Augusto Santos Silva não se vai candidatar à Presidência da República
O socialista não vai ser candidato a Belém por sentir que a sua candidatura seria divisiva e não agregadora e apela a uma candidatura vinda da sociedade civil.
Augusto Santos Silva não se vai candidatar à Presidência da República, revelou o próprio em entrevista à RTP esta quarta-feira.
"Não serei candidato", começou por afirmar.
Na passada sexta-feira, um dia depois de António Vitorino ter revelado que não seria candidato a Belém, o antigo Presidente da Assembleia da República anunciou, através do Facebook que "as candidaturas até agora formalmente apresentadas não esgotam nem o espaço político nem as propostas e perfis que devem estar representados nas eleições presidenciais do próximo mês de janeiro". E deixava para quarta-feira um anúncio.
Esta quarta-feira afirmou que as três candidaturas que já estão em cima da mesa (Luís Marques Mendes, Henrique Gouveia e Melo e António José Seguro) "não cumprem as condições para que um vasto campo da política seja representado". Santos Silva disse ainda que apesar de ter recebido muitos apoios sentiu que "não tem a capacidade agregadora" para vencer as eleições e que a sua andidatura "não seria suficiente abrangente" e que o melhor é uma candidatura da sociedade civil.
"Apesar dos muitos apoios de pessoas muito valiosas e importantes para mim que recebi, dos incentivos que recebi e que muito agradeço, do fundo do coração, cheguei à conclusão de que a minha candidatura não seria suficientemente abrangente para ser suficientemente forte", referiu.
Segundo o antigo presidente do parlamento, "a melhor candidatura possível é a candidatura de uma personalidade independente, oriunda da sociedade civil, que possa colocar em cima da mesa" os temas é preciso discutir na campanha presidencial.
"A função do Presidente como moderador, árbitro e para o equilíbrio dos poderes, sem ficarmos pelas generalidades. A função do Presidente enquanto órgão máximo de representação externa do país, o que obriga a pensar bem, para além dos chavões, o posicionamento de Portugal na Europa e no mundo. E, sobretudo, a função do Presidente de garante da Constituição, isto é, da defesa do Estado de Direito e da Democracia, hoje tão ameaçada por esse vírus de ódio que anda a lastrar pelo nosso tecido social, infelizmente", enumerou.
Santos Silva alegou que, para que essa candidatura independente exista, "é necessária uma condição", que era que abandonasse "a equação de possibilidades".
"Eu abro espaço para a apresentação de uma candidatura forte, agregadora e independente, retirando a minha disponibilidade e espero que, nos próximos dias, possa surgir uma candidatura que esse assim seja mais abrangente, mais forte, mais agregadora do que a minha seria", apontou.
Para o socialista, é preciso uma "nova candidatura" porque as que estão no "terreno não bastam", nenhuma delas.
"É, por isso, necessária uma candidatura forte, agregadora, independente, que, evidentemente, se eu avançasse, eu teria prejudicado. Em política, o que é necessário, é sempre possível", enfatizou.
Santos Silva assegurou que não se rende a "esta ideia que parece instalada" de que, caso se faça "uma sucessão quase monótona no mesmo tom de generalidades" como tem sido até agora, está feita a eleição presidencial.
"Esta eleição presidencial é um momento muito importante para que os milhões de portuguesas e portugueses que estão preocupados com esse vírus da intolerância da insegurança, do preconceito e até do ódio que está a entrar pela nossa sociedade sub-repticiamente e que já tem expressão política em alguns setores políticos, é um momento muito importante para que esse movimento de sobressalto se faça porque é responsabilidade primeira do presidente", disse.
A semana passada, Augusto Santos Silva afirmou que a decisão de António Vitorino de não se apresentar às eleições presidenciais o tinha obrigado a "uma nova reflexão" sobre a sua eventual candidatura.
Augusto Ernesto Santos Silva nasceu em 20 de agosto de 1956, no Porto. É licenciado em História pela Faculdade de Letras do Porto, doutorado em Sociologia pelo ISCTE e professor catedrático na Faculdade de Economia da Universidade do Porto e investigador do Instituto de Sociologia da mesma universidade.
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