A região do Oeste é a casa por excelência da Pera Rocha, fruto que encontra naquelas terras condições ímpares para crescer e ganhar o sabor que tão bem o caracteriza. A maior parte das 248 mil toneladas de Pera Rocha colhidas no ano passado em Portugal saíram precisamente do Oeste, única região do país certificada para a produção desta fruta. Mais de três quintos seguiram para exportação e ajudaram a levar os sabores de Portugal além-fronteiras, numa economia que gerou uma faturação de 200 milhões de euros, 120 milhões só em exportações.
O grupo Mercadona tem sido um dos impulsionadores desta internacionalização. No ano passado, a cadeia de supermercados, que já tem 35 lojas em Portugal, comprou 2,4 mil toneladas de Pera Rocha a produtores portugueses e 70% foram comercializados nos supermercados em Espanha.
Há vários anos que a marca integrou a Pera Rocha na secção de frescos das suas lojas. Como explica Pedro Barraco, diretor da Cadeia Agroalimentar Mercadona em Portugal, começou por ser testada a preferência dos clientes para o produto, num pequeno grupo de lojas. Os bons resultados foram dando escala à experiência e hoje é possível comprar Pera Rocha nos mais de 1.600 supermercados que a Mercadona tem em Espanha, sendo que "era um fruto pouco conhecido e que hoje continua a crescer em termos de vendas", sublinha Pedro Barraco.
Um ano de menos quantidade e muita qualidadeNos pomares, a campanha deste ano está concluída e a colheita deixou aos produtores um sentimento agridoce. As condições meteorológicas atípicas do último ano reduziram a quantidade e o tamanho da fruta, mas acabaram por influenciar em muito a qualidade da pera. Isso mesmo atesta um dos parâmetros mais conhecidos nessa avaliação, que é o grau de brix, ou grau de doçura da fruta, que este ano está muito acima do obtido nos anos anteriores.
A expectativa em relação à reação do cliente é elevada e a Mercadona também a tem, inclusive no que se refere à exportação. Pedro Barraco revela que no ano passado a marca vendia nos supermercados em Espanha cerca de oito toneladas de Pera Rocha por dia, um número que este ano estima ultrapassar, já considerando uma maior procura.
Para abastecer todas as lojas da Península Ibérica de Pera Rocha, a Mercadona trabalha com cinco fornecedores nacionais. A Obirocha – Cooperativa de Fruticultores da Região de Óbidos é um deles e espelha as práticas que a esmagadora maioria do setor já adotou, como garante Domingos dos Santos, presidente da Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha: produção certificada e alinhada com as melhores práticas de segurança alimentar. "A produção da Pera Rocha segue os padrões de segurança alimentar mais exigentes do mundo, desde logo porque é produzida no espaço da União Europeia, com regras exigentes nesta matéria, e porque a grande maioria dos produtores estão certificados."
Na cooperativa de produtores da Obirocha, "a produção é 100% certificada em Global GAP (agricultura segura e sustentável) e em Prodi (produção integrada)", como explica Nelson Ventura. "Isto muda tudo na forma de produzir e devia ser levado mais a sério, porque é uma garantia de segurança para o consumidor", sublinha o responsável da cooperativa.
Nos campos, um dos reflexos deste compromisso com práticas de produção mais sustentáveis está na quantidade de químicos de tratamento utilizados, que foi drasticamente reduzida graças à introdução de processos que agem sobre a praga (atraindo os insetos para repositórios ou quebrando ciclos de reprodução, por exemplo) e não sobre as plantas.
Levar a voz do cliente ao pomarA Obirocha reúne 12 produtores responsáveis por 160 hectares de pomar de Pera Rocha e outros 32 hectares dedicados à produção de maçãs, instalados num raio de 50 km ao redor da central fruteira, localizada perto de Óbidos. Cerca de 75% da produção segue para exportação, como acontece com toda a Pera Rocha vendida à Mercadona.
A relação tem seis anos, que têm servido para afinar o match entre oferta e procura. A cadeia de supermercados define os produtos que tem nas lojas e as características que devem ter, a partir do feedback de uma pool de clientes, regularmente ouvida nas lojas ou mesmo em casa, por especialistas de produto. No caso da pera, como explica Pedro Barraco, "perguntamos ao cliente que características quer ver na pera, definimos um perfil, desde calibre, brix, aspeto, e dizemos ao fornecedor aquilo que queremos".
Para que o produto que chega à loja alinhe com o perfil definido, há um trabalho de parceria com os fornecedores que começa meses antes da colheita e que passa por validar se as condições de produção podem assegurar os resultados pretendidos. "No campo pedimos ao fornecedor para melhorar a qualidade da produção e este apresenta propostas para, através de práticas agronómicas, poder ir ao encontro daquilo que os clientes mostraram querer", explica Pedro Barraco.
Na Obirocha, esses ajustes também têm sido feitos. Em relação ao ponto ótimo de colheita da fruta – que a Mercadona prefere levar aos seus supermercados pronta a consumir – ou ao nível de doçura da fruta, por exemplo. Em relação a este último, a cooperativa avaliou as parcelas que podiam responder melhor aos parâmetros de sabor requisitados e a fruta dessas parcelas é a que hoje fica disponível para a Mercadona.
"Quando a fruta daquela parcela chega à central, quem recebe vai confirmar se o requisito está a ser cumprido. Se mantiver os valores colhidos em campo, vai para um espaço identificado e fica à disposição do cliente Mercadona", explica Nelson Ventura.
O cumprimento dos critérios de qualidade e segurança alimentar da Pera Rocha vai sendo validado nos diferentes pontos do processo. Os últimos testes de qualidade são feitos já na central fruteira, para reconfirmar que a fruta cumpre todos os parâmetros legais, é segura e tem a qualidade pretendida. Aí a fruta é também pesada, calibrada, embalada e armazenada a frio.
A evolução tecnológica tem tido o seu impacto no aperfeiçoamento destes processos, mesmo numa atividade em que a maior parte do trabalho – da poda à colheita, passando pelo embalamento – continua a ser manual. A tecnologia é importante para garantir a rastreabilidade da produção, ajudar a identificar problemas e definir soluções rapidamente, e no caso da Obirocha é total. Permite seguir cada pera da parcela em que é colhida à caixa na qual é exibida no supermercado.
A evolução da tecnologia também tem influenciado os processos de conservação da fruta, "que se faz reduzindo a temperatura para cerca de 0,5º, porque o frio retarda a maturação", como explica Domingos dos Santos. "Baixando o oxigénio e aumentando o CO2, as peras são levadas a hibernar. Esse equilíbrio é feito nas câmaras frigoríficas de modo que o produto não oxide, nem entre em fermentação" e a evolução da tecnologia tem permitido afiná-lo, para que seja possível comer peras quase todo o ano. "Uma pera comercializada em dezembro tem tanta qualidade como uma pera comercializada hoje", assegura Domingos dos Santos.
Fruta Fresca todos os dias
A Mercadona vai fechar o ano com 39 lojas em Portugal, que já são fornecidas por mais de 900 produtores nacionais. Nos frescos, a logística é fácil de explicar, mas exigente de concretizar. Frutos e legumes são carregados diariamente nos fornecedores durante a manhã, para no mesmo dia chegarem à central de distribuição da empresa. À noite, são encaminhados para cada loja, para que no dia seguinte possam estar expostos em cada supermercado. Os fornecedores da cadeia de supermercados são selecionados por uma equipa de compras com 300 pessoas, sendo que cada produto tem um especialista dedicado. Entre fronteiras passam vários sabores ibéricos. De Portugal para Espanha, além da Pera Rocha, a Mercadona leva maçãs, peixe, produtos de padaria e pastelaria ou frutos secos.
Antes de chegar à mesa
Os pomares de Pera Rocha começam a ser preparados em novembro com a poda, quando as árvores entram em repouso vegetativo. Na primavera, a floração inicia um processo que, por norma, termina cerca de 120 dias depois, com a colheita em agosto. Critérios como o nível de dureza vão determinar o ponto ótimo de colheita de um fruto que se desenvolve na região Oeste como em nenhuma outra zona do país, ou do mundo. Os dias quentes e as noites húmidas de verão da região são os ingredientes de ouro para finalizar o crescimento da Pera Rocha e dar-lhe as características únicas de cor, textura e sabor. Amarelo ou verde-claro quando maduro, este fruto de origem nacional tem nas pequenas manchas castanhas da pelagem a sua característica mais distintiva. A estas manchas chama-se carepa. Varia de ano para ano, em função das condições meteorológicas, e marca a zona de acumulação de açúcares da fruta. Uma pelagem mais acastanhada é por isso sempre um bom indício de sabor!
Sabia que?
A árvore de Pera Rocha foi identificada pela primeira vez em 1836, no pomar de uma quinta na região de Sintra. Pedro António Rocha era o dono da propriedade e foi a partir daquela pereira que o cultivo desta variedade, reconhecida como tal 90 anos mais tarde, se expandiu. O Sr. Rocha acabou por dar nome à Pera Rocha.
300 associados...
... tem a Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha, que representam 95% da produção nacional, uma atividade que dá emprego a mais de 100 mil pessoas e cujo produto vai na maioria para exportação (64% em 2021).