Hitachi DS: "Decisões de investimento são diferentes quando se olha para Portugal e Espanha"
A diretora-geral em Portugal e Espanha da Hitachi Digital Services diz que "as decisões de investimento são diferentes quando se olha para os dois países" que, apesar de vizinhos, "têm realidades muito distintas". Se, por um lado, "Portugal perde a guerra com Espanha se estiver a competir por uma fábrica de raiz, por exemplo", dada, desde logo, "a dimensão do mercado", por outro, "ganha no plano da burocracia", considera Margarida Marques que tem também a responsabilidade
de desenvolvimento de mercado na Europa.
Há quase duas décadas ao serviço do conglomerado japonês, a gestora fala da experiência própria - e recente - aos comandos da Hitachi Digital Services que nasce, como entidade jurídica, a 1 de abril de 2024, como "spin-off" da Hitachi Vantara, com a abertura em simultâneo de uma sociedade em Portugal e outra em Espanha. "Vivi na primeira pessoa o quão mais desburocratizado, simplificado e digital o processo é cá. Tem sido feito um esforço gigantesco nas últimas décadas em modernizar a nossa administração pública, nomeadamente, agilizando processos como o da criação de empresas. E devo dizer que acho que a esse nível ganhamos a Espanha".
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Ainda assim, "a burocracia pesa" e "a fiscalidade nem sempre ajuda", reconhece, saudando, no entanto, "medidas significativas de apoio ao investimento externo e às ações de sensibilização para atrair investimento japonês para Portugal por parte da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP)".
A Hitachi Digital Services foi criada após, uma movimentação a nível global, no sentido de separar a parte da infraestrutura dos serviços e do desenvolvimento de soluções digitais, surgindo como um "spin-off" da Hitachi Vantara. Portugal é um dos três países onde a empresa tem presença física na Europa, a par com Espanha e Reino Unido. Com escritório em Lisboa, emprega aproximadamente 250 trabalhadores, altamente qualificados, dos quais "30% vêm de fora".
À semelhança de outras empresas, "a maior dificuldade é encontrar e reter recursos", assinala Margarida Marques, apontando também para os "elevados custos sobre os salários quando comparados com outros países".
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Em Portugal a Hitachi Digital Services funciona "principalmente como um centro de desenvolvimento e de engenharia para clientes internacionais". "É mais visto como um centro de excelência. Não se pretende que seja gigante, mas que seja muito bom e muito especializado".
Margarida Marques dá um exemplo prático de um projeto, que guardou no coração, com a inglesa OneThird, que resultou numa solução pioneira para combater o desperdício alimentar de alimentos frescos, apresentada publicamente no ano passado: "Eles tinham um espetrómetro e queriam perceber que outros usos lhe poderiam dar. Tínhamos um centro de experimentação digital para esse cliente, ou seja, uma equipa dedicada. Uma possibilidade era utilizá-lo para medir o teor de açúcar e de água na fruta. Fizemos tudo, desde a conceção inicial às provas de conceito, ao desenvolvimento de um sistema informático e de uma plataforma digital de suporte que permitisse o interface com o aparelho e possibilitasse guardar e analisar os dados e depois disponibilizados numa app até ao lançamento ao mercado. Eles hoje em dia estão mais do que lançados".
Clientes portugueses não são muitos. "Em Portugal apostamos sempre que são projetos com uma taxa de inovação muito elevada, porque é onde somos mais competitivos e onde podemos aportar mais valor. Trazemos uma bagagem de conhecimento da indústria que nenhuma outra consultora tem, porque não fabricam comboios ou carros, por exemplo, pelo que temos e temos muito fácil acesso a quem, de facto, percebe as particularidades de cada uma dessas áreas de negócio".
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E, assim, a Hitachi DS em Portugal "tem muitos projetos internacionais, com equipas mistas": Tentamos alavancar o que cada localização tem de melhorar para cada necessidade em Portugal, quer seja língua, tipo de 'skills' disponíveis ou proximidade cultural ou até para otimizar diferenças horárias. Fazemos um 'mix' dos recursos consoante as necessidades específicas do cliente. Podemos ter, por exemplo, clientes nos EUA têm um projeto a ser desenvolvido no Vietname e querem ter no meio Portugal a fazer a ponte", explica.
Margarida Marques esteve à conversa com o Negócios a propósito da Festa do Japão, que teve a sua 12.ª edição a 28 de junho, coorganizada pela Câmara do Comércio e Indústria Luso-Japonesa (CCILJ), da qual é vice-presidente. "A Câmara do Comércio já existe em Portugal desde os anos 1970 e foi passando por várias fases de crescimento e de decrescimento também quando houve alguma saída de empresas japonesas de Portugal, muito também por concentração dos centros de decisão em Espanha, mas a situação alterou-se, notando-se algum crescimento, muito por via das energias renováveis, da sustentabilidade e serviços tecnológicos", contextualiza.
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"O tecido empresarial japonês não é muito grande em Portugal, conta com cerca de 100- 120 empresas, mas para o tamanho do nosso país é significativo e o que se denota é uma tendência positiva, com o crescimento da notoriedade de Portugal e do interesse em investir aqui", realça.
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