A Tether, empresa emissora da “stablecoin” com maior valor de mercado da atualidade, está a preparar uma operação financeira de grande escala que poderá transformar-se numa das maiores captações de investimento de sempre no setor das criptomoedas. O negócio, ainda em fase inicial, pode avaliar a empresa em cerca de 500 mil milhões de dólares (cerca de 425 mil milhões de euros ao câmbio atual), colocando-a entre as empresas não cotadas mais valiosas do planeta, ao lado de nomes como SpaceX, de Elon Musk, e da OpenAI, liderada por Sam Altman.

De acordo com a Bloomberg, a Tether está em conversações com investidores para levantar entre 15 e 20 mil milhões de dólares, correspondentes a cerca de 3% do capital, através de uma colocação privada. O processo está a ser assessorado pelo banco Cantor Fitzgerald e deverá envolver apenas a emissão de novas ações, sem que os atuais investidores alienem as participações.

Fontes próximas do processo, citadas pela Bloomberg, alertaram que os valores referidos representam metas de topo e que as condições do negócio podem ainda mudar, dado que as negociações decorrem ainda numa fase muito preliminar. Ainda assim, se a avaliação se confirmar, a Tether passaria a rivalizar em avaliação com as maiores empresas globais não cotadas.

Pouco depois da notícia, o CEO Paolo Ardoino confirmou os planos de captação de investimento numa publicação na rede social X, afirmando que a empresa está a “avaliar uma captação junto de um grupo selecionado de investidores de alto perfil”. Ardoino acrescentou que os recursos levantados serviriam para “maximizar a escala” da estratégia da Tether em todas as suas frentes, incluindo “stablecoins”, distribuição, inteligência artificial, comércio de “commodities”, energia, comunicações e media, destacou a CNBC.

A Tether é responsável pela USDT, uma criptomoeda indexada ao dólar norte-americano, pertencendo por isso à categoria das stablecoins, e que alcançou recentemente uma capitalização de mercado de cerca de 173 mil milhões de dólares, de acordo com dados citados pela Reuters. O seu principal concorrente, a Circle, detém o USDC, atualmente avaliado em cerca de 74 mil milhões de dólares.

De acordo com a Bloomberg, a Tether tem obtido lucros recorde ao aplicar as suas reservas em ativos líquidos como Treasuries norte-americanos, tendo reportado 4,9 mil milhões de dólares de lucro no segundo trimestre. Ardoino chegou a afirmar que a empresa opera com uma margem de 99%, ainda que esses números não estejam sujeitos às mesmas regras de transparência aplicadas a empresas cotadas em bolsa.

A empresa tem vindo a reforçar a sua presença nos Estados Unidos, após anos de ausência devido a atritos com os reguladores. Em 2021, a Tether pagou 41 milhões de dólares numa multa para resolver acusações de que teria prestado informações incorretas sobre as suas reservas. Agora, procura beneficiar da política pró-cripto da administração de Donald Trump.

Segundo a Reuters, em agosto a empresa contratou Bo Hines, antigo responsável por políticas de criptoativos na Casa Branca, como conselheiro estratégico. Mais recentemente, anunciou a criação de uma nova stablecoin regulada nos EUA, a USAT, direcionada a empresas e instituições.

Fontes citadas pela Bloomberg indicaram que os potenciais investidores já tiveram acesso a um espaço com informações confidenciais (data room) nas últimas semanas e esperam que o acordo possa ser concluído até ao final deste ano.