário, contando com 130 milhões de dólares oferecidos por um milionário apoiante de Trump, mas os beneficiários de apoios sociais não terão tanta sorte. "Como se trata de um 'shutdown' que já tem mais de um mês, começam agora a sentir-se os principais efeitos para as pessoas mais necessitadas. Até agora, há centenas de milhares de pessoas que ou ficaram em casa sem receber vencimento ou estão a trabalhar sem receber - as que são designadas para assegurar serviços fundamentais -, mas há também 41, 42 milhões de pessoas pobres que dependem de um programa especial de assistência chamado SNAP, em que o pagamento de novembro está em causa", conta o jornalista.
Será usado um fundo de garantia para fazer estes pagamentos, mas só cobre metade do mês de novembro. "Estamos a falar de cerca de 9 mil milhões de dólares que são necessários para pagar a toda esta gente que precisa desta ajuda para comer e que só vai receber metade, e mesmo assim vai demorar se calhar algumas semanas porque é preciso mudar o sistema informático para fazer o pagamento com um valor diferente. Portanto, é uma complicação", descreve.
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